Votos de um excelente 2049
No actual ciclo político, que agora entra no seu crepúsculo, foram valorizadas as ideias de rebeldia, de mescla e de extravagância. No próximo ciclo, teremos sobretudo tradição, identidade e comunidade. A globalização recuará, pois deixa de ser necessária. Os países atrasados darão saltos gigantescos (e terão problemas por isso) e haverá menor consumo desnecessário de recursos. As pessoas vão provavelmente combater os comportamentos desobedientes, rejeitar a miscelânea, vão torcer o nariz perante pessoas obcecadas com a ostentação da sua riqueza e o que isso implica na destruição do ambiente. Estas mudanças de sociedade ocorrem num mundo pós-digital, que incorporou a linguagem binária em tudo, mas que ainda não sofreu em pleno o impacto da segunda grande vaga das novas tecnologias, que trazem sobretudo a inteligência artificial e a engenharia genética. A combinação das duas é o nosso futuro, que completa uma nova civilização, da qual temos por enquanto apenas vislumbres. Imagine-se uma pequena comunidade de pessoas saudáveis (com longas vidas), onde professores robóticos têm o conhecimento que hoje é exclusivo de universidades de elite; juízes, investigadores de polícia ou administradores públicos (máquinas inteligentes) que não podem ser comprados ou ameaçados por interesses especiais ou pela delinquência; modelos de cirurgiões e chefes de cozinha capazes das maiores proezas nas suas áreas, algo que hoje só encontramos em grandes cidades. As elites deixarão de o ser, vivendo como os outros cidadãos, e a excelência ficará ao alcance da mais pequena, insignificante comunidade, entretanto tornada auto-suficiente. Sim, é possível que nos próximos 30 anos se produza esta revolução: as pessoas comuns terão imenso tempo livre e qualidade de vida, acedendo à melhor instrução possível. Estas ambições, hoje exclusivas de uma fina camada de gente, dos ricos que frequentaram as melhores escolas e têm os melhores hospitais, estarão ao alcance do zé-ninguém da aldeia. As cidades vão diminuir de tamanho e vamos regressar às cidades médias, às vilas, aos campos.