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Delito de Opinião

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 22.09.24

De vez em quando lá venho eu ao Restos de Colecção. No muito trabalho que tenho desenvolvido à volta da memória empresarial, este blogue tem-me sido útil. Verdadeira ferramenta de trabalho. Mas além destas pesquisas orientadas para um determinado tema, também faço incursões onde o único objectivo é deixar-me levar por memórias avulsas. E o que eu gosto de entrar nesta máquina do tempo! Esta semana recomendo-o, o que é uma forma modesta de agradecimento pelo muito que me tem dado.

Impotência e ódio

Teresa Ribeiro, 18.09.24

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Tenho consciência de que não posso fazer nada a não ser ver arder. Isso corrói cá dentro. Mistura uma enorme sensação de impotência com velhos rancores, pois assisto a mais do mesmo há décadas. Agora, com as alterações climáticas, os incêndios metem os de antigamente num chinelo. É tudo em bom, avassalador. E a minha mente, com requintes de masoquismo, começa a imaginar os detalhes. Os animais que morrem nesse inferno, os insectos, tão necessários ao nosso ecossistema. Quanto às vidas humanas perdidas ou destruídas nem há palavras.

Já me cansam as declarações de circunstância dos políticos. Todos os que ainda os ouvimos sabemos, com o saber da experiência feito, que para o ano, pelo Verão, repeti-las-ão de ar consternado para as câmaras das televisões. Houve reportagens  que vieram a público sobre os negócios que se alimentam dos incêndios florestais. Calculo que não é fácil mexer nesse vespeiro, mas ainda não vi nada de consistente a ser feito contra estas redes criminosas. Também não vi nada de consistente a ser feito, a nível nacional, quanto à prevenção. Consistente é apenas a ideia que tenho de que uma vez passada a "época dos fogos", vai continuar tudo na mesma.

Especial avarias

Teresa Ribeiro, 18.09.24

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Saber se determinado elevador nas nossas estações está ou não a funcionar deixou de ser uma incógnita! No nosso site já pode visualizar o #EstadodosElevadores que permite saber quais os elevadores das nossas estações que se encontram inoperacionais - anuncia o Metro na sua página de Facebook. Achei ternurenta esta preocupação de informar os utentes sobre o estado da inoperacionalidade do metro. Aguarda-se com impaciência o lançamento da mesma funcionalidade relativa a escadas rolantes.

Livros de cabeceira (6) - série II

Teresa Ribeiro, 31.08.24

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Os títulos do meio, comprei-os na Feira do Livro. Li-os com a pressa e o vagar que dispenso às obras dos meus autores de estimação. Com pressa, porque confiante no prazer da sua leitura fico com vontade de as tragar de uma vez. Com vagar porque ao mesmo tempo antecipo o vazio que se segue quando chego ao fim de um livro que me encanta. E então demoro-me, relendo passagens que me impressionaram pela elegância e inteligência da escrita. Sublinho-as, tento retê-las para mais tarde recordar. De Ian McEwan e Javier Marías, dois dos meus amores literários, não posso dizer que em nada são iguais, pois têm em comum a capacidade de descrever com minúcia a complexidade da natureza humana, através de personagens tão interessantes e bem desenhadas que acabo a meditar nelas como se fossem gente.

Dispus na mesa de cabeceira os livros por ordem de leitura, portanto antes destes dois autores li Svetlana Aleksiévitch. Nunca tinha lido nada dela. Ainda bem que ganhou o prémio Nobel em 2015, porque o mais provável era demorar muito mais tempo a descobri-la. "A Guerra não tem rosto de mulher" é o resultado de um trabalho de pesquisa jornalística extraordinário sobre mulheres que combateram durante a II Guerra Mundial. Através dos depoimentos recolhidos, a escritora bielorrussa mostra bem como é diferente a relação mental das mulheres com a guerra e também como foi ocultado e/ou desvalorizado durante décadas o seu papel na frente. Como se fosse um embaraço.

Agora estou a acabar de ler Olga Tokarczuk. Também é uma estreia para mim. Este "Outrora e outros tempos" foi o seu primeiro grande sucesso. Mal entrei nele, percebi porquê. A escrita dela é poderosa, original. Mergulha o leitor num universo paralelo, onde mistura fantasia com realidade, um ardil para chegar a verdades incómodas e profundas, que aborda numa linguagem muito simples e depurada, quase infantil, sempre com a história recente da Polónia como pano de fundo. Foi Nobel em 2019, com toda a justiça.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 30.06.24

Conversa connosco, o Luís Eme, mas sempre através de imagens e não me refiro só às fotos que ilustram cada post. A conversa dele é assim, muito cinematográfica, pelo tom coloquial que emprega e pelos episódios que vai vivendo e tão bem descreve. Se lhe apetece dois dedos de conversa, passe pelo Largo da Memória e deixe-se levar pelo olhar sempre atento, mas nada aborrecido do Luís. É a minha sugestão para blogue da semana.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 16.03.24

Em epígrafe, os membros deste fórum prometem: "Não desistiremos enquanto a nossa capital não for aquilo que pode ser: uma das cidades com melhor qualidade de vida do mundo." Não são palavras vãs. Ao longo dos anos, esta militância por Lisboa sente-se. Sempre atentos ao espaço público da cidade, eles vigiam, denunciam, cuidam. Sem agenda política. Num país em que a sociedade civil quase não tem expressão, iniciativas como esta devem ser saudadas. Por isso escolho o Fórum Cidadania Lx para blogue da semana. 

Por um triz

Teresa Ribeiro, 08.03.24

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As mensagens ainda não arrefeceram no meu telemóvel. Trocámos várias nos últimos tempos. Queria entrevistá-lo para um trabalho que ando a fazer, ele fugia-me. Marcámos e desmarcámos várias vezes. Desculpava-se, muito cortês. É que andava assoberbado. E eu sorria, condescendente, porque achava bonito. Tanta vida, apesar dos 84 anos, pensava. Que se conserve assim por muito tempo.

Depois aconteceu aquela desgraça e já não foi possível. Mesmo assim houve avanços e recuos, mas no dia aprazado faltava-lhe o ânimo, desmarcava. Deixou-me suspensa das palavras que não me disse e eu sabia serem importantes. Porque ele não era pessoa para dizer banalidades. Tão boa tinha sido aquela conversa que um dia tivemos, no seu apartamento na Rua do Quelhas, que queria repetir. Ter só mais um bocadinho de António-Pedro Vasconcelos só para mim, mas escapou-me por um triz. E a sensação que me fica é a de desperdício. Tinha ainda tanto para fazer e para dizer. E de impotência. Vontade de pôr o pé na porta e de insistir, só mais uma vez: "Gostava mesmo muito de falar consigo."

Hoje é dia

Teresa Ribeiro, 08.03.24

Não me dêem flores, muito menos parabéns. Parabéns por ser mulher? Que absurdo! Tão absurdo como parabenizar os homens, por serem homens, nos restantes dias do ano. Pensando bem, nem isso seria tão absurdo. Pois ao menos deles podemos dizer que têm o mundo na mão. Donos disto tudo. Para o bem e para o mal. 

Já foi pior. Ao menos agora votamos. Ao menos agora - neste canto ocidental, porque noutros lugares ainda o tempo é de trevas - temos liberdade para escolher marido, escolher profissão, abrir um negócio, viajar. Mas ainda falta tanto para passar a ser absurdo assinalar o Dia da Mulher, que façam-me o favor, não digam que este dia é para comemorar. Que não é.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 09.12.23

Hoje faço batota, pois a minha escolha para blogue da semana não é a de um blogue. Mas Mensagem, o jornal online de Lisboa, bem merece ser excepção. Sou suspeita, visto ser alfacinha e quase de raça pura, ou não fosse a maioria dos meus ascendentes oriunda daqui. Por isso, mas sobretudo porque é concebido com muita competência e profissionalismo, gosto muito do Mensagem e recomendo.

O poder tem a saia curta

Teresa Ribeiro, 08.11.23

Há 191 políticos a braços com a justiça desde 2017, noticiou a CNN Portugal em maio passado. Sem surpresa, a peça revelou que é entre o PS e o PSD que há mais casos. Agora, na campanha eleitoral que se avizinha, vai andar tudo doido, a começar pelos que ainda estão virgens, e sonham ter a experiência. O resto, como diria a Teresa Guilherme na Casa dos Segredos, "não interessa nada".

Ambiente de trabalho XI

Teresa Ribeiro, 06.11.23

Todos sabem que é um eufemismo, pois nunca “colaborador” foi sinónimo de “trabalhador”, por isso mesmo é interessante tentar perceber porque houve uma adesão massiva a esta designação, na hora de chamar os assalariados pelos nomes.

Foi como se de um momento para o outro a palavra “trabalhador” passasse a ter desagradáveis conotações, só porque expõe, de forma clara e inequívoca, a natureza de um vínculo contratual. Banida da comunicação empresarial, a palavra “trabalhador” passou a ser usada quase exclusivamente por sindicatos e no discurso político, algo que está a contribuir para modificar a sua percepção. Nos tempos que correm já mais parece uma expressão politizada e usá-la pode tornar-se suspeito para alguns interlocutores. No limite, e dentro de certos contextos laborais, insistir em empregar o vocábulo proscrito será considerado uma provocação.

Vivemos tempos de grande fluidez no mundo laboral. A natureza das relações que se criam é efémera e sustenta-se em dinâmicas que se alimentam de sofisticadas estratégias de marketing (pessoal e corporativo), destinadas a defender da melhor forma os interesses das partes envolvidas. Se há coisa que o marketing sabe fazer é diluir conceitos, confundir perspectivas, arredondar palavras. Quem domina a técnica sabe que as palavras (é que) contam. Terá sido algures durante este processo que a palavra “trabalhador” caiu em desgraça. É tão objectiva, que parece que vai nua.

Ambiente de trabalho X

Teresa Ribeiro, 30.05.23

Sempre houve gente impreparada a arriscar no seu próprio negócio, mas temo que a tendência se esteja a acentuar, como escape ao atrofio financeiro a que garantidamente está sujeita a maioria dos trabalhadores por conta de outrem.

Com um investimento reduzido e uma equipa mínima, estes “empreendedores” têm de poupar muito para atingir os seus objectivos. Fazem-no à custa da fuga aos impostos – pagando parte dos vencimentos por baixo da mesa, empregando “recibos verdes” a tempo inteiro – e de baixos salários. O Portugal dos empresariozitos, cujo pensamento estratégico é conseguir o máximo de margem para garantir casa, carro, férias no estrangeiro e colégio para os filhos, corresponde à maior fatia do nosso tecido empresarial, por isso estabelece o paradigma. As médias, grandes e até algumas pequenas e talentosas empresas podiam influenciar o mercado, quebrar este círculo vicioso, mas, claro, consideram que não é esse o seu papel. “Como saímos disto?” – quem sabe com um bom patrocínio da Multiópticas (passe a pub).

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 07.05.23

Cresce, no país, o número de pessoas que não fazem a mínima ideia do que é viver em ditadura e que fantasiam sobre salvadores da pátria. Alimentam-se talvez da esperança de que, bem pastoreado, Portugal enfim progredirá. E acreditam que a indignação teatral de alguns tribunos, que hoje berram o que querem ouvir, se transformará, caso o poder lhes caia nas mãos, nas políticas reformistas que vão pôr Portugal nos eixos. Nada lhes prova que farão melhor do que os partidos instalados, se um dia se instalarem. O que sabem, mas pouco lhes importa, é que com esses na liderança a democracia corre perigo.

Como sem democracia não há escrutínio, se um dia resvalarmos para uma autocracia, a corrupção e o nepotismo continuarão a minar, só que silenciosamente, pois não há notícia de um país - um só - que  tenha melhorado tais indicadores sob este tipo de regime. E como sem democracia não há liberdade de expressão, a paz social descerá sobre nós, como um gás anestesiante. Será por esta paz podre que os desiludidos da democracia suspiram? 

 

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Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 12.03.23

De bronca em bronca vou-me afundando numa decepção que sinto colectiva. Não falta à minha volta gente a bater palminhas, à espera que o castelo de cartas, em que se tornou este governo PS, caia. Na esperança que se mudem as tintas lá por S. Bento, porque depois é que vai ser. E eu fico-me a meditar nessa capacidade que vamos tendo de vibrar com tais expectativas. Ainda dizem que somos um povo pessimista...

 

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É a cultura, estúpidos

Teresa Ribeiro, 13.01.23

O slogan da campanha de Clinton, devidamente adaptado, assenta que nem uma luva a esta cascata de casos e casinhos que acabam em demissões. Começou por ser desleixo, pois durante muito tempo a experiência era a de que estas incompatibilidadezinhas, estes desvios éticos, passavam pelos intervalos dos media, agora acredito que já não é. Só que o sistema está tão saturado, que se torna cada vez mais difícil encontrar alguém impoluto. É este o drama. O sistema ensopou. Torce-se e só deita amigos,  primos, boys ou girls. Porque isto é, e sempre foi, uma sociedade governada por castas. Não é o PS, ou o centrão é já uma maneira de ser. Leiam o Eça.

A diferença, agora, é que se sabe. Com uma facilidade que deixa tontos os que até agora conseguiam governar e governar-se a si e aos seus, em sossego.

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 01.01.23

Banho-me nas mensagens, ainda mais exuberantes que o habitual, que nesta quadra se trocam nas redes sobre o amor universal e gestos de solidariedade e etc e lembro-me daquela frase bíblica, que não sei reproduzir, mas que nos aconselha a dar com uma mão sem que a outra o saiba. Depois, perdoem-me o cinismo, não consigo impedir de me perguntar sobre quantos de nós seriam generosos, sensíveis e solidários se ninguém estivesse a ver...

 

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Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 20.11.22

Olho para os miúdos que se manifestam nas escolas, exigindo que os adultos lhes salvem o planeta, e penso em como é difícil ao ser humano mudar a sua natureza. Ser capaz de mobilizar-se pelo bem comum. Ser consequente quando está em causa a viabilidade do seu único habitat. Os donos do mundo também têm filhos e netos mas nem assim. A mesquinhez leva sempre a melhor.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.