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Delito de Opinião

Vénias do Estado ao déspota cubano

Pedro Correia, 15.07.23

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«Desde o infantário até ao túmulo que nos vai calhar na rifa, escolheram tudo, sem nos perguntarem nunca nem de que doença gostaríamos de morrer.»

Leonardo Padura, Paisagem de Outono

 

Levaram-no ao Mosteiro dos Jerónimos, receberam-no com salamaleques na Assembleia da República como se fosse um estadista em vez de pau-mandado da família Castro, que tiraniza Cuba desde 1959. Marcelo Rebelo de Sousa, seu homólogo português, entoou loas ao «comandante Castro», como se estivesse na Festa do Avante! Participaram juntos numa conferência de imprensa, obviamente «sem direito a perguntas dos jornalistas»: essa modernice de ver jornalistas fazer perguntas ainda não chegou a Havana e acaba de ser replicada em Lisboa.

Miguel Días-Canel, um dos escassos aliados de Vladimir Putin na criminosa invasão soviética da Ucrânia, é recebido com todo o aparato oficial português como se fosse pessoa apresentável. Marcelo implora-lhe médicos, que funcionam como mercadoria de exportação do regime comunista de Havana enquanto o Estado lhes confisca quase 80% do salário no estrangeiro e os proíbe de viajarem com as famílias para ter a certeza de que não desertam.

Em vez de baixar a cerviz como anfitrião do déspota, o Presidente português devia pedir-lhe que abrisse o país e deixasse os cubanos licenciados em Medicina (com salário médio equivalente a 35 euros mensais) viajar livremente para onde lhes apetecesse em vez de viverem enclausurados na ilha-prisão.

Não me admirava que Marcelo agraciasse o ditador com a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Afinal já fez o mesmo à mulher de Lula da Silva, banalizando de tal maneira esta condecoração que hoje vale quase nada.

 

Enquanto as instituições democráticas portuguesas se inclinam em vénia a Díaz-Canel, 1047 presos políticos sufocam nas masmorras cubanas. Grande parte deles condenados a 30 anos de prisão por ousarem protestar pacificamente contra a tirania. Alguns com menos de 18 anos. Todos sofrem torturas. Como o artista Luis Otero Alcántara, o veterano opositor Félix Navarro, o activista pelos direitos humanos Armando Gómez de Armas e o líder da União Patriótica de Cuba, José Daniel Ferrer (incomunicável, numa cela solitária, desde 14 de Agosto de 2021).

Vítimas da mais velha ditadura do continente americano - um regime que espezinha os direitos fundamentais e escraviza o povo que prometeu libertar nos idos de cinquenta. Pobre iIha-cárcere hoje povoada por «pessoas indiferentes mesmo à vacuidade da morte, sem vontade de memória nem expectativas de futuro», como Leonardo Padura - um dos "exilados do interior" - tão bem a descreveu.

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