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Delito de Opinião

Vale a pena fazer primárias?

Luís Menezes Leitão, 24.04.17

As primárias correspondem a um traço muito  característico da democracia americana, funcionando como ligação do eleitorado às candidaturas presidenciais. Tal possibilita que candidatos populistas e desalinhados possam triunfar. Foi o que permitiu a ascensão de Trump à presidência. É, no entanto, muito duvidoso que se ganhe alguma coisa em fazê-las no espaço europeu e especialmente em sistemas parlamentares, em que a ascensão à chefia do governo depende do parlamento. António Costa foi escolhido em primárias do PS como candidato a primeiro-ministro, mas só chegou a esse cargo porque criou uma geringonça que o sustenta, não lhe tendo as primárias assegurado qualquer benefício.

 

Em França, onde vigora um sistema presidencial, as primárias foram criadas como reacção ao surpreendente resultado de 2002, em que Jean-Marie Le Pen suplantou Lionel Jospin, passando à segunda volta. O PS francês chegou à conclusão que, se deixasse que continuassem a concorrer todos os candidatos folclóricos de todas as esquerdas possíveis e imaginárias, o resultado seria sempre ser ultrapassado pela Frente Nacional. Criou assim umas primárias para escolher o candidato presidencial de esquerda, e a direita passou a imitá-lo, escolhendo também em primárias o candidato da direita. Foi assim que Benoit Hamon e François Fillon foram desta vez escolhidos como candidatos da esquerda e da direita. Mas curiosamente nenhum passou à segunda volta.

 

A verdade é que ambos eram péssimos candidatos, o que demonstra o falhanço das primárias. Numa eleição interna aberta a simpatizantes, tende a ser escolhido o candidato com que os simpatizantes mais simpatizam e não aquele que tem maiores possibilidades de sucesso, o que só os militantes sabem avaliar. Por isso é que Macron, que não se sujeitou a quaisquer primárias, e Marine Le Pen, que é a líder do seu partido, passaram à segunda volta.

 

Esperemos que isto sirva de lição a quem anda a propor primárias. Os partidos têm que saber escolher candidatos que os levem ao poder e não candidatos do gosto dos simpatizantes, mas mal colocados para ganhar eleições. A simpatia não chega e o pragmatismo é essencial na escolha dos candidatos.

2 comentários

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    V. 24.04.2017

    O problema de Portugal é o amiguismo e as cunhas, por um lado, e a asfixia que o Estado faz à economia e a falta de iniciativa individual por causa do excesso de funcionalismo público para o qual se educaram infindáveis gerações diabolizando os empresários e os comerciantes. O resto parece-me perfeitamente irrelevante.
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