Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 12.03.23

De bronca em bronca vou-me afundando numa decepção que sinto colectiva. Não falta à minha volta gente a bater palminhas, à espera que o castelo de cartas, em que se tornou este governo PS, caia. Na esperança que se mudem as tintas lá por S. Bento, porque depois é que vai ser. E eu fico-me a meditar nessa capacidade que vamos tendo de vibrar com tais expectativas. Ainda dizem que somos um povo pessimista...

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana

É a cultura, estúpidos

Teresa Ribeiro, 13.01.23

O slogan da campanha de Clinton, devidamente adaptado, assenta que nem uma luva a esta cascata de casos e casinhos que acabam em demissões. Começou por ser desleixo, pois durante muito tempo a experiência era a de que estas incompatibilidadezinhas, estes desvios éticos, passavam pelos intervalos dos media, agora acredito que já não é. Só que o sistema está tão saturado, que se torna cada vez mais difícil encontrar alguém impoluto. É este o drama. O sistema ensopou. Torce-se e só deita amigos,  primos, boys ou girls. Porque isto é, e sempre foi, uma sociedade governada por castas. Não é o PS, ou o centrão é já uma maneira de ser. Leiam o Eça.

A diferença, agora, é que se sabe. Com uma facilidade que deixa tontos os que até agora conseguiam governar e governar-se a si e aos seus, em sossego.

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 01.01.23

Banho-me nas mensagens, ainda mais exuberantes que o habitual, que nesta quadra se trocam nas redes sobre o amor universal e gestos de solidariedade e etc e lembro-me daquela frase bíblica, que não sei reproduzir, mas que nos aconselha a dar com uma mão sem que a outra o saiba. Depois, perdoem-me o cinismo, não consigo impedir de me perguntar sobre quantos de nós seriam generosos, sensíveis e solidários se ninguém estivesse a ver...

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 20.11.22

Olho para os miúdos que se manifestam nas escolas, exigindo que os adultos lhes salvem o planeta, e penso em como é difícil ao ser humano mudar a sua natureza. Ser capaz de mobilizar-se pelo bem comum. Ser consequente quando está em causa a viabilidade do seu único habitat. Os donos do mundo também têm filhos e netos mas nem assim. A mesquinhez leva sempre a melhor.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 23.10.22

Fala-se muito de misoginia, mas quase nada de misandria. Durante décadas na verdade não a sentia como algo fácil de identificar. Mas de imediato pensava que era natural que assim fosse, pois sempre vivemos numa sociedade machista e não o contrário. Ultimamente detecto manifestações de misandria aqui e ali, com uma exuberância que me deixa pasmada. E penso que vamos de mal a pior, porque agora a balança do ressentimento e do ódio está equilibrada e muitas mulheres pensam que isso é uma boa evolução.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

Ambiente de trabalho VIII

Teresa Ribeiro, 27.09.22

A glorificação do empreendedorismo abriu caminho à proletarização do trabalho intelectual. A partir do momento em que a iniciativa empresarial se transformou em valor supremo, os dependentes, aqueles que pela sua natureza ou pela natureza do seu trabalho exercem a sua profissão por conta de outrem, passaram à condição de subalternos, independentemente do seu nível de competências.

Esta simplificação, que dividiu o mundo do trabalho em dois, colocou do lado dos assalariados um conjunto indiferenciado de profissionais, de cientistas e arquitectos, a trolhas e empregadas de limpeza. Segundo esta nova ordem, passaram a equivaler-se, na medida em que uns e outros não detêm o único e verdadeiro poder, o do dinheiro.

A curva descendente que levou a que a maioria dos licenciados passasse a ganhar salários absolutamente desajustados do seu nível de preparação e conhecimentos começou com esta desvalorização social indiferenciada dos assalariados, algo que conduziu à desvalorização profissional e correspondente descida de salários.

O argumento de que os impostos são elevados para quem contrata, sempre usado pelos empregadores para justificar porque pagam tão mal, não explica a existência neste país de um fosso cada vez maior entre pobres e ricos. A falta de ética, sim.

Até porque não é só de salários baixos que se faz esta nova cultura empresarial. As ilegalidades são uma constante e praticam-se com crescente despudor. A avaliar pelos casos de abuso que me vão chegando aos ouvidos, através da geração que na minha família está a entrar no mercado de trabalho e da sua rede de amigos, e de amigos de amigos destes, percebo até que ponto a cultura do trabalho, no país, se tem degradado. Há já quem queira admitir jovens licenciados à experiência sem lhes revelar o salário que pretendem pagar e a partir de quando; há quem anuncie sem embaraço que “nas semanas em que há feriado, o feriado conta como folga”; o hábito de pagar um x por debaixo da mesa está instituído; o pagamento de horas extraordinárias está fora de questão; o aumento de salário, idem; o direito a “desligar” à noite e aos fins-de-semana não é sequer tema de conversa. Não admira que os jovens estejam a fugir deste país ao ritmo a que fugiam da guerra colonial nos anos 60.

É a economia? A inépcia de quem nos tem governado? Sim, mas também esta falta de civismo, tão tuga. O oportunismo sonso dos muitos que podiam contribuir para o aumento do salário médio em Portugal, mas que aproveitam os saldos para comprar “talento” ao preço da uva mijona. O talento de que precisam para manter os seus projectos de pé. Porque o espírito de iniciativa não é tudo. Mas isso, claro, quando reconhecem, é no tom paternalista que reservam ao elogio dos subalternos.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 28.08.22

Agora que já nos informaram que o gás vai disparar como nunca, que a gasolina e o gasóleo vão continuar a subir e que a esta onda inflacionista não vão escapar sequer os artigos de primeira necessidade, é altura de apertar os cintos e partir para outro patamar de controlo do orçamento doméstico. Daí que tenha escolhido para blogue da semana o Poupadinhos e com Vales. Antes de abrir os cordões à bolsa para o regresso às aulas e outros rituais da rentrée, vale a pena passar por lá e fazer as contas.

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 10.07.22

Depois da guerra de Putin, a grande dicotomia entre concepções de sociedade  já não é entre a esquerda e a direita, mas entre os defensores da democracia (que existem à esquerda e à direita) e os simpatizantes de regimes autocráticos (que abundam na extrema-direita e na extrema-esquerda). 

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

 

Do direito à greve

Teresa Ribeiro, 27.06.22

Neste último fim-de-semana os trabalhadores do metro fizeram greve. Fosse um fim-de-semana qualquer e as "jornadas de luta" seriam agendadas para outras datas. Mas este era o último fim-de-semana do Rock in Rio, em que milhares de pessoas necessitariam do metro para se deslocar ao Parque da Bela Vista. Já na CP, os grevistas escolheram a noite de S.João para afectar o normal funcionamento dos comboios suburbanos do Porto. Claro que nada disto é novidade, constitui um padrão. Lembro-me de greves de transportes que ocorreram em cheio na quadra do Natal. Na aviação já se sabe que é no Verão que as "acções de luta" se concentram. Mas sendo certo que as greves do sector dos transportes nunca passam despercebidas, pois impactam, em qualquer circunstância, milhares de utentes, agendá-las de modo a lesar o maior número possível de pessoas tem algo de perverso. No limite, é abuso de poder.

A natureza não se manipula

Teresa Ribeiro, 02.06.22

22307795_u45A8.jpeg

Falta-nos humildade para aceitar que podemos manipular tudo, até aquilo a que chamamos realidade, mas não a natureza. Pelo menos não tanto quanto desejaríamos. É por isso que continua a adoecer gravemente e a morrer gente de Covid, apesar de termos decretado que a vida pode voltar ao que era.

Percebo a necessidade de retomar as actividades económicas dentro de padrões próximos da normalidade e uma vez que evoluímos ou estamos a evoluir para uma situação de endemia, a opção de regressar à vida de sempre é compreensível. Mas o que não entendo é que apesar das notícias que agora nos chegam timidamente através dos media, nada se faça para levar as pessoas a respeitar as poucas regras de segurança sanitária que se mantiveram. Nos transportes públicos, onde é obrigatório o uso de máscara, o laxismo aumenta de dia para dia, perante a indiferença das autoridades. E haverá certamente outras situações que estão a contribuir para que esta nuvem negra se alastre, mais uma vez.

A notícia é de hoje: em relação ao período homólogo do ano passado, o número de mortes por Covid aumentou... 18 vezes! 

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 24.04.22

Toda a vida assisti, do sofá, a guerras que chocaram a opinião pública. Mas quase todas eram lá longe, num mundo que não o meu, o que me criou a ilusão de que vivia na parcela mais civilizada do planeta. Bem sei, nos anos 90, o inferno desceu à Terra, nos Balcãs. Mas as razões dessa guerra eram muito locais, resultado de um ódio larvar entre etnias que eclodiu, mal a Cortina de Ferro se desmoronou. Vi-o, portanto, como um caso muito específico, nada que me impedisse de acreditar que pertencia à elite, à quota humana que já não desce abaixo da condição animal. Até que a Rússia invadiu a Ucrânia.

Agora, mais do que o desespero das vítimas e a bestialidade dos agressores, o que me abala é ter perdido todas as ilusões quanto à capacidade de evoluirmos como seres humanos. Porque vai-se a ver e a civilização é só verniz. Século após século o ser cavernícola continua a habitar no mais fundo de nós. Não morre. E às vezes sinto asco por pertencer a esta tribo.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

Neste Dia Internacional da Mulher

Teresa Ribeiro, 08.03.22

Mãe galinha que sou, sempre pensei que não haveria causa que pudesse alguma vez colocar acima da integridade física do meu filho. Mais: nunca entendi como podia haver mães que sentissem e pensassem o contrário. Até que comecei a assistir a esta guerra em directo e a admirar, comovida, o estoicismo das mulheres ucranianas. Quedo-me estupefacta a ler nos seus rostos o desespero embrulhado em revolta, o conformismo valente de quem aceita que há momentos em que é necessário fazer sacrifícios pessoais, por mais dolorosos que sejam. Vejo-as e pergunto-me se era capaz. Acho que não. Mas apercebo-me de que em mim alguma coisa mudou. Porque agora eu entendo. 

Neste Dia Internacional da Mulher ergo a minha taça a todas estas heroínas. Que o seu sacrifício não seja em vão.

Ele

Teresa Ribeiro, 01.03.22

1278.jpg

Ao contrário do estereótipo das histórias infantis politicamente incorrectas dos meus tempos de menina, este vilão é louro e tem olhos azuis. O rosto redondo, sem rugas, devia sublinhar a suavidade que sugere a mistura dos tons claros do cabelo e dos olhos, mas há uma vida interior por detrás desta máscara delicada que desmonta tudo. O olhar ínvio, incapaz de se sustentar frente às câmaras de televisão e a expressão esfíngica que ostenta sempre que se apresenta em público revelam-no fechado e frio. Dele sabe-se da sua sede assassina de poder. É isso que o move. Não olha a meios, este Darth Vader. Envenena opositores políticos e jornalistas, prende manifestantes, manipula eleições e agora manda bombardear hospitais, creches e lançar no terreno brinquedos armadilhados numa guerra onde vale tudo, até trocar de uniforme para confundir o inimigo.

Comparam-no a Hitler. A megalomania e a metodologia que usou para avançar com as peças no tabuleiro, de facto, confundem-se. Tal como o psicopata de bigode também ele se comporta como dono do mundo, achando-se no direito de determinar que países devem, ou não, existir e não hesita em esmagar quem lhe faz frente. A diferença é que no tempo do outro não havia smartphones, nem internet, nem redes sociais. Hoje é impossível esconder, como antes, os crimes de guerra. Tudo se sabe em tempo real. E essa exposição é, está a ser, demolidora para a reputação deste aspirante a czar de todas as rússias.

Sempre pensei que se um dia uma guerra nuclear eclodisse seria seguramente espoletada por alguém com este perfil: um borderliner com acesso a estas armas e uma ambição desmedida. Mas tenho fé que a devassa que as redes de comunicação e os telemóveis proporcionam faça o milagre de deter esta escalada de violência. Porque o terror, para proliferar, sempre precisou de sombra.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 23.01.22

Escreve bem, ou seja, sabe ser claro, sucinto e interessante. O facto de não recorrer aos artifícios de estilo a que tantos não resistem só para entre duas ideias exibirem erudição e atitude, agrada-me muito. Mas o principal é que os postais de Luís Eme me deixam sempre a pensar na vida, a propósito de uma cena que testemunhou, ou de uma reflexão que partilha. Gosto desses pedaços de realidade, tão bem descritos. É por isso que escolho o Largo da Memória para blogue da semana.

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 02.01.22

Sempre desconfiei da “felicidade que se constrói”, embora reconheça que há pessoas que são felizes por uma questão de sobrevivência. Falo de  casos em que os motivos de infelicidade são tão avassaladores, que se fossem assimilados, tornar-se-iam incapacitantes. Mas esses são exemplos extremos e em todo o caso não estamos a falar de verdadeira felicidade, mas de terapia de choque. Acredito que a regra é as pessoas realmente felizes serem-no por circunstâncias que não controlam: como terem níveis elevados de serotonina no cérebro ou simplicidade de espírito, factores que as predispõem para ver a vida sob o melhor ângulo.

Aquela emoção a que chamamos felicidade, aquela que depende da satisfação de desejos, é sempre fonte da angústia residual que consiste no medo da perda, no medo que se cumpra o destino transitório de tudo. Portanto na prática, a felicidade em estado puro não existe. E muito menos se constrói, como se fosse um lego. Isso é fantasia inventada pela Psicologia Positiva para vender livros de auto-ajuda.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.