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Delito de Opinião

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 28.06.25

Para os apaixonados por História, o blogue da Cristiana Vargas é um lugar muito apetecível, onde a propósito de fotos antigas e objectos de museu, entre outros documentos, ficamos a saber de episódios que são - diz ela e eu concordo - O Sal da História. Ir a banhos ao passado refresca-nos sempre as ideias quanto ao presente que temos, por isso deixo aqui a sugestão. Esta semana passem por aqui e surpreendam-se.

Ganhar a rua

Teresa Ribeiro, 08.03.25

Há semanas, na rubrica “O Homem que Mordeu o Cão”, que passa na Rádio Comercial, ouvi o Nuno Markl contar a seguinte história:

Uma mulher, que gostava de fazer jogging, após várias tentativas viu-se obrigada a desistir, com grande frustração, da sua corrida porque sempre que saía à rua para treinar sentia-se insegura, perseguida pelos olhares e dichotes dos homens com quem se cruzava. Até que um dia teve uma ideia: comprou uma peruca, um bigode postiço, um fato de treino masculino e assim disfarçada de homem experimentou voltar a correr. Foi um descanso. A partir daí nunca mais quis outra vida.

A história faz-nos sorrir, mas revela de forma bem clara a diferença que ainda existe entre ser homem e ser mulher num mundo supostamente civilizado.

Infelizmente não faltam exemplos de casos trágicos de discriminação sexual, mas esses inspiram muitos e muitas a pensar “isto não é comigo, não faz parte do meu mundo protegido”. Puro engano. O diabo, como diz o povo, está nos detalhes.

A última das três Marias

Teresa Ribeiro, 04.02.25

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Entrevistei-a o ano passado para o Público, a propósito do relançamento da obra de Maria Lamas "As Mulheres do Meu País". Então com 86 anos, a última das 3 Marias conservava no olhar a fibra da rebeldia, algo que contrastava em absoluto com a sua evidente fragilidade física. Esse desconcerto enterneceu-me, expôs de forma explícita o que ela era, o que sempre fora. Na altura estava a ser requisitada para várias coisas ao mesmo tempo. Entrevistas na televisão, noutros jornais, coisas que tinham a ver com as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Não escondia o cansaço nem a felicidade de ter de ser obrigada a andar numa roda-viva. Se nunca ninguém a impedira de fazer da sua vida o que queria, não seria a idade a dobrá-la.

Falámos de feminismo, perguntei-lhe o que pensava das mulheres – tantas – que fazem questão de se declarar “femininas e não feministas”. Respondeu-me: “Sinto que há muitas mulheres que não têm consciência de tudo o que foi conquistado. Durante anos e anos andaram mulheres a lutar pelos seus direitos e sofreram muito. Foram presas, espancadas, humilhadas. Eu fui insultada e espancada na rua. Enquanto me batiam disseram-me ‘Isto é para aprenderes a não escreveres como escreves’.”

 Ela e as outras duas marias (Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa) tiveram a ousadia de escrever um livro, “As Novas Cartas Portuguesas”, onde se falava das necessidades afectivas das mulheres e do seu desejo de emancipação. Lançado em 1972, foi considerado pornográfico pelo anterior regime e imediatamente apreendido. Estas recordações ainda lhe incendiavam o olhar. Era um orgulho. O seu e o das mulheres que sentia representar.

Na hora da despedida, agradeço-lhe tudo o que ajudou a conquistar para mim, para a minha filha e, quem sabe, para uma futura neta. E fica a promessa: pela parte que me toca, sempre honrarei a memória das feministas do meu país.

Nos 100 anos do cinema Tivoli

Teresa Ribeiro, 19.12.24

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Para quem adora Lisboa e cinema como eu, não lhe pode ter resistido. Frequento o Tivoli desde criança. Vi nesta sala, com a minha mãe, o incontornável "Música no Coração", numa das várias reposições que lá estiveram. E a Gata Borralheira. E outros filmes de bonecos que me prepararam para outras emoções, mais adultas, tendo sempre o celulóide de permeio. Mais tarde apaixonei-me por Robert Redford, para mim até hoje o homem mais bonito do mundo, quando o vi em "O Grande Gatsby", ao lado de Mia Farrow (desculpa, Leonardo Di Caprio, mas não chegas lá). Tantas vezes saí da velha sala da avenida a flutuar que quando me surgiu a oportunidade de contar a sua história em livro, para assinalar os 100 anos de vida, exultei. Não foi trabalho, foi a possibilidade de poder escrever uma longa carta de amor a um dos amores da minha vida de cinéfila e de lisboeta. Claro que por dever profissional pus de parte a minha história com o Tivoli. Mas ela inspirou-me para ir em busca das muitas histórias que tantos de nós guardámos dele. Garimpei e consegui, acho, demonstrar que não sou caso único. "Tivoli cem anos na nossa vida" (uma edição da UAU, em parceria com a Have a Nice Day) é um tributo a uma das salas mais icónicas de Lisboa onde se conta também o que fomos e vivemos ao longo do último século, através dos depoimentos de muitas das pessoas que lhe deram vida. 

À venda no site da ticketline.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 22.09.24

De vez em quando lá venho eu ao Restos de Colecção. No muito trabalho que tenho desenvolvido à volta da memória empresarial, este blogue tem-me sido útil. Verdadeira ferramenta de trabalho. Mas além destas pesquisas orientadas para um determinado tema, também faço incursões onde o único objectivo é deixar-me levar por memórias avulsas. E o que eu gosto de entrar nesta máquina do tempo! Esta semana recomendo-o, o que é uma forma modesta de agradecimento pelo muito que me tem dado.

Impotência e ódio

Teresa Ribeiro, 18.09.24

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Tenho consciência de que não posso fazer nada a não ser ver arder. Isso corrói cá dentro. Mistura uma enorme sensação de impotência com velhos rancores, pois assisto a mais do mesmo há décadas. Agora, com as alterações climáticas, os incêndios metem os de antigamente num chinelo. É tudo em bom, avassalador. E a minha mente, com requintes de masoquismo, começa a imaginar os detalhes. Os animais que morrem nesse inferno, os insectos, tão necessários ao nosso ecossistema. Quanto às vidas humanas perdidas ou destruídas nem há palavras.

Já me cansam as declarações de circunstância dos políticos. Todos os que ainda os ouvimos sabemos, com o saber da experiência feito, que para o ano, pelo Verão, repeti-las-ão de ar consternado para as câmaras das televisões. Houve reportagens  que vieram a público sobre os negócios que se alimentam dos incêndios florestais. Calculo que não é fácil mexer nesse vespeiro, mas ainda não vi nada de consistente a ser feito contra estas redes criminosas. Também não vi nada de consistente a ser feito, a nível nacional, quanto à prevenção. Consistente é apenas a ideia que tenho de que uma vez passada a "época dos fogos", vai continuar tudo na mesma.

Especial avarias

Teresa Ribeiro, 18.09.24

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Saber se determinado elevador nas nossas estações está ou não a funcionar deixou de ser uma incógnita! No nosso site já pode visualizar o #EstadodosElevadores que permite saber quais os elevadores das nossas estações que se encontram inoperacionais - anuncia o Metro na sua página de Facebook. Achei ternurenta esta preocupação de informar os utentes sobre o estado da inoperacionalidade do metro. Aguarda-se com impaciência o lançamento da mesma funcionalidade relativa a escadas rolantes.

Livros de cabeceira (6) - série II

Teresa Ribeiro, 31.08.24

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Os títulos do meio, comprei-os na Feira do Livro. Li-os com a pressa e o vagar que dispenso às obras dos meus autores de estimação. Com pressa, porque confiante no prazer da sua leitura fico com vontade de as tragar de uma vez. Com vagar porque ao mesmo tempo antecipo o vazio que se segue quando chego ao fim de um livro que me encanta. E então demoro-me, relendo passagens que me impressionaram pela elegância e inteligência da escrita. Sublinho-as, tento retê-las para mais tarde recordar. De Ian McEwan e Javier Marías, dois dos meus amores literários, não posso dizer que em nada são iguais, pois têm em comum a capacidade de descrever com minúcia a complexidade da natureza humana, através de personagens tão interessantes e bem desenhadas que acabo a meditar nelas como se fossem gente.

Dispus na mesa de cabeceira os livros por ordem de leitura, portanto antes destes dois autores li Svetlana Aleksiévitch. Nunca tinha lido nada dela. Ainda bem que ganhou o prémio Nobel em 2015, porque o mais provável era demorar muito mais tempo a descobri-la. "A Guerra não tem rosto de mulher" é o resultado de um trabalho de pesquisa jornalística extraordinário sobre mulheres que combateram durante a II Guerra Mundial. Através dos depoimentos recolhidos, a escritora bielorrussa mostra bem como é diferente a relação mental das mulheres com a guerra e também como foi ocultado e/ou desvalorizado durante décadas o seu papel na frente. Como se fosse um embaraço.

Agora estou a acabar de ler Olga Tokarczuk. Também é uma estreia para mim. Este "Outrora e outros tempos" foi o seu primeiro grande sucesso. Mal entrei nele, percebi porquê. A escrita dela é poderosa, original. Mergulha o leitor num universo paralelo, onde mistura fantasia com realidade, um ardil para chegar a verdades incómodas e profundas, que aborda numa linguagem muito simples e depurada, quase infantil, sempre com a história recente da Polónia como pano de fundo. Foi Nobel em 2019, com toda a justiça.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 30.06.24

Conversa connosco, o Luís Eme, mas sempre através de imagens e não me refiro só às fotos que ilustram cada post. A conversa dele é assim, muito cinematográfica, pelo tom coloquial que emprega e pelos episódios que vai vivendo e tão bem descreve. Se lhe apetece dois dedos de conversa, passe pelo Largo da Memória e deixe-se levar pelo olhar sempre atento, mas nada aborrecido do Luís. É a minha sugestão para blogue da semana.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 16.03.24

Em epígrafe, os membros deste fórum prometem: "Não desistiremos enquanto a nossa capital não for aquilo que pode ser: uma das cidades com melhor qualidade de vida do mundo." Não são palavras vãs. Ao longo dos anos, esta militância por Lisboa sente-se. Sempre atentos ao espaço público da cidade, eles vigiam, denunciam, cuidam. Sem agenda política. Num país em que a sociedade civil quase não tem expressão, iniciativas como esta devem ser saudadas. Por isso escolho o Fórum Cidadania Lx para blogue da semana. 

Por um triz

Teresa Ribeiro, 08.03.24

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As mensagens ainda não arrefeceram no meu telemóvel. Trocámos várias nos últimos tempos. Queria entrevistá-lo para um trabalho que ando a fazer, ele fugia-me. Marcámos e desmarcámos várias vezes. Desculpava-se, muito cortês. É que andava assoberbado. E eu sorria, condescendente, porque achava bonito. Tanta vida, apesar dos 84 anos, pensava. Que se conserve assim por muito tempo.

Depois aconteceu aquela desgraça e já não foi possível. Mesmo assim houve avanços e recuos, mas no dia aprazado faltava-lhe o ânimo, desmarcava. Deixou-me suspensa das palavras que não me disse e eu sabia serem importantes. Porque ele não era pessoa para dizer banalidades. Tão boa tinha sido aquela conversa que um dia tivemos, no seu apartamento na Rua do Quelhas, que queria repetir. Ter só mais um bocadinho de António-Pedro Vasconcelos só para mim, mas escapou-me por um triz. E a sensação que me fica é a de desperdício. Tinha ainda tanto para fazer e para dizer. E de impotência. Vontade de pôr o pé na porta e de insistir, só mais uma vez: "Gostava mesmo muito de falar consigo."

Hoje é dia

Teresa Ribeiro, 08.03.24

Não me dêem flores, muito menos parabéns. Parabéns por ser mulher? Que absurdo! Tão absurdo como parabenizar os homens, por serem homens, nos restantes dias do ano. Pensando bem, nem isso seria tão absurdo. Pois ao menos deles podemos dizer que têm o mundo na mão. Donos disto tudo. Para o bem e para o mal. 

Já foi pior. Ao menos agora votamos. Ao menos agora - neste canto ocidental, porque noutros lugares ainda o tempo é de trevas - temos liberdade para escolher marido, escolher profissão, abrir um negócio, viajar. Mas ainda falta tanto para passar a ser absurdo assinalar o Dia da Mulher, que façam-me o favor, não digam que este dia é para comemorar. Que não é.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 09.12.23

Hoje faço batota, pois a minha escolha para blogue da semana não é a de um blogue. Mas Mensagem, o jornal online de Lisboa, bem merece ser excepção. Sou suspeita, visto ser alfacinha e quase de raça pura, ou não fosse a maioria dos meus ascendentes oriunda daqui. Por isso, mas sobretudo porque é concebido com muita competência e profissionalismo, gosto muito do Mensagem e recomendo.

O poder tem a saia curta

Teresa Ribeiro, 08.11.23

Há 191 políticos a braços com a justiça desde 2017, noticiou a CNN Portugal em maio passado. Sem surpresa, a peça revelou que é entre o PS e o PSD que há mais casos. Agora, na campanha eleitoral que se avizinha, vai andar tudo doido, a começar pelos que ainda estão virgens, e sonham ter a experiência. O resto, como diria a Teresa Guilherme na Casa dos Segredos, "não interessa nada".

Ambiente de trabalho XI

Teresa Ribeiro, 06.11.23

Todos sabem que é um eufemismo, pois nunca “colaborador” foi sinónimo de “trabalhador”, por isso mesmo é interessante tentar perceber porque houve uma adesão massiva a esta designação, na hora de chamar os assalariados pelos nomes.

Foi como se de um momento para o outro a palavra “trabalhador” passasse a ter desagradáveis conotações, só porque expõe, de forma clara e inequívoca, a natureza de um vínculo contratual. Banida da comunicação empresarial, a palavra “trabalhador” passou a ser usada quase exclusivamente por sindicatos e no discurso político, algo que está a contribuir para modificar a sua percepção. Nos tempos que correm já mais parece uma expressão politizada e usá-la pode tornar-se suspeito para alguns interlocutores. No limite, e dentro de certos contextos laborais, insistir em empregar o vocábulo proscrito será considerado uma provocação.

Vivemos tempos de grande fluidez no mundo laboral. A natureza das relações que se criam é efémera e sustenta-se em dinâmicas que se alimentam de sofisticadas estratégias de marketing (pessoal e corporativo), destinadas a defender da melhor forma os interesses das partes envolvidas. Se há coisa que o marketing sabe fazer é diluir conceitos, confundir perspectivas, arredondar palavras. Quem domina a técnica sabe que as palavras (é que) contam. Terá sido algures durante este processo que a palavra “trabalhador” caiu em desgraça. É tão objectiva, que parece que vai nua.

Ambiente de trabalho X

Teresa Ribeiro, 30.05.23

Sempre houve gente impreparada a arriscar no seu próprio negócio, mas temo que a tendência se esteja a acentuar, como escape ao atrofio financeiro a que garantidamente está sujeita a maioria dos trabalhadores por conta de outrem.

Com um investimento reduzido e uma equipa mínima, estes “empreendedores” têm de poupar muito para atingir os seus objectivos. Fazem-no à custa da fuga aos impostos – pagando parte dos vencimentos por baixo da mesa, empregando “recibos verdes” a tempo inteiro – e de baixos salários. O Portugal dos empresariozitos, cujo pensamento estratégico é conseguir o máximo de margem para garantir casa, carro, férias no estrangeiro e colégio para os filhos, corresponde à maior fatia do nosso tecido empresarial, por isso estabelece o paradigma. As médias, grandes e até algumas pequenas e talentosas empresas podiam influenciar o mercado, quebrar este círculo vicioso, mas, claro, consideram que não é esse o seu papel. “Como saímos disto?” – quem sabe com um bom patrocínio da Multiópticas (passe a pub).