Violência gratuita
A página 23 do Público de hoje não devia ter existido. Aquela página não devia ter passado para a tipografia. Saber que quase 700 pessoas foram enforcadas no Irão desde o início do ano já de si é uma notícia tristíssima, que não devia ter existido. Não porque existindo não tivesse de ser dada, ou porque devesse ser censurada. Nada disso. Mas porque é uma vergonha para a nossa espécie. É uma vergonha para as Nações Unidas e uma vergonha para a causa dos direitos humanos saber que ainda há tanta gente que é enforcada no século XXI. Lê-la ilustrada com uma fotografia colorida onde estão pendurados pelo pescoço outros seres como nós é ultrajante. A foto do Público é de uma violência inaudita e em nada contribui para melhorar a situação dos direitos humanos ou a informação dos leitores. E acontece no mesmo número do jornal em que se lembra o Prémio Mandela e se entrevista Jorge Sampaio. Eu sou leitor do Público e gosto de ler o Público. Só que a foto do Público que ilustra a notícia não devia ter sido publicada. A foto do Público é um mau serviço ao jornalismo e aos leitores. A foto humilha os próprios desgraçados. A violência existe, é lamentável. Não tem é que ser promovida. Já basta a simples notícia. O Público devia pedir desculpa aos seus leitores pela foto que publicou esta manhã. Aqui não será reproduzida.