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Delito de Opinião

Vacinas, cegueira e desorganização

João André, 16.03.21

Nestas discussões sobre vacinas acaba por se ver um nível de discussão que me confunde. Quando se fala da vacina contra o sarampo, poliomielite ou tosse convulsa, a questão dos (idiotas) anti-vacinas é apenas sobre "a vacina", não sobre a origem dela. Ninguém pergunta qual a empresa que a fornece. Aceitamos que foi aprovada e que oferecerá protecção directa ou indirecta (quando entendemos a diferença). No caso do COVID-19 discutimos sobre o tipo de vacina que receberemos. AstraZeneca, Pfizer, Moderna ou "a russa" ou "a chinesa". Não entendemos os princípios nem como funcionam, mas queremos ou não queremos só porque.

Claro que isto começa com os governantes que também não entendem nada disto e, apesar de serem instruídos por quem o entenda, acabam a dizer asneiras de tempos a tempos. Isto só resulta na população a acumular confusão. Se os políticos não entendem, como o conseguiremos nós? (não é irrazoável). Isto estende-se às negociações sobre a compra de vacinas. Os governantes parecem ter ouvido da AstraZeneca a frase «Temos capacidade para produzir e entregar X milhões de doses por mês» e aceitaram tal declaração como uma promessa. Pessoalmente entendo que terá sido esse o problema com as entregas da vacina na Europa: governantes que não entendem que ter "capacidade" não implica que essa seja atingida de forma regular. O meu carro poderá ter capacidade para atingir 200 km/h na autoestrada sem trânsito e com descidas, mas isso não significa que conduzirei de Lisboa ao Porto a essa velocidade média.

Claro que isto pode ser resolvido se existir uma administração pública com pessoas suficientes para ter especialistas nestas áreas ou, em alternativa, possam contratar consultores para estas áreas (desde que identifiquem tal necessidade). A Comissão Europeia terá muitos especialistas em cotas de peixe ou regulamento para queijos, mas provavelmente nunca terão tido uma única negociação para entrega de medicamentos.

Esta situação vem também demonstrar como este semi-confederalismo da UE não oferece nada. Nem a independência dos estados nem as sinergias dos federalismos. Os EUA têm uma administração federal repleta de especialistas em diversas áreas que trabalham nas suas competências independentemente do partido na Casa Branca ou que domina o Capitólio. A Europa tem especialistas em meia dúzia de áreas e falha nas outras. É uma área mais onde se aprender.

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