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Delito de Opinião

Viva Figo! (18 anos depois)

jpt, 12.12.22

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Eu blogo há 19 anos (já nem mania é, será mesmo defeito). Em 2004 deixei este postal "Viva Figo" a propósito da campanha contra os "velhos e acabados" jogadores da selecção durante o Europeu feito em Portugal. Será excêntrico partilhar no FB um texto tão antigo mas a semelhança com o que se passou agora é patente - na altura era Figo o grande alvo (ainda veio a fazer o extraordinário mundial de 2006). Também ele era acusado de ser "rico" e "mercenário" ("pesetero"), "imoral" (infiel aos clubes), auto-centrado... e velho.
 
Tal como agora os impropérios vinham das catacumbas digitais onde vegetam os opinadores anónimos, de clubismo ferino e vida desesperada. E também, mas com argumentos mais palavrosos, dos praticantes do sociologês moralistóide - no fundo apenas uma deriva do esquerdalhismo blasé, tão típico da pequena "lisboa".
 
 
Mas para além da semelhança do então acontecido com o que decorreu agora com o CR7 (até quase incrível, a mostrar o imobilismo cultural em que vamos), lembro este breve texto porque ele me serviu para perceber algo do meu país. Na época eu vivia há há bastantes anos em Moçambique, quase só blogava sobre aquele país e, de facto, já desconhecia o nosso ambiente nacional (acima de tudo lisboeta). A ele fui "regressando" via blogs, na verdadeira febre blogal que aconteceu desde 2003: os novos nomes opinadores que apareciam, tensões que eu desconhecia, ideias que iam brotando (era o início do BE, frenético na "rede", e a incubadora da IL, entre tantas outras coisas), novos escritores que esgaravatavam, velhas retóricas que resistiam (ainda não se usava "resiliência"), etc. - há poucos anos saiu um livro sobre a "blogosfera portuguesa", fraco mas com alguns dados... E nessa febre as pessoas liam muito os blogs (o meu ma-schamba chegou a ter médias diárias de 1200/1300 visitantes e era um blog pouco conhecido), e os autores interagiam imenso.
 
Ora blogava eu há escassos meses - e mais sobre as andanças em Moçambique, repito - e certo dia vejo que um tipo do BE, jornalista do DN (e que uma década depois, quando regressei a Portugal, evoluira para "investigador" do prestigiado ICS) me afixara como um dos 10 bloguistas de direita, emparalhendo-me a blogs "neonazis" e "neofascistas", assim mesmo titulados... Fiquei estupefacto, irado e, confesso, incomodado, até imaginando alguém a telefonar para onde eu leccionava: "então, vocês têm aí um professor tuga que é nazi?" - entretanto o energúmeno apareceu a justificar-se e ficou muito ofendido quando eu lhe explicitei a minha total crença na comercialização dos favores sexuais da sua mãe...
 
Passados poucos meses escrevi este breve "Viva Figo!", irritado com os disparates futeboleiros que ia lendo. E apareceu um outro tipo, este do PS - sempre publicando loas aos dirigentes do seu partido, publicitando os seus (dele) pergaminhos de oposição ao "Estado Novo", e as suas dadivosas acções na instalação da "democracia", veemente militância digital que viria a prosseguir, integrando também aqueles blogs colectivos de propaganda do PS de Sócrates. Ora acontece que o sacaninha não gostava do Figo... E como tal escreveu, publicamente claro, que eu deveria ser despedido, que devido a este texto não tinha competências intelectuais e morais para leccionar. Paradigma da democracia PS, facção ex-MES (naquele caso).
 
Estendi-me em memórias. Mas para deixar isto aos que têm paciência para ler: não é só a mundividência raivosa (a "cultura") que se mantém, avessa ao sucesso de alguns. É este ambiente, o então proto-"cancel", que já existia e que através destes pequenos episódios fui apreendendo, o qual agora apenas adquiriu nome "americano", típico de uma aparente "esquerda". Que vigora em muito mais sítios, e mais importantes, do que nos blogs.
 
Enfim, deixo o texto (de 2004) - tem um palavrão no fim mas vem incluído numa frase popular que cito. Pois
 

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VIVA FIGO

Irritou-se Luís Figo com as críticas que a ele e a outros dos "mais velhos" são feitas. [artigo abaixo transcrito]

Não gosto da forma, mas concordo em absoluto com o que disse. Nem discuto se deve ou não ser titular (Deve!!!!). Mas irrita-me, enoja-me, essa gente cuja forma de amar os seus ídolos é esgravatar-lhe os pés gritando ser barro o que boa e sofrida carne é.

Mole mesquinha, frustrada. Onanista de alma. Que tanto gozam o sucesso dos seus como se comprazem no seu falhanço, este o bálsamo para a inveja que logo têm de qualquer vizinho que suba um bocadinho para lá da taberna do bairro.

Figo foi há anos para Barcelona. Juntou ao grande talento um grande trabalho. Alma ou raça, chamam a isso. Por lá assumiram o profissional como um deles, reconhecendo-o. Quando ele que era o melhor quis ser pago como os melhores negaram-se. Porque tinham determinado que "ele era um deles". Cumprindo o contrato foi embora, para onde pagam ao profissional como a um dos melhores, que o é. Mercenário, "pesetero" chamaram-lhe os antigos patrões.

Ele explicou, é um português, o seu clube é o Sporting, foi apenas profissional (como sempre o foi, e bem), chamar-lhe ali "traidor" é um contra-senso. Não só porque o futebol é negócio. Mas porque ele não traiu ninguém. Mudou de patrão. A fidelidade que lhe exigiam só em Lisboa o poderiam ter pedido. E ainda assim...

Qual a reacção do tuga de merda? Engrandece-se com estas declarações, num "assim sim"? Não, resmunga-lhe o êxito que ele próprio não tem na vida, a Mariazinha a infernizar-lhe a vida em casa, ou o Sr. Santos lá no emprego. Assume-se ele próprio catalão, chama-lhe pesetero, chama-lhe traidor. Porque todo o Figo lhe dá a alegria do triunfo de um dos seus e a tristeza, horrível, do espelho da sua mediocridade.

E agora dizem-no "prima-dona", "acabado". Mas não se lembram da estrela, milionária, carregada de triunfos, a rojar-se no chão lá na anarquia da Coreia, lesionado a correr atrás da bola como mais ninguém? O que mais queria ganhar, ele que tão mais tinha ganho do que todos os outros. "Prima-dona"?

Resmungam-lhe os patrícios a inveja que sempre tiveram a todos os campeões. Nem à Rosa Mota perdoavam, despejando diante do marido-treinador. A salvo dessa má-língua apenas o gigante Agostinho. Ainda que se rissem da bicicleta no portão da maison. Mas perdoavam porque ele nunca mais acabava, quarentão sem fraquejar, e depois morreu. E porque tão simples, tão simples, que o julgavam ainda como no princípio, ainda o simplório de brejenjas.

Que isto todos os que sobem acima do seu lugar têm defeito, a cada um como cada qual, tugazinho conservador, tugazinha invejoso, tugazinho "tudo como Deus manda", a ordem natural das coisas.

Viva Figo!!!

E espero, e exijo, que dentro de alguns anos, quando ele quiser, já mais velho, mais lento, mais cansado e magoado de todas as porradas, regresse ao Sporting para terminar a carreira. E que todos nem discutem, libertem logo o nº 7. Para ele. Porque o futebol é ele.

E que eu esteja lá com a Carolina. E com mais alguém se brotar. Para lhes mostrar que há gente. De talento e trabalho. Livre, por isso.

E nesses dias, lá na bola, lhe(s) ensinar o que há de mais precioso: o que desde que se vá em pé "Que se Foda a Taça!!"

Viva Figo!!

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Portugal joga amanhã contra a Espanha. Luís Figo pede mais respeito pelos "históricos", "Público", 19 Junho 2004 

Luís Figo pediu hoje respeito pelos jogadores mais antigos da selecção portuguesa, na véspera do jogo decisivo contra a Espanha, que Portugal precisa de vencer para chegar aos quartos-de-final do Euro 2004. "Não tenho razão de queixa de ninguém, pois cada um pode opinar sobre o que bem entender, mas não admito que pessoas de outras actividades não tenham respeito para comigo, pois eu também não opino sobre agricultura, pescas ou cinema", afirmou o jogador do Real Madrid. "Tento estar um pouco à margem, mas às vezes certas coisas fartam um pouco. Somos ser humanos e queremos algum respeito, eu e vários companheiros que estão há mais tempo na selecção", explicou Figo.

O médio português não estranhou as provocações que vieram de Espanha: "Não me surpreende que isto aconteça, pois é normal em jogos importantes, que podem decidir-se em pequenos pormenores. Estão a tentar desestabilizar e desconcentrar. Há coisas vindas de Espanha e outras de Portugal que tentam criar conflitos entre nós, só temos é de ser fortes", enfatizou o número sete da selecção, que conta 106 internacionalizações "AA". Do primeiro para o segundo jogo Scolari procedeu a quatro alterações no onze e Figo ficou como único sobrevivente da "geração de ouro" do futebol português, que conquistou dois títulos mundiais de juniores em 1989 e 1991. "Em termos tácticos e técnicos não entro, pois não vou comentar as opções do treinador. Estou aqui para jogar e mais nada do que isso", disse. 

Quanto à entrada de Deco para o lugar de Rui Costa, Figo considerou que o médio do FC Porto "é sempre uma mais-valia para qualquer equipa, como são todos os elementos que não puderam actuar frente à Rússia." Já quanto as palavras de Scolari, que utilizou termos como "guerra" e jogo de "vida ou morte" para qualificar o encontro de amanhã frente à Espanha, Figo afirmou que se lhes está a tentar dar a conotação errada: "É apenas uma forma de expressar o grande significado do jogo, nada mais do que isso". A finalizar, Luís Figo sossegou os jornalistas espanhóis quanto à arbitragem de Anders Frisk diz: "Não têm de recear nada, pois nós não temos tanta força como pensam. Em termos gerais somos sempre prejudicados."

 

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