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Delito de Opinião

Ver para crer,

jpt, 07.10.21

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qual São Tomé, foi o que pensei ao ouvir relato do Presidente Sousa em São Tomé. Pois logo após o empossamento presidencial de Carlos Vila Nova o nosso presidente cruzou a rua, despiu-se e foi ao banho. Totalmente insensível à dimensão simbólica do ritual político, que sedimenta legitimidades. Apoucando-o mas em terra estrangeira, e nunca em terra própria, pois não há notícia que tenha teatralizado - em molde de inversão ritual, essa sim de imenso significado político quando ocorre - a sequência das suas cerimónias de empossamento ou as dos governos que nomeou, ou na sequência dos seus discursos cíclicos (ou seja, rituais pois de incidência simbólica e política) aos tribunais e às forças armadas. 

E fá-lo apenas se essa terra estrangeira for uma antiga colónia africana portuguesa, onde decerto estas "diabruras" são recebidas com a complacência de quem vai mais ou menos acompanhando as idiossincrasias do presidente português. Os portugueses, na maioria eleitores do presidente Sousa e distraídos face aos seus parceiros africanos da CPLP, acham piada a estas coisas do "Marcelo". Ficariam, é certo, algo desconfortáveis se Sousa fizesse estas "partes gagas" no Brasil e nem imaginam que as fizesse em Atenas, Roma, Nova Iorque. Ou, ainda menos, à saída de um encontro com a rainha Isabel II ou com o Papa no Vaticano. E não achariam piada se um presidente angolano ou moçambicano viesse aqui a São Bento à tomada de posse do nosso presidente e depois saísse e fosse até ao Largo de Santos, trocasse de roupa no carro, e se sentasse a beber uns copos nas esplanadas, cercado de uma comitiva de jornalistas eufóricos. Ou, mesmo, se seguisse ao areal plantado no Cais das Colunas, ao Terreiro do Paço, ali vestisse o calção de banho, rodeado dos jornalistas e seus seguranças, e se fosse banhar.

Mas como é o "Marcelo", lá nas Áfricas, tudo tem piada. Os mais ignorantes julgam até que isto é bom, produtivo, para a melhoria das relações entre os países - não se vê na reportagem os "populares" locais a saudarem estas encenações? 

Isto é tão patético, tão "envergonhador"... E mostra bem o grau de preguiça de quem se debruça sobre as relações internacionais. Para além do estupor da imprensa, sempre sufragando estes rumos histriónicos. Vejo a notícia no Público, jornal que segue em frenesim "decolonial" (ou "póscolonial", ou lá como o quiserem chamar), tudo atropelando nesse rumo. Ora mesmo aí, nesse contexto "ideológico" da junção entre jornalistas e académicos de aparência "crítica", a reportagem de António Rodrigues vem com o interessante título "Assistência entusiasmada festeja mergulho de Marcelo no Golfo da Guiné". A alusão épica é evidente e - porque se trata do tal militante Público - só posso sorrir. Urge no jornal uma auto-crítica "decolonial"... E para quem me diga o contrário isto nem sequer é o mesmo do que a imprensa moçambicana noticiar um hipotético mergulho do presidente Nyusi no aprazível Algarve como "entusiasmo popular acolhe mergulho de Nyusi nas águas da Corrente do Golfo". É ainda mais estapafúrdio.

 

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