Viver as escolhas que fazemos
Li hoje o enésimo post sobre aquilo que as pessoas, ao chegarem ao fim das suas vidas, lamentavam. Em quase todos os casos se fala em lamentar o que não se fez e não aquilo que se fez. Lamentamos não ter passado mais tempo com a família, não ter aceite aquela oportunidade do outro emprego, não ter feito uma certa viagem, etc.
Confesso que ainda me falta algum tempo para poder ser considerado como estando "no final da minha vida", mas este raciocínio, como descrito acima, parece-me conter uma falácia. É normal que lamentemos aquilo que não fizemos precisamente porque não o fizemos. Envolve um desconhecido que podemos glamorizar e imaginar como perfeito. Aquilo que fizemos é conhecido, dissecado e esquecido, fora um ou outro elemento mais memorável. O que não fizemos pode ser construído como queremos.
Infelizmente, quando este tipo de posts (ou estudos) surgem, nunca há ninguém a fazer a mais simples das perguntas: porquê? Porque razão lamenta não ter feito viagem X quando fez viagens A, B e C. Porque razão lamenta não ter aceite posição A em vez de B? Fiz ocasionalmente esse exercício. A resposta é invariavelmente dada no condicional: «poderia ter sido...», «se calhar teria...», «quem sabe se não teria...». Não há uma certeza absoluta sobre o melhor desfecho dessa escolha. A única excepção é o lamento de não ter passado mais tempo com família.
Pessoalmente opto por outra forma de pensar ou viver: aceitar e perguntar a mim mesmo o que posso retirar daquilo que fiz, de que maneira aprendi, cresci. As escolhas definem-nos, não só pelo que demonstram sobre nós quando as fazemos mas também pela forma como nos influenciarão no futuro. Aceitá-las, mais que lamentar tê-las feito, parece-me melhor filosofia do que esperar pelos últimos anos e reimaginar uma história pessoal contrafactual. Especialmente quando a factual pode e deve ser tão interessante como a outra.