Viagem ao Egipto (15).
Continuando a descer o Nilo, chega-se de madrugada a Edfu, onde se encontra o templo dedicado a Hórus, o deus-falcão, que simboliza o poder da vingança. Efectivamente, de acordo com a religião egípcia, Osíris, o deus da vida e rei do Egipto, seria assassinado por seu irmão Seth, o deus do deserto, que lhe roubaria o trono, abandonando o seu corpo despedaçado no Nilo. Mas a sua mulher Ísis reconstituiria o corpo, conseguindo gerar postumamente um filho, Hórus. Este resolve terminar com o reinado maléfico de Seth, devolvendo a ordem ao Egipto e concretizando a ressurreição de Osíris. O mito simboliza a eterna luta do bem e do mal, sendo que o termo Seth está na origem da palavra Satã, que simboliza o diabo nas três grandes religiões. Para além disso, a luta do sobrinho contra o tio, para recuperar o trono roubado ao pai, está na base da obra imortal de Shakespeare, Hamlet.
Curiosamente, a imagem de Hórus, que era um deus bom, assustaria imenso os cristãos, que ocuparam este templo após o édito de Tessalónica, que proibiu os templos pagãos. Julgando que Hórus representava o diabo, os cristãos picavam a sua imagem, não sabendo que o verdadeiro diabo era Seth, depois Satã. Mais uma vez, verifica-se ser verdadeira a célebre capacidade do diabo de enganar as pessoas.
Por este templo andou Gulbenkian, sendo que as fotografias que aqui tirou serviram de modelo à estátua que está hoje na Fundação, na Praça de Espanha. Justifica-se por isso tirar uma fotografia semelhante para a posteridade.