Voltar ao metro
Não guio. Como sempre estive convicta de que um dos principais focos de contágio da Covid é nos transportes públicos, defendi-me durante bastante tempo com um esquema de boleias que me resolveu o problema. Mas a dependência cansa e às tantas entendi que já era tempo de regressar à normalidade, até porque tenho um horário flexível, que me permite evitar as horas de ponta.
Quando voltei ao metro, a minha curiosidade concentrou-se no comportamento dos utentes. E constatei mais uma vez que somos um povo obediente e ordeiro. A maioria, quando há espaço que chegue, preocupa-se com o afastamento e usa máscara. Mas claro que há excepções. Em poucas semanas vi gente ao molho, sem necessidade. Magotes a concentrarem-se escusadamente junto às portas, muito antes de o metro entrar nas estações, pessoas sem máscara por estarem a beber, ou a comer, ou porque sim. Tanto que se fala na importância do distanciamento social e muitos, sem pensarem duas vezes, sentam-se nos bancos que ficam costas com costas, de modo a quase tocarem na cabeça uns dos outros.
Nunca me apercebi tanto como agora de que há imensa gente que tem o vício de ocupar o tempo que gasta nas deslocações a falar ao telefone. Numa só carruagem é comum ver várias pessoas nesse trai-lai-lai e facilmente se percebe, porque muitas falam alto, que não se trata de telefonemas inadiáveis.
Não é preciso ser especialista em epidemiologia para perceber que o risco de contágio aumenta com este género de comportamentos, tão fáceis de corrigir. Tanto tempo que se tem gasto em televisão a entrevistar especialistas, tanto que nem os mais pacientes já os conseguem ouvir, e ninguém se lembrou de encomendar uma campanha, feita de forma simples e divertida, que chame a atenção para a importância dos detalhes na prevenção do contágio?
Ontem não pude evitar um risinho amarelo quando entro numa estação e oiço em fundo a voz de uma funcionária avisar que "a linha verde está com perturbações". Hoje tive a certeza que a velha rotina se tinha instalado na minha vida quando ouvi ao chegar ao metro, a voz de uma funcionária a pedir "desculpa pelo incómodo causado", pois "o tempo de espera na linha azul" podia ser "superior ao normal".
E claro, escadas rolantes avariadas também existem com fartura. Há coisas que nem com a pandemia mudam...