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Delito de Opinião

Vai ser o último a entender. Talvez.

Paulo Sousa, 20.06.25

Em 1994 a Rússia assinou o Memorando de Budapeste. Em troca da entrega do terceiro maior arsenal nuclear do mundo, a Ucrânia recebeu garantias de segurança.

Nesse mesmo ano, a Geórgia estabeleceu com Moscovo o Tratado de Amizade, Boa Vizinhança e Cooperação. Com a Arménia foi 1997. O documento mereceu o nome de Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua. Com a Síria dos Assad os acordos eram vários, alguns já do tempo da URSS. Todos eles asseguravam cooperação militar e política.

Já depois de ter invadido a Geórgia em 2008, onde ainda controla as regiões da Abcásia e da Ossétia do Sul, Putin formalizou, em 2015 e 2017, a presença da Força Aérea e da Marinha Russa na Síria com carácter de longo prazo.

Depois disso invadiu a Ucrânia e deixou a Arménia à sua sorte quando o Azerbeijão atacou o enclave de Nagorno-Karabakh.

A lista destes acordos de "cooperação" alarga-se a África. República Centro-africana, Sudão, Líbia, Mali e Burkina Faso. O Kremlin apoia uma facção, explora recursos locais e se o jogo virar, põe-se ao fresco.

Quando o regime sírio caiu, o melhor que Putin teve para oferecer ao seu ditador foi uma autorização de aterragem. Depois disso o carrasco de Damasco nunca mais apareceu. Se Assad ainda não foi defenestrado, deve fazer tudo para nunca ir além do rés do chão.

Mais recentemente, e já este ano no dia 17 de Janeiro, foi a vez do Irão. A tinta do tratado de parceria estratégica assinado entre a Rússia e o Irão (com uma validade de vinte anos) ainda mal deve ter secado. Esperando receber apoio para o seu programa nuclear, o Irão partilhou a tecnologia dos seus drones Shaed e até ajudou na construção de uma fábrica na Rússia. Quando os generais iranianos começaram a ser eliminados, Putin fez o que costuma. Nada. O Irão já não tem nada lhe para dar, apenas a incerteza que faz subir os preços do petróleo.

O currículo do actual Czar tem muitas mais traições que as constam neste pequeno resumo. A sua “confiabilidade” é internacionalmente reconhecida. Quando se assina qualquer coisa com ele, é quase uma garantia do exacto contrário. A minha maior surpresa continua a ser a convicção da excepcionalidade de Donald Trump. Se algum dia lá ele chegar, será o último dos humanos a entender que Putin só respeita a força.

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