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Delito de Opinião

Venezuela: repressão e silêncio

Pedro Correia, 07.07.17

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 Hordas de apoiantes de Maduro assaltando o Parlamento em Caracas

 

O regime proto-ditatorial de Nicolás Maduro, que tem espezinhado todas as liberdade cívicas na Venezuela e conduzido o país a extremos de indigência e miséria, foi ainda mais longe esta quarta-feira ao permitir que milícias paramilitares, armadas até aos dentes, invadissem o Parlamento de Caracas e agredissem selvaticamente diversos deputados da oposição, funcionários e vários jornalistas.

Foi mais um passo rumo à transformação total do "socialismo" venezuelano numa tirania pura e dura. Desde Abril, 90 manifestantes anti-Maduro foram assassinados pelas chamadas "força da ordem" só porque protestavam pacificamente na rua contra o regime. Há dois meses, a Amnistia Internacional alertava o mundo contra a "caça às bruxas" desencadeada em Caracas contra políticos da oposição, incluindo governadores e deputados. Enquanto os esbirros armados pelo regime reprimem a todo o momento o que resta da liberdade de manifestação num país que tem uma das taxas de  inflação mais elevadas do planeta e o segundo maior registo de homicídios per capita do hemisfério ocidental.

 

No seu relatório anual de 2016 sobre os atentados à liberdade de imprensa no mundo, a prestigiada organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) alertava: «Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro possui as suas próprias artimanhas para combater os media: aquisições realizadas por amigos seus (como nos casos do jornal El Universal e do canal Globovisión) seguidas de vagas de despedimentos, asfixia da imprensa pela supressão do acesso ao papel de impressão, o que já conduziu ao encerramento de 22 jornais, ou ainda uma lei que criminaliza todo o  conteúdo que possa "questionar a autoridade legítima constituída".»

Em apenas um ano, sem surpresa, a Venezuela baixou da 117.ª posição para o 139.º lugar - num total de 180 países - na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa dos RSF.

 

Espero sinceramente que o Sindicato dos Jornalistas, sempre tão atento às ameaças internacionais à liberdade de imprensa, se pronuncie - com idêntica celeridade à que teve no chamado "caso" Sebastião Pereira - sobre as mais recentes agressões aos profissionais da informação na Venezuela. Tal como fez a 3 de Julho, quando visou o Presidente norte-americano Donald Trump, e nesse mesmo dia ao insurgir-se contra as medidas censórias registadas em Hong Kong.

A minha expectativa é grande, embora não se fundamente em precedentes dignos de registo. Consultando o sítio do Sindicato dos Jornalistas, verifica-se que as mais recentes alusões à Venezuela remontam a 2010. Muito antes da chegada de Maduro à presidência do país, portanto.

Desde então, silêncio.

 

Mas vou esperar. Sentado.

5 comentários

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    Pedro Correia 07.07.2017

    Noventa cidadãos - jovens estudantes, na maioria - assassinados por polícias e paramilitares a soldo do Governo.
    Jornais silenciados, jornalistas perseguidos, opositores presos e torturados, deputados da oposição destituídos ilegalmente de funções, autarcas da oposição demitidos compulsivamente à margem da lei, escassez total de alimentos e medicamentos, homicídios em expansão numa escala brutal.
    Mais: domínio total do poder judicial pelo poder político, tentativa de destituição da procuradora-geral, que se tornou numa voz incómoda, e - cereja em cima do bolo - já em marcha um processo ilegal de modificação da Constituição do país.
    Tudo isto num país que tem as maiores reservas de petróleo do planeta e que, apesar disso, já se vê forçado a importar petróleo - algo há poucos anos inimaginável...
    http://veja.abril.com.br/economia/venezuela-quem-diria-agora-importa-petroleo-dos-eua/
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    Psicogata 07.07.2017

    Tive oportunidade de falar com um português que esteve lá a trabalho, já foi há dois anos, mas quando chegou vinha atónito, o que descreveu foi um cenário inconcebível.
    Se há mais de dois anos faltava tudo, especialmente medicamentos, só acessíveis a quem tinha muito dinheiro, imagino como estarão as coisas agora.
    É impossível viajar no país durante a noite, existem assaltos que mais parecem saídos de um filme, com armas pesadas, grupos organizados que não têm problemas em matar para roubar seja o que for.
    O país parece estar em estado de sítio.
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    Pedro Correia 07.07.2017

    Não me surpreende, Psicogata. Choca-me ver deputados e candidatos autárquicos em Portugal solidários com um regime corrupto e despótico, que não hesita em assassinar os seus cidadãos para se perpetuar e que tantos danos tem causado à grande comunidade portuguesa radicada na Venezuela.
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    Psicogata 07.07.2017

    Tenho conhecidos que entretanto abandonaram o país, mas é difícil sair de lá com dinheiro, muitos portugueses têm pequenos negócios e estão presos aos mesmos, sair significa perder tudo.
    Choca-me que não se faça nada, que se tape o sol com a peneira, a comunicação social é controlada, mas há sempre informação que nos vai chegando e as notícias são desoladoras.
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