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Delito de Opinião

Victor Lustig

José Meireles Graça, 06.09.22

Frei Anacleto Louçã, o conhecido comunista que pessoas que julgam que não são julgam que não é, explica aqui, indignado, a moscambilha das pensões. A mim convenceu-me: trata-se de uma revoltante vigarice na qual uma muito real redução do valor real das pensões, resultante de actualizações que ficam muito aquém da desvalorização operada pela inflação, é apresentada como um benefício. O artifício de fazer em Outubro próximo um adiantamento é coisa das Arábias: operar o acerto em conjunto com o aumento futuro de modo a que a base de cálculo para 2024 seja não o que seria normal em 2023 mas uma pensão inferior (a que resulta do abatimento do adiantamento).

Isto, à falta de melhor, pode ser descrito como marketing político: o eleitor fica grato pelo bodo inesperado em Outubro próximo, e na altura do acerto a nova pensão é de todo o modo nominalmente maior do que a actual, ainda que não cubra a inflação – é sempre a subir, que bom.

Os economistas de todas as declinações, com excepção dos avençados do PS, vão-se esganiçar a demonstrar que, sem adiantamento nenhum e aplicando a lei em vigor, as pensões resultariam maiores.

Sucede que há muito se sabe que há cada vez mais pensionistas para cada vez menos trabalhadores no activo, e portanto o valor real das pensões só pode diminuir, ou então o Estado ser chamado a tapar o buraco. O mesmo Estado que, demonstradamente incapaz de se reformar, só o pode fazer aumentando a dívida.

Da dívida, porém, o que não se sabe é até quando o BCE segura as pontas, e este já vai dando sinais que o whatever it takes de Draghi já viu melhores dias.

Resta portanto apenas uma dúvida: quando o pensionista constatar que, apesar dos aumentos, vive pior, vai achar que foi enganado ou que são os donos dos supermercados, as gasolineiras, os chineses da EDP, os patrões e tutti quanti, que se estão a encher?

De outro modo: vai chamar gatuno a Costa, como alegremente fazia com Passos Coelho, que tinha a suprema lata de chamar cortes aos cortes, ou engolir a cana, o anzol e o isco costianos?

Não sei. Tenho pelo nosso Primeiro o mesmo desprezo que guardo para trafulhas de todas as declinações, mas também a involuntária admiração que se guarda para os Victor Lustig eleitorais.

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