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Delito de Opinião

Virgem (apesar da «geringonça»)

José António Abreu, 14.01.16

O deputado socialista (e, dizem alguns - eu tentarei evitar os insultos -, reputado economista) Paulo Trigo Pereira, co-autor do programa de estímulo ao consumo com que o PS se apresentou às eleições, escreveu um artigo para o Observador. Nele, após considerações de cariz político-filosófico, estranha a ânsia demonstrada por PCP e Bloco em repor a semana das 35 horas de trabalho na função pública. Pede contenção, alerta para as fragilidades da economia, faz questão de mencionar que sempre defendeu a «durabilidade» e a «estabilidade» das políticas. O termo mais adequado para descrever a minha reacção é - lamento - asco. Ou nojo. Ou náusea. Ou - tentemos alguma contenção; não quero mesmo tombar em insultos - repulsa. Este pessoal, equipado com cérebros putativamente brilhantes, surpreende-se afinal com o que qualquer humanóide provido de dois neurónios funcionais (e o segundo operando apenas como redundância) percebeu no momento em que António Costa abriu os braços (sim, «os braços»; a última coisa que desejo é insultar) a comunistas e bloquistas: estes não são prudentes nem se acham vinculados ao «programa do PS», sobre o qual estas alminhas ingénuas (trata-se de um termo carinhoso, não de um insulto) clamam haver-se fundado a «geringonça». Não perceberam, aliás, ainda outra coisa: António Costa estava inteiramente disponível para aceitar o que quer que fosse a troco da conquista do poder - e conserva idêntica disposição quando o objectivo é mantê-lo. Nada ingénuos (vêem? aqui não há insulto mas também não há carinho), comunistas, bloquistas e sindicalistas perceberam-no no primeiro instante. Repare-se no extraordinário momento de stand-up comedy protagonizado ontem por Ana Avoila, quando inquirida sobre o processo negocial em torno da tal questão das 35 horas: «O governo marcou a reunião para 28 e nós pedimos para ser 28 de manhã porque à tarde temos muito trabalho de preparação para a greve.» Que é como quem diz: «Vão-se fazer inserir um objecto rombo num tracto digestivo da vossa conveniência.» (Acredito que ela também não deseja insultar.) Avoila sabe ter a «geringonça» na mão e sabe ainda que qualquer homem (António Costa - e isto até enforma uma espécie de elogio - não será excepção) entra num particular estado de fragilidade quando alguém lhe agarra essa parte da anatomia. 

No fundo, é um bocadinho como se Trigo Pereira, tendo ignorado avisos e mantido relações sexuais sem protecção num bordel tailandês (preferindo, pode escolher Cuba ou a Venezuela, que na Coreia do Norte não devem existir), estranhasse ter apanhado um esquentamento. Ou como se, três meses após o primeiro acto sexual consumado (não daqueles à Bill Clinton), desejasse recuperar a virgindade. Lamento mas das duas, uma: se percebeu finalmente o sarilho que António Costa arranjou ao enfiar a «geringonça» pelo tracto digestivo dos portugueses, que salte fora e então - ainda que heterossexual, sou sensível a covinhas no queixo - terá direito a um módico de apreço; caso contrário, mais vale o silêncio. Para as mulheres existem operações mas, num homem, a virgindade é irrecuperável. Especialmente depois de ter sido perdida com uma «geringonça» disforme.

4 comentários

  • Claro que só vejo maldade nos outros. Bom, excepto quando estou na frente de um espelho. Mas não é muito frequente. Andaria melhor penteado se fosse.

    Quem são os maltratados que este governo está a ajudar? Os professores? Os médicos? Os funcionários públicos em geral? Os trabalhadores da Carris, dos STCP e dos metros? E você, também já os defendia em 2010, não já? Correu bem, não correu?
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    Anónimo 14.01.2016

    Uma coisa é certa e indesmentível quer queira ou não, estes estão a fazer aquilo que os outros não fizeram. Os outros tiraram tudo, até feriados como se a história, já não fizesse parte das nossas vidas, estes estão a repor tudo o que podem e a tratar os portugueses como seres humanos e não como objectos que para os outros, valiam menos que o dinheiro.
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    anonimíssimo 15.01.2016

    Mais um que anda a "comer muito queijo" ou pior... :)
    Suponho que, alguns, para aprenderem... só quando, se esgotarem as troikas para nos acudir. Aliás, isto de pensarem que há sempre uns tansos estrangeiros para emprestar a países que gastam mais do que produzem...
    Repetem, tipo papagaios, a treta dos 4 anos e esquecem-se que, quem esteve mais tempo a desgovernar o país foi o PS... agora com as companhias que arranjou, deve ser para rebentar com o resto...
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