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Delito de Opinião

Vasco Pulido Valente

José Meireles Graça, 21.02.20

Uma das coisas mais estúpidas que se dizem é aquela “os cemitérios estão cheios de gente insubstituível”.

São muito raros esses, os insubstituíveis, mas existem.

Vasco Pulido Valente era um deles e, podendo haver em cada geração mais do que um, não me lembro de mais ninguém.

Não mais quem diga muito com pouco; não mais quem veja no nevoeiro e na confusão do presente os ecos do passado que tornam inteligíveis os nossos dias e nos lembram a nossa condição inelutável de portugueses; não mais quem, para falar dos casos da semana, do mês, da década ou do regime, utilize uma forma superior de português de lei; e não mais quem, amado por uns e odiado por outros, fazia ver o óbvio, que só o era depois de ele o mostrar.

Não usava, para falar de pessoas importantes, a maior parte das quais conhecia pessoalmente, o dorso da colher; e era implacável com os tiques, as mazelas, as vaidades irritadas e irritantes do mundo oficial.

Adeus, Vasco. Nós, os que para descobrirmos a nossa opinião precisávamos de conhecer a tua porque, concordando ou discordando, o edifício lógico se erigia como por mágica diante dos nossos olhos, vamos ter de pensar sozinhos.

Não vamos pensar melhor.

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