Os títulos do meio, comprei-os na Feira do Livro. Li-os com a pressa e o vagar que dispenso às obras dos meus autores de estimação. Com pressa, porque confiante no prazer da sua leitura fico com vontade de as tragar de uma vez. Com vagar porque ao mesmo tempo antecipo o vazio que se segue quando chego ao fim de um livro que me encanta. E então demoro-me, relendo passagens que me impressionaram pela elegância e inteligência da escrita. Sublinho-as, tento retê-las para mais tarde recordar. De Ian McEwan e Javier Marías, dois dos meus amores literários, não posso dizer que em nada são iguais, pois têm em comum a capacidade de descrever com minúcia a complexidade da natureza humana, através de personagens tão interessantes e bem desenhadas que acabo a meditar nelas como se fossem gente.
Dispus na mesa de cabeceira os livros por ordem de leitura, portanto antes destes dois autores li Svetlana Aleksiévitch. Nunca tinha lido nada dela. Ainda bem que ganhou o prémio Nobel em 2015, porque o mais provável era demorar muito mais tempo a descobri-la. "A Guerra não tem rosto de mulher" é o resultado de um trabalho de pesquisa jornalística extraordinário sobre mulheres que combateram durante a II Guerra Mundial. Através dos depoimentos recolhidos, a escritora bielorrussa mostra bem como é diferente a relação mental das mulheres com a guerra e também como foi ocultado e/ou desvalorizado durante décadas o seu papel na frente. Como se fosse um embaraço.
Agora estou a acabar de ler Olga Tokarczuk. Também é uma estreia para mim. Este "Outrora e outros tempos" foi o seu primeiro grande sucesso. Mal entrei nele, percebi porquê. A escrita dela é poderosa, original. Mergulha o leitor num universo paralelo, onde mistura fantasia com realidade, um ardil para chegar a verdades incómodas e profundas, que aborda numa linguagem muito simples e depurada, quase infantil, sempre com a história recente da Polónia como pano de fundo. Foi Nobel em 2019, com toda a justiça.