Vale a pena ler (8)

«Ao começo do dia, tinha uma videoconferência internacional. Eu era o único português nos ecrãs. Antes de se entrar no assunto da conferência, a primeira pergunta vinda de outros mundos foi para expressar preocupação pelas notícias que estão a chegar, relativas ao Portugal da pandemia. Perguntaram-me se estava resguardado. E um participante disse-me que em Bruxelas muitos não entendem a razão que levou o primeiro-ministro português a insistir, nesta passada sexta-feira, numa reunião presencial, em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, com a presidente e vários comissários europeus. O PM sabia, já nessa altura, que o risco de contágio era elevadíssimo.»
Victor Ângelo, Vistas Largas
«Decidi antecipar o meu voto. (...) Foram filas intermináveis, mas acima de tudo a sensação de falta de organização tão necessária em um momento de pandemia como este. (...) Na mesa 1 ficaram despachados em 1 hora, na mesa 3 em 30 minutos e eu em 3 horas. Sim, leram bem: em 3 horas.»
«Tal como nas noites anteriores, nestas peregrinações solitárias a que já me habituei, cruzo-me com muito pouca gente, mesmo muito pouca. Quase todas essas pessoas trazem cães pela trela. Ora eu nem gato tenho, mas, se tivesse, numa interpretação extensiva da lei (como parece que está na moda incívica fazer, durante a pandemia), poderia passeá-lo? Creio que não. Pensando bem, não me lembro de ter visto alguém passear um gato, alguma vez, pelas noites de Lisboa.»
F. Seixas da Costa, Duas ou Três Coisas
«Escrever é um trabalho solitário. No limite, a escrita só gera amizades postumamente. Ironicamente, o escritor morto é uma criatura estupidamente sociável.»
Roberto Gamito, Fino Recorte

