Venezuela trágica
Esta imagem está a correr mundo. A imagem de uma tragédia pessoal que simboliza a tragédia de um povo. E de um regime, o de Caracas, que apesar de ser o nono exportador mundial de petróleo continua a condenar os venezuelanos à pobreza endémica e aos maiores índices de criminalidade urbana do globo pela incompetente oligarquia "socialista" que pretende perpetuar o chavismo sem Hugo Chávez enquanto bens essenciais -- incluindo pão, leite, arroz, açúcar e até papel higiénico -- desaparecem durante semanas das prateleiras e a inflação galopa para níveis alucinantes.
Génesis Carmona tinha apenas 22 anos, frequentava o curso universitário de Gestão e em 2013 fora eleita Miss Turismo do estado de Carabobo, na Venezuela. Manifestava-se numa avenida da cidade de Valencia, junto à mãe e aos irmãos, contra o executivo de Nicolás Maduro quando foi alvejada com um tiro na cabeça. Outros oito manifestantes ficaram feridos, também a tiro.
Um amigo conduziu-a rapidamente numa motorizada a uma clínica da cidade, situada a 170 quilómetros da capital venezuelana. Mas nada havia a fazer: a jovem morreu horas mais tarde, sem recuperar a consciência. "Quantas tragédias como esta teremos de sofrer até que as coisas mudem?", diz um tio da estudante, citado pelo diário El Universal. Enquanto o escritor venezuelano Antonio López Ortega, em artigo hoje publicado no El País, condena sem reservas a "repressão da juventude venezuelana" levada à prática pelos herdeiros de Chávez.
Génesis foi assassinada por exercer um direito cívico. Assassinada por ter dito não a um regime que muitos dos seus compatriotas consideram iníquo. Assassinada por ter ousado reclamar contra o Governo num país onde a liberdade começa a ser um bem tão escasso como o pão.
Leitura complementar:
Estado de São Paulo - Morte de Miss em protesto contra Governo acentua divisão na Venezuela
Guardian - Venezuela sends troops to border region as violence escalates
El País - Aumenta la persecución política en Venezuela tras las protestas