Vencidos
1. Empresas de sondagens
Há cerca de quatro meses davam a vitória de Medina com toda a certeza e muitos pontos acima de Carlos Moedas. Desta vez chegaram a vaticinar a vitória do PSD. Foi o que se viu. No fim não se percebe se pretendiam dar resposta à campanha de alguns jornais e blogues na sua vontade de verem uma derrota de Costa e do PS a qualquer preço, ou se queriam apenas vender o direito à especulação. Admito que o efeito da sua acção haja sido contraproducente para muitos. O empate técnico vai na totalidade para elas. Isto é: tecnicamente empatadas na incompetência e no descalabro das previsões que efectuaram. Um desperdício em toda a linha.
(créditos: EPA/Mário Cruz)
2. Rui Rio e o PSD
Se Rui Rio falhou não falhou sozinho. O partido falhou ainda mais. Falhou quando o escolheu para o liderar, falhou quando voltou a apostar nele contra Rangel, falhou quando não foi capaz de perceber que Portugal não é o Porto. Rio chegou sempre atrasado às discussões que importavam, desvalorizou os sinais de estagnação, rodeou-se de gente sem chama, currículo ou provas, segurou o seu eleitorado a custo e sem conseguir alargá-lo na área de influência do partido. Viu muitos potenciais eleitores fugirem para o IL, para o Chega e até para o PS, não beneficiando do destrambelhamento da liderança do CDS-PP e do esvaziamento eleitoral deste partido. Se a persistência dá muitas vezes frutos, já a teimosia tende a afastá-los. Rui Rio terá desde ontem tempo suficiente para se dedicar ao humor e fazer companhia ao bichano Albino. Esperemos para ver no futuro próximo qual o senhor que se segue num partido que é uma máquina de triturar líderes.
(créditos: João Carlos Silva/Expresso)
3. CDS-PP
Francisco Rodrigues dos Santos conseguiu um resultado histórico: deixar um dos partidos fundadores da democracia fora do parlamento ao fim de 47 anos. Não foi o primeiro a quem isso sucedeu, é verdade, mas era previsível que tal poderia acontecer. A partir do momento em que se começou a assistir à deserção das figuras de proa e a debandada de alguns históricos militantes progrediu, era quase certo que o partido, ao entregar-se “ao Chicão”, entregava a alma ao Criador. Era uma questão de tempo até o suicídio se consumar. A imagem do líder não se coadunava com a de uma direita séria, preparada e responsável. De quase tudo o que é mau nos partidos ele conseguiu dar exemplos. Multiplicou-se em chavões e na repetição de banalidades, mostrou-se um líder mal preparado, presunçoso e ávido de poder. Associou a barretina de uma instituição histórica e com muitas tradições ao triste espectáculo que deu enquanto esteve em cena. Mostrou não passar de um “Chiquinho” a quem de nada valeu o apoio do histórico José Ribeiro e Castro. Os portugueses e o eleitorado do que foi o partido de Amaro da Costa não lhe perdoaram. Um partido não é uma ganadaria, nem um clube de forcados. Destruiu o que restava do CDS-PP. Pode agora dedicar-se à pesca. Ou a espectáculos de stand-up comedy.
(créditos: CNN)
4. Bloco de Esquerda
O resultado do BE marca o fim, sem honra nem glória, do “louçanismo”. Catarina Martins nunca conseguiu ser a líder que o partido precisava. Mais do que um erro de casting constantemente disfarçado pela suas qualidades dramatúrgicas e capacidade de criar cenários apocalípticos, ao estilo de Francisco Louçã, jamais se conseguiu desligar da figura deste e dos seus tiques. Trocou o interesse nacional pela conveniência partidária, convenceu-se de que o país precisava do Bloco, que podia obrigar António Costa e o PS a cederem, talvez por ouvir demasiadas vezes Pedro Nuno Santos a vociferar. Fica com o irrealismo político como a sua imagem de marca, antevendo-se uma penosa legislatura para os deputados do BE. O final da sua campanha foi deprimente, oferecendo-se para dar uma ajuda ao PS num futuro executivo. O país dispensou a sua ajuda. Se os seus militantes conseguirem tirar o partido do atoleiro em que caiu farão um milagre. Que lhes sirva de lição.
(créditos:António Cotrim/LUSA)
5. PCP e Verdes
Não foi por Jerónimo de Sousa, figura simpática, genuína e afável, que a CDU sai em fanicos desta peleja eleitoral. O imobilismo, o atavismo organizativo, a incapacidade de se renovar, a exaustão do discurso político, o precoce envelhecimento dos quadros mais jovens, a falta de massa crítica, o complexo ideológico e o medo de ficar atrás do Bloco de Esquerda condicionaram sempre o PCP e a sua direcção, levando-o a contribuir para a queda do anterior governo. Para os comunistas, a culpa nunca é deles, embora só de si se possam queixar. Perderam bastiões históricos do partido, viram os seus eleitores fugirem para o Chega em zonas de influência comunista, esqueceram-se de que o país já não vive em 1975 e que o papão da direita não assusta ninguém. O PCP caminha a passos acelerados para ser apenas mais um espaço de reflexão marginal para os seus paroquianos. Uma espécie de clube de bairro dedicado nas horas vagas dos seus militantes à organização de arruadas, de marchas folclóricas e à preparação da Festa do Avante. As feridas levarão muito tempo a sarar. O partido não voltará a ser o mesmo.
De caminho levarão os Verdes consigo. Uma perfeita inutilidade, um partido que é desde a fundação um anacronismo. Os portugueses podem finalmente ver-se livres de uma agremiação que durante anos e anos se manteve representada no parlamento sem nunca ir a votos. Uma aberração democrática que urge rever numa futura alteração à lei dos partidos. Os portugueses resolveram, finalmente, acabar com essa fraude que se arrastava de legislatura em legislatura à sombra do PCP.
(créditos: RR)
6. PAN, Livre e pequenos partidos
Cada um à sua medida também perdeu. Inês Sousa Real conseguiu ser eleita ao soar do gongo. Poderá começar a pensar em dedicar-se a outras actividades onde melhor possa defender as suas causas, algumas bastante meritórias. O que perdeu dificilmente recuperará em próximas eleições. Contribuiu para muito pouco na legislatura que findou, e para a que começa hoje contará ainda menos num cenário de maioria absoluta. O Livre manteve o deputado que elegera na anterior legislatura e que “perdeu” logo a seguir, prova de que Joacine não contou para nada, não fazia falta e cuja escolha foi um erro crasso. Os demais pequenos partidos, agora liderados pelo CDS-PP, podem voltar aos seus lugares. Acabou a hora do recreio.
(créditos: Rodrigo Antunes/LUSA)
7. Marcelo Rebelo de Sousa
O Presidente da República é um dos derrotados. Não basta ser simpático e disponível. Errou na leitura que fez da situação política ao pensar que com uma contenda eleitoral veria o seu papel reforçado. Convenceu-se de que poderia influenciar o rumo dos acontecimentos e deixar a sua marca. Não será mais o árbitro. Está-lhe reservado o papel de fiscal do Governo. Convirá que esteja atento à legislação que for sendo produzida, esperando-se dele que agora se acalme, que ajude à criação de um ambiente propício às reformas que todos exigem, mas também que se deixe de "selfies" e de ir à noite pagar contas ao Multibanco, mantendo-se vigilante e tranquilo, exercendo, se possível, a “magistratura de influência” de um seu antecessor. Sem ondas, se quiser ficar bem na foto. O país saberá agradecer-lhe.