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Delito de Opinião

Blogue da Semana

Joana Nave, 01.06.25

Para esta semana trago-vos um blogue inspirador com dicas sobre cuidados a ter com o nosso corpo, porque o bem estar começa de dentro para fora.

Num mundo cada vez mais acelerado, vale a pena parar e reflectir sobre alternativas aos tratamentos convencionais, que tratam sintomas e não a raiz dos problemas, que nos dão soluções rápidas, mas não duradouras.

Deixo-vos as dicas da Francisca Guimarães e espero que vos seja útil, não há fundamentalismos, mas proponho que escolham uma mudança e apliquem-na e depois avaliem os resultados, antes de criticar apenas a ideia.

Diário de uma mãe

Joana Nave, 17.04.25

Não tenho conseguido escrever porque resolvi dar prioridade a outras coisas, como abrandar o ritmo, descansar, realizar as tarefas que tenho em mãos com atenção plena e dedicar mais tempo a cuidar do que me rodeia, quer o espaço, quer as pessoas, quer o que me define.

Cuidar é uma forma de amar e, por isso, o simples acto de cozinhar deve ser feito com toda a calma, para que a energia que passamos para os alimentos cozinhados possa fluir para quem desfruta depois desta refeição. A pressa com que vivemos os nossos dias não nos permite este tipo de cuidados, é simplificar ao máximo e não perder tempo com trivialidades. Tudo está certo, mas também é durante um almoço ou jantar partilhado que temos oportunidade de conversar com os outros, trocar ideias, resolver conflitos internos, que de outra forma não teríamos espaço para expressar. Ter tempo é muitas vezes construir o tempo para o diálogo e para a partilha.

Foi numa dessas conversas que o meu filho de 7 anos me confidenciou que não podia levar uma pulseira de plástico de um super-herói para a escola porque seria gozado pelos seus colegas. Fiquei vários dias a pensar neste assunto e em como estamos a construir uma sociedade às avessas, em que as crianças gozam umas com as outras por estas quererem ser crianças. O que é infantil é menor aos olhos de crianças que estão na idade da infância. Disseram-me que seriam os irmãos mais velhos a passar esta mensagem, mas sinceramente não acho que seja esse o factor principal, acho que nós pais temos pressa de vê-los crescer. Os pequenitos sugam-nas a energia e acresce o facto de actualmente sermos pais cada vez mais tarde, quando já temos menos paciência, e por isso vamos transmitindo a ideia de que eles têm de ser crescidos, responsáveis, que devem deixar de ser bebés, em suma, que devem deixar de ser crianças. Queremos enfiá-los à força no molde do bom comportamento, queremos que sejam um exemplo de tranquilidade, generosidade e sapiência, quando eles estão na idade de experimentar os limites, pular, rebolar, encher os sapatos de lama pegajosa, cair, coleccionar arranhões e nódoas negras, ter alguns conflitos que devemos ajudar a mediar, rir e chorar sem motivo aparente, porque as emoções de uma criança ainda estão a ser definidas, eles estão a aprender a controlar-se e gritam tanto ou mais quanto nos ouvem gritar, porque são absorventes e espelhos do que lhes transmitimos diariamente.

No passado, a educação resolvia-se muitas vezes pelo meio da força. Hoje somos mais pedagogos, mas temos dificuldade em definir barreiras, limites e em permitir que o tempo faça a sua habilidade de os ajudar a crescer, usamos a televisão e os meios audiovisuais em troca de silêncio, temos tantos meios ao nosso dispor que nos perdemos no caminho e só queremos que o tempo passe e que eles queiram ir connosco dar um passeio sossegado, passar uma tarde a ler, ver um filme, porque o faz de conta e a gritaria põem-nos num ataque de nervos.

Diário de uma mãe

Joana Nave, 22.03.25

Para mim, um dos grandes benefícios da maternidade tem sido a forma como passei a relativizar as coisas que não são assim tão importantes, como por exemplo a arrumação da casa. Claro que é importante termos espaços limpos, arrumados, cuidados, mas também não há nenhuma real necessidade de termos sempre tudo em ordem, porque na realidade ninguém vem atrás de nós exigir que as coisas sejam de uma maneira ou doutra, está tudo na nossa cabeça. O chão pegajoso, sinónimo de tardes gulosas a fazer bolachinhas com os miúdos, os brinquedos espalhados por todo o lado, as tardes de preguiça a ler histórias e a ver filmes, são incompatíveis com arrumações e limpezas e é tão bom.

Antes de ter filhos era obcecada com a imagem, o cabelo tinha de estar sempre perfeito, não podia sair de casa sem acessórios e perfume, trocava frequentemente de mala, tinha vários sapatos desconfortáveis e elegantes, casacos a condizer e uma série de outras manias próprias de quem tem demasiado tempo livre. Depois, tive de simplificar, focar-me não só em mim, mas também neles, ver se as roupas estão em bom estado, se combinam, se são quentes e confortáveis, se os narizes não estão ranhosos, se a cara está limpa, se os cabelos estão penteados, se levam casaco, e outras coisas de que necessitam sempre que saem de casa. Continuo a preocupar-me em manter uma imagem cuidada, não troquei a maternidade pelo desmazelo, mas foco-me apenas no essencial, higiene, hidratação, alguma maquilhagem se for apropriado, roupas adequadas à ocasião e calçado principalmente confortável, não uso perfume, nem saltos altos e pinto as unhas apenas quando me apetece, de resto procuro estar alinhada com o meu espírito de tranquilidade e subtileza. Uso uma mala pequena com os artigos essenciais e, quando me desloco para trabalhar, adiciono a mochila com o portátil, um caderno, um estojo, um livro (indispensável) e pouco mais.

No desporto, opto pela natação e pelo yoga, uma aula de cada todas as semanas, na hora de almoço para não interferir com as rotinas do fim do dia.

Faço as compras da semana online, tento fazer comida a mais para ter alguns almoços e jantares adiantados e não ter de passar tanto tempo na cozinha, vou tratando da roupa para não deixar acumular e planeio com frequência para evitar bloqueios quando ocorrem situações inesperadas. É raro deitar comida fora, aproveito sempre as sobras, invento muito e não costumo ter mais do que o necessário. Faço uma gestão eficiente do que temos no frigorífico e no dispenseiro, do que consumimos regularmente, e quando encomendamos comida ou vamos comer fora é porque temos mesmo essa real vontade e não porque não temos o que comer.

Tenho almoços e jantares com amigas e por vezes até uma ida ao teatro. Leio sempre que posso, vejo séries e vou fazendo cursos online para me manter actualizada.

Não sou de modo algum perfeita, mas a maternidade trouxe-me objectivos mais realistas, a falta de tempo tornou-me mais focada, mais produtiva. Tenho rotinas semanais bem definidas e nos fins de semana desacelero, permito-me fazer tudo mais devagar, sem pressa.

Diário de uma mãe

Joana Nave, 10.03.25

Li algures o testemunho de uma mulher em que uma das razões para não ter filhos era manter um estilo de vida minimalista. Entenda-se por minimalista viver com pouca tralha, andar às costas com pouca bagagem, ter um estilo de vida simples. Os filhos, por outro lado, são sinónimo de confusão, muitos acessórios, muitos bens essenciais, muitos brinquedos, muito de tudo e mais alguma coisa. Antes destes nascerem, os pais têm muitas vezes de aumentar a casa onde vivem, arranjar mais mobília, comprar roupas, produtos de higiene e outros para bebé, comprar um número infinito de artigos de puericultura e, por vezes, até comprar um carro maior. Eu lembro-me que comecei a aprender sobre o tal minimalismo ainda antes de ser mãe e, por isso, já tinha reduzido imenso os meus bens pessoais quando comecei a encher a casa com as coisas de bebé. O quarto extra foi totalmente remodelado, libertou-se espaço no resto das divisões e adaptou-se o que já tínhamos. Ainda assim, comprámos coisas que se revelaram inúteis e o destralhar passou a ser uma actividade mais ou menos semestral, com a mudança das estações.

Quando os filhos crescem a situação piora, porque as crianças estão sempre a criar coisas novas, como as centenas de desenhos que ficam espalhados por todo o lado, mais os pequenos projectos que vão de casa para a escola e voltam no final do ano, mais tudo o que fazem por lá, mais os objectos diários que vêm guardados nos bolsos, nas mochilas, e que se vão acumulando pelo quarto, até que um olhar crítico faça uma escolha criteriosa do que fica e do que vai. Depois, há ainda que ter em consideração a energia inesgotável de uma criança, que consegue virar do avesso em segundos o que nos levou um dia inteiro a pôr em ordem.

É deixar fluir, manter uma mente organizada no caos e aprender que não conseguimos controlar tudo. Para mim, este foi e continua a ser um verdadeiro desafio, uma aprendizagem diária, em que tento manter a calma, respirar fundo, contar até mil, antes de deixar que o impulso de querer ter o meu espaço em ordem irrompa com um pulsar nervoso e perca as estribeiras. Não é fácil não termos tempo para nós da forma que queremos, termos de fazer disso uma negociação e até um esforço, ou valorizar sempre os momentos de partilha que temos com estes seres indefesos e dependentes de nós. Vale a pena, claro que vale a pena, porque só nos conhecemos verdadeiramente quando somos levados ao limite e quando aprendemos a dar importância ao que é realmente importante. É um processo contínuo de aprendizagem, de conhecimento, de pequenas vitórias que nos vão transformando e que fazem crescer esta relação pais e filhos. Quem sabe um dia possamos abraçar em conjunto este projecto do minimalismo...

Diário de uma mãe

Joana Nave, 02.03.25

A dinâmica família-trabalho não me tem dado tréguas e tem sido difícil, no pós doença que me deitou abaixo, arranjar tempo para vir aqui deixar algumas ideias sobre a minha vida de mãe. Entre as rotinas deles e as da casa e da família sobra sempre menos tempo do que seria ideal para cuidarmos de nós, dos nossos hobbies, do cultivo do físico, da mente e do espírito. Esta falta de horas tem-me levado a pensar em algo que se fala muito, mas de forma muito cuidada para não ferir susceptibilidades, e que é a questão do segundo filho. Não vou divagar sobre o que seria ter um terceiro ou mais, porque não os tenho e não me sinto habilitada a falar sobre o tema.

Quando o primeiro filho nasce, e se é o primeiro na família, há toda uma mudança de prioridades e foco em torno da nova vida. Os cuidados e as preocupações multiplicam-se, todos têm algo a dizer sobre o que é melhor para o bebé e o afecto é quase sufocante, tentando cada um obter o máximo deste novo ser em troca de mimos, presentes e presença. Quando nasce o segundo filho deixa de haver multiplicação e passa a existir divisão de tempo, de atenção, de cuidado, de afecto. No entanto, a soma de duas crianças para cuidar também suscita o receio de não se ter energia para dois.

Os meus filhos têm quinze meses de diferença e é engraçado que o primeiro sempre teve ciúmes do segundo, quando este último nunca conheceu outra realidade a não ser a de ser o segundo. O primeiro quer competir com o segundo, ser o mais amado porque é o mais velho, porque adquiriu o título da primazia e quer fazer valer o mesmo a todo o custo. O segundo não reclama, ama incondicionalmente o primeiro e pede atenção mediante a sua vontade.

A questão que me assola é que nós pais somos os primeiros a criar esta realidade. Quando o primeiro começou a aprender a ler e escrever houve dedicação extrema da minha parte, por vezes até exagerada. Quando o segundo entrou nesse período, já havia a experiência de que não era necessário insistir tanto no tempo de estudo e, por isso, houve um certo relaxamento, mas será que foi mesmo isso? Será que não se trata de continuar a dar mais atenção ao primeiro, que está um ano à frente e tem aprendizagens mais exigentes e que necessitam de maior foco?

Quando eles me perguntam de quem gosto mais, digo sempre que é dos dois, que ele é o meu menino preferido no mundo e ela a minha menina preferida no mundo. Efectivamente, não há diferença no amor que lhes tenho, mas o primeiro levou com o termómetro na banheira, a esterilização dos biberãos, as roupas novas a estrear, e o segundo beneficiou com a experiência de já não ser mãe de primeira viagem e com a reutilização dos bodies, que só tinham sido usados meia dúzia de vezes.

O quarto que era azul, rapidamente começou a misturar-se com tons rosa e houve sempre a preocupação de dividir o espaço entre carrinhos e bonecas. Porém, ser o primeiro e ser o segundo não é igual, não que seja necessariamente melhor ou pior, simplesmente no primeiro há a descoberta, os erros de fazer algo pela primeira vez, a inexperiência. O segundo é o desafio, multiplicar e dividir em igual parte, criar espaço para a partilha, definir prioridades e perceber a importância de sermos mais e com isso trazermos mais valor para as nossas vidas.

Diário de uma mãe

Joana Nave, 19.02.25

No fim de semana passado falhei o post, porque fiquei doente. A gripe apanhou-me, não posso dizer que tenha sido muito forte ou que me tenha arrasado, mas retirou-me energia, boa disposição e claro que me obrigou ao resguardo para ver se não pegava ao resto da família. É quando estamos doentes que nos sentimos mais impotentes, o não poder dar aquele abraço reconfortante, o beijinho repenicado, o ter mil e um cuidados e zero paciência para tudo o que acontece à nossa volta. Deixamos acumular afazeres, deixamos o inadiável em banho-maria e só a recuperação nos inspira a continuar, nem que isso represente deixar tudo para trás e passar horas intermináveis na cama a ver se o vírus nos abandona de vez.

A sensação posterior é de que não podemos voltar ao mesmo, apanhei o vírus porque o meu sistema imunitário não está suficientemente fortalecido, tenho de dormir mais, fazer mais exercício físico, alimentar-me melhor, ter hábitos de vida mais saudáveis e ter um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Estes pensamentos duram talvez um dia, até voltar tudo ao normal. Eu faço exercício físico uma a duas vezes por semana e tomo as minhas vitaminas diárias, mas o resto... Há que começar por algum lado, redefinir prioridades, focar-me no que é realmente importante, tentar melhorar.

Os pequenitos estavam preocupados, a mais nova andava de volta de mim, mais faladora, a mostrar-me que estava ali para mim, por mais que eu a afastasse para evitar que também ficasse doente. Quando finalmente lhes disse que já estava bem, foi um abraço colectivo que me atirou ao chão e que me deu a força de que necessitava para me reerguer. Eles esgotam-nos, mas têm o dom de nos dar a força vital através do amor.

Diário de uma mãe

Joana Nave, 09.02.25

Tenho-me focado muito nas questões menos boas da maternidade e talvez tenha passado a ideia que sou uma pessoa negativa e estou sempre a queixar-me. O meu propósito tem sido, acima de tudo, mostrar que a realidade pode ser bem mais cinzenta do que os cenários cor de rosa que mostram famílias felizes e sorridentes em viagens de sonho, rotinas perfeitas, roupas bonitas, e tudo o que se publica nas redes sociais. No entanto, as mãos sujas, os narizes ranhosos, o cabelo desgrenhado, os rasgões nas calças na zona dos joelhos, as nódoas que se acumulam nas t-shirts desbotadas, são as marcas das crianças realmente felizes, aquelas que têm liberdade e conforto para crescer num ambiente saudável, que se sujam, que esfolam os joelhos, que comem com as mãos, e que varrem o chão com a roupa e os cabelos, porque ser criança é experimentar as sensações do mundo que as rodeia. O cenário idílico é uma fotografia sem vida, que perpetua uma imagem, mas a experiência é muito mais que isso, é sentir com todas as células do corpo, e com essa aprendizagem crescer.

Eu sei que as pessoas são todas diferentes e um reflexo daquilo que lhes transmitiram, e sei também que podia estar menos atenta, ou não me importar tanto com os resultados, mas quero mesmo dar ferramentas aos meus filhos para que eles possam alcançar tudo o que desejarem. Se eles estiverem bem, sentirei o reconforto de missão cumprida, e não acho que tenhamos de ser todos assim, ou que o que eu faço é melhor. Eu não abdico de trabalhar e de perseguir uma carreira, e de ser cumpridora e rigorosa, porque quero ensinar-lhes pelo exemplo, e também quero que se orgulhem de mim. Por outro lado, também não abdico de acordar mais cedo aos fins de semana para os levar a actividades extra-curriculares, porque sei que estas os vão ajudar a conhecer, a partilhar e a crescer ainda mais. Quando os instigamos para praticarem actividades ao ar livre, estamos uma vez mais a dar-lhes ferramentas para que testem habilidades e se tornem menos sedentários. E há também que transmitir cultura, com passeios, filmes, livros. E há ainda que cultivar amizades, pois somos seres sociais e a nossa rede de contactos será sempre um suporte precioso para o resto da nossa vida.

Diário de uma mãe

Joana Nave, 01.02.25

Depois de sermos mães há duas certezas que passam a fazer parte da nossa vida, nunca mais estamos sozinhas e nunca mais temos descanso. São eventualmente duas questões abordadas de forma fundamentalista, mas é preciso contrariar a tendência para que não sejam a nossa forma de vida. Os filhos só são dependentes de nós até certo ponto e há mesmo um horizonte temporal mais ou menos definido para que tomem as rédeas das suas próprias vidas. Por outro lado, a questão do descanso também está muito relacionada com a rede de apoio que temos.

Para mim, há ainda a questão da responsabilidade, eu sou responsável por eles, tenho o dever de estar presente quando necessitam e tenho o dever de mascarar o meu cansaço, para que as exigências fundamentais das vidas deles possam ser cumpridas, no que respeita principalmente à fase da dependência. Quando crescerem será outra conversa, mas lá chegaremos.

Sendo realista, sinto saudades dos dias em que chegava a casa com um desgaste físico e emocional decorrente dos dias de trabalho e podia simplesmente deitar-me no sofá a vegetar, até recuperar forças para ir fazer algo útil, como dormir e acordar para um dia melhor. Os dias extenuantes ainda existem, e são ainda mais penosos com o cansaço acumulado da vida familiar, mas não há pausas, é chegar a casa e garantir que todas as rotinas são cumpridas, os banhos, os trabalhos de casa, o jantar, e a preparação do dia seguinte. Sou muito apologista de delegar, dar ferramentas e promover a autonomia, e por isso vou ensinando e desafiando a colaboração entre todos, mas claro está que não é tarefa fácil, e quando finalmente dou o meu dia por terminado, penso muitas vezes no que poderia ter feito de forma diferente para que as últimas horas do dia não tivessem parecido um campo de batalha.

Um dos meus trunfos é claramente a organização, ainda que tenha espaço para melhorar, mas há sempre que definir o equilíbrio entre a obsessão pelo zelo e a descontracção da não perfeição, e aqui reside o drama dos meus dias, como manter uma vida calma e organizada sem extremismos, sem me sentir culpada porque a casa onde vou entrar ao final do dia não está limpa e arrumada. Exigimos demasiado de nós próprios e dos outros, porque a sociedade também é exigente, somos inundados diariamente com ideais de perfeição, vidas imaculadas e auspiciosas, carreiras bem sucedidas, filhos geniais e, neste cenário o comum, o normal, parece não se encaixar nesta corrente e deixa-nos ainda mais frustrados e ansiosos.

Eu só queria não sentir esta exigência da perfeição, aceitar os percalços como desafios a ultrapassar, mas sem peso, apenas como evolução permanente e melhoria constante numa vida serena e de aceitação.

Pode parecer que a vida de uma mãe é afinal um novelo em desalinho, que não pode ser usado para tecer porque está cheio de nós, e é muito isso que se revela na maior parte dos dias, e não há que escondê-lo porque já há demasiadas pessoas a testemunhar as alegrias da maternidade, sem permitir que a verdade seja do conhecimento geral. As mães são uma espécie de super-heroínas, dotadas de energia infinita e reservas inesgotáveis, mas sofrem a dor dessa entrega incondicional e devem estar cientes do papel que vão assumir para o resto das suas vidas.

Diário de uma mãe

Joana Nave, 25.01.25

Não sei se é uma preocupação de todos os  pais que os filhos tenham acesso a uma boa educação, para que o futuro seja risonho e possam ter as melhores opções de vida. Há quarenta anos atrás ainda era comum os pais não serem licenciados, mas havia já uma consciência mais ou menos generalizada que se os filhos avançassem até ao ensino superior teriam melhores oportunidades no mercado de trabalho. A sociedade também avançou nesse sentido, com os sucessivos avanços tecnológicos, com o aumento da escolaridade obrigatória e com uma maior oferta e competitividade.

Hoje em dia, há uma oferta muito maior de bens, serviços e também de oportunidades. Não precisamos sair de casa para quase nada, a interconectividade e a globalidade permitem-nos obter tudo o que precisamos.

Esta inércia de movimento leva claramente a um estado de apatia perante os grandes desafios da vida, porque não há esforço, nem compromisso, nem entrega, é tudo demasiado fácil e dado como adquirido.

Penso que é normal projectarmos nos nossos filhos os nossos desejos reprimidos, as nossas ambições ocultas, e com isso querermos que eles conquistem em parte o que não conquistámos. A ideia da superação é positiva, porque também nos devemos superar a nós próprios a todo o instante. No entanto, muitas vezes, mais do que as que seria desejável, projectamos nos nossos filhos os nossos medos, as nossas angústias e as nossas fraquezas, porque não queremos que tenham as dificuldades que nós tivemos ou ainda temos. É por isso que nos dia de hoje temos esta ideia de que têm de aprender muitas línguas e começar cedo, porque não podem ficar para trás. Preenchemos o tempo de brincadeira e o verdadeiro lazer com mil e uma actividades que são fundamentais, a nosso ver, para moldar a personalidade deles, para lhes dar competências que lhes vão fazer falta no futuro. Ouço muitos pais dizerem-me que os filhos vão praticar futebol, porque é um desporto colectivo e é muito importante trabalhar essa competência, e eu questiono duas coisas, por um lado, onde fica a liberdade das crianças se organizarem em grupos de interesses comuns e trabalharem também a competência da iniciativa, da autonomia e da criatividade, por outro lado, porque é que deixámos de ouvir o que as crianças têm para nos dizer e lhes impomos as nossas vontades, que só estão certas na nossa geração, quando eles estiverem no nosso papel o mundo mudou uma e outra vez e o que realmente importa não terá muito que ver com o que nos preocupa actualmente.

Somos pais zelosos, interessados e participativos, pois mesmo quando não temos tempo para ir andar de bicicleta, para fazer uma caminhada, para ler histórias, levamo-los às actividades, oferecemos presentes e esforçamo-nos para que aos 10 anos de idade já sejam conhecedores de uma boa parte do mundo. Esquecemo-nos muitas vezes do que realmente os faz feliz.

Diário de uma mãe

Joana Nave, 18.01.25

Estamos no mês de Janeiro e ainda se definem planos e objectivos para este novo ano. É assim no trabalho, mas também em família, começamos a planear as férias, a marcar no calendário as datas importantes, e a fazer listas intermináveis de tudo o que gostávamos de ter e fazer. Não sendo excepção à regra, também tenho estado empenhada neste tipo de tarefas, identifiquei duas actividades físicas às quais me quero dedicar, recomecei o journaling, estabeleci os meus objectivos de leitura, e tomei a iniciativa de retomar a escrita neste blog. Para já, vou dedicar-me a um tema, seguir um fio condutor, que é simultaneamente o motivo do regresso e também o da ausência: os filhos.

Fui mãe pela primeira vez vai fazer oito anos e, apesar de não sentir que deixei de ser eu própria, tive de redefinir as minhas prioridades. Ser mãe é exigente, e desculpem mas não é para todos, se calhar nem é para mim, porque há dias em que é de facto um sacrifício. Não posso contudo deixar de explicar que sacrifício, embora seja conotado como algo negativo, é uma forma de demonstrarmos a nossa entrega a alguma coisa, uma entrega de compromisso e valor, que nos obriga a abdicar de outras formas de ser e estar para benefício de um bem maior.

A minha história não tem nada de especial, é comum e banal, mas é minha e por isso define-me e mostra quem sou. Fui mãe pela primeira vez há quase oito anos e passados quinze meses fui mãe outra vez. Ainda hoje as opiniões dividem-se, há quem me chama louca, e quem elogie a coragem. Em minha defesa, ou simples descrição dos factos, queria ter dois filhos, porque queria que o primeiro tivesse um irmão, que não fosse filho único como eu. Queria ter um menino e uma menina e quis o destino que assim fosse, então tudo correu pelo melhor. Há vantagens e desvantagens em ter filhos tão próximos, eu tento focar-me nas vantagens e atribuir a culpa dos dias menos bons às desvantagens.

A vida tem-me ensinado que o melhor é não fazer grandes planos, mas dar sempre o nosso melhor a cada instante. Na realidade nunca sabemos quando tudo começa ou acaba, é mais um viver o dia a dia com a certeza que é este momento presente que nos abraça e impele a continuar em frente. Há quase oito anos que não tenho um sono descansado, e não é porque eles durmam mal, são verdadeiros anjos, umas poucas doenças não muito preocupantes, uns pesadelos nocturnos, e pouco mais. O problema sou eu e um sono leve que veio para ficar, uma preocupação constante que faz, como muitos dizem, ter o coração a bater fora de nós, um estar sempre alerta, um matutar no passado, presente e futuro que possa dar-lhes tudo o que merecem.

Continua...

Livros de cabeceira (7) - série II

Joana Nave, 07.09.24

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Os livros são o meu vício. Leio quase sempre de manhã, enquanto tomo o pequeno-almoço, e nunca saio de casa sem um livro, porque há sempre 5 minutos de espera em que posso mergulhar e avançar na história, em vez de navegar nas redes sociais. Ler é um escape para quando quero esquecer um dia menos bom, uma forma de viajar no tempo e no espaço, sem sair da minha zona de conforto. Há livros que me deixam ansiosa, outros que quero ler muito depressa para que deixem de me incomodar. Leio sempre até ao fim, mesmo que não esteja a gostar da história ou que seja demasiado previsível. Intercalo leituras em português e inglês e apesar de gostar de ler em papel, também uso muito o meu kobo. Hoje em dia temos acesso a todo o tipo de livros, o que é fascinante, há livros para todos os gostos e interesses, escrita clássica, moderna e técnica. Sou uma ávida leitora e tento incutir esse exemplo aos que me rodeiam, falando dos livros que leio, partilhando pedaços das histórias que vou conhecendo. Não faço parte de nenhum clube de leitura, mas tenho tendência para me rodear de pessoas que gostem de ler, e partilhamos histórias e livros e é tão bom.

Leiam o que quiserem, mas leiam!

Esquemas, uma nova ou velha tendência?

Joana Nave, 27.06.22

O mundo dos esquemas é vasto e abarca as mais variadas vertentes. Há esquemas para todos os gostos, para todas as necessidades e ao serviço da imaginação de cada um. Criar um esquema pode ser fácil, se o for apenas conseguir atingir uma meta seguindo exemplos alheios, porém um esquema que pretenda alcançar um patamar superior, que não pareça o que é até atingir o fim a que se destina, já requer perícia, estudo e empenho por parte do seu criador.

Os esquemas não seguem as normas da sociedade, mas têm procedimentos que os associam e identificam como tal. São, regra geral, formas de beneficiar um ou mais indivíduos por meio de estratégias ilícitas, fraudulentas e enganadoras. O esquema não é necessariamente uma forma fácil de atingir um determinado fim, pode até ser um caminho mais ardiloso e com consequências nefastas, mas os proveitos são certamente maiores e forçosamente tentadores para que o caminho escolhido seja o do esquema e não o do trabalho comum.

Usar um esquema é uma forma de tentar ser e ter algo que de outra forma muito dificilmente conseguiríamos. Não é fácil, e não está ao alcance de todos, ser rico, famoso, bem sucedido, reconhecido, ter posses acima da média, e acima de tudo influência sobre os demais. Enveredar num esquema é um deslumbramento, quer para quem o cria, quer para quem o segue.

Um dos primeiros esquemas que conheci foi a famosa cábula escolar, que era usada para compensar a falta de estudo no aproveitamento das provas de avaliação. Os alunos tornaram-se cada vez mais criativos à medida que os professores percebiam o método e aplicavam restrições com o intuito de inibir esta prática.

Na procura de trabalho também há muitas pessoas que dizem ter conhecimentos que não têm, experiências e cargos empolados, que ficam bem numa apresentação, mas que na prática são apenas mais uma mentira com vista a conseguir o emprego para o qual se estão a candidatar.

A sociedade está cheia de mentiras, de pessoas que querem ser algo que não são. Nós podemos ser tudo o que quisermos, mas esse é o prémio do esforço, do empenho, da dedicação, a meta para quem luta e segue os seus sonhos de forma correta, justa e sem enganar ninguém, principalmente a si próprio.

Pensamento da semana

Joana Nave, 10.04.22

Dizem que o dinheiro move montanhas, que no fundo todos têm um preço, que se vendem sempre que a recompensa é alta, mas será que é mesmo este deus que governa o mundo? Talvez a economia e a política sejam escravas do dinheiro, e as relações internacionais abracem este bem precioso como lema de igualdade e outras ideias de globalidade. No entanto, nada promove tanto a humanidade como o apreço, a palmadinha nas costas, o elogio na hora certa, o reconhecimento, este sim, lidera o mais nobre dos sentimentos, a esperança.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

Rotina matinal

Joana Nave, 30.03.22

Naquela manhã sombria, Alice acordou sobressaltada ouvindo fortes rajadas de vento investindo contra os vidros do quarto onde dormia. Tinha tido uma noite agitada, repleta de sonhos surrealistas com rostos conhecidos. Espreguiçou-se lentamente, fazendo estalar todas as vértebras até à nuca, soltou dois bocejos e esgueirou-se para fora da cama. Os pés tocaram o tapete macio e procuraram com pouca precisão os chinelos. O Trovão tinha-os arrastado para junto da secretária, onde encontrou também os óculos. Vestiu um casaco de malha que usava como agasalho e foi lavar a cara para ver se espantava o sono. A água fria soube-lhe bem, massajou com as pontas dos dedos embebidas em hidratante o rosto limpo, escovou os dentes e o cabelo, e foi até à zona da cozinha preparar um café. O aroma do café forte, acabado de fazer, despertou-lhe todos os sentidos. Inspirou profundamente, fechando os olhos para saborear melhor aquele doce momento. Com a chávena de café numa mão e um livro noutra, foi até junto da janela que dava para o jardim e sentou-se no cadeirão. O Trovão apareceu a abanar a cauda e sentou-se aos seus pés. Alice olhou lá para fora, viu as árvores que dançavam com o vento, as folhas verdes que acompanhavam a dança, os pássaros recolhidos nos ninhos, e o sol tímido que espreitava no horizonte, tentando rasgar as nuvens espessas que o cobriam, para tomar o lugar da lua. Esta é uma manhã perfeita, pensou, e mergulhou os olhos nas páginas que pulsavam no seu colo, ávidas de a transportar para um mundo de fantasia.

A ditadura tem muitas formas

Joana Nave, 02.03.22

A propósito dos tempos que vivemos, em que a opressão tomou conta da racionalidade, em que os direitos humanos são aniquilados em prol do poder de um louco, a palavra ditadura surge em todo o seu esplendor, com mais eloquência do que outrora, porque de este a oeste não há quem não tenha sentido na pele o que ela representa. Aos mais novos ficam os testemunhos dos que viveram sob a influência de um ditador. De tudo o que uma ditadura implica, aflige-me a liberdade de expressão, a liberdade de pensamento e a liberdade plena como direito. A ditadura tem muitas formas e uma delas é a que impomos a nós próprios, quando calamos as nossas angústias para sermos aceites nos meios em que estamos inseridos. Não damos voz às situações que nos aprisionam na nossa condição de mais pequenos, mais pobres, mais velhos, mais debilitados e, com isso, damos força a quem nos quer vencer convencendo-nos de que somos menos. Menos astutos, menos inteligentes, menos fortes e menos capazes. Neste país onde me encontro podemos dizer o que nos apetece, até demasiado, porque algum pudor fica sempre bem e é adequado ao que é do bem comum, mas sofreremos inevitavelmente as consequências. Quando acontecem no mundo situações tão catastróficas como a que está a ocorrer neste momento, devíamos repensar todas estas atitudes mesquinhas, que rebaixam o ser humano, que lhe tiram dignidade, mas infelizmente há mais loucos por aí, disfarçados de lobos em pele de cordeiro.

Era uma vez...

Joana Nave, 23.02.22

Era uma vez um planeta azul, a que chamavam Terra. Nesse planeta havia fauna, flora, humanos e muitas comodidades. Os seres humanos reproduziam-se, cresciam, evoluíam e iam inventando formas de facilitar as suas vidas, tornando-as mais longas, com mais posses, com mais experiências. Ter e acumular tornaram-se palavras banais. Os dias foram ficando mais preenchidos de coisas e mais vazios de imaginação. A globalização aniquilou o prazer da descoberta e tornou tudo demasiado acessível. As distâncias encurtaram, as relações evoluíram do físico para o digital e a comunicação atingiu o seu auge, aproximando tudo e todos à distância de um click.

O planeta azul foi ficando saturado, por ser usado em demasia, por ser testado até ao limite. Os recursos começaram a escassear, a abundância deu lugar à extinção, e a descoberta da cura foi muitas vezes o início de uma nova doença. Os rios secaram, a água deixou de correr, os humanos foram apodrecendo na escala da sua ambição desmedida, da sua arrogância e do desprezo pelos demais. O dinheiro moveu o mundo, mas o dinheiro não o salvou.

A Terra tornou-se um lugar inabitável, onde aos poucos deixamos de ter meios de subsistência. Os alimentos que antes nos nutriam, tornaram-se veneno para o nosso corpo. O ar deixou de ser respirável e o simples acto de respirar tornou-se sufocante. Ainda tentamos promover hábitos de vida saudáveis, a conversão ao vegetarianismo, o regresso às bases, e tantas outras teorias que não puderam vingar por ser tarde demais. Na prática, estamos todos a enfrentar a desilusão e a amargura do caminho que temos vindo a trilhar, das escolhas inconscientes e da falta de amor próprio.

O planeta azul ficou muito doente e a esperança foi ficando cada vez mais distante, empurrada para bem longe pelo cruel destino que as nossas acções foram definindo ao longo dos tempos. Seguimos, mas apenas esperamos que o sol amanhã ainda possa brilhar, que a chuva refresque o chão que pisamos, regue as árvores e leve para bem longe as partículas de dor e ódio que planam no espaço que nos rodeia.

Ser mulher na sociedade actual

Joana Nave, 17.11.21

A luta pela igualdade de género em direitos e liberdade é antiga e actual, dependendo do contexto social em que vivemos. Sabemos que as mulheres ainda são muito discriminadas em países subdesenvolvidos ou países onde há uma predominância machista, sendo que esta última é sem dúvida a que tem maior relevo. Países altamente desenvolvidos e industrializados como a Coreia do Sul vêem a mulher como mãe e cuidadora, a profissional é crucificada aos olhos da crítica social, que diminui o papel da mulher instruída e liberal, subjugando-a a uma cultura que está fundamentalmente centrada no papel do homem, o pilar da família, que trabalha para a sustentar e que deve ser servido.

Em Portugal há uma grande defesa em torno do papel da mulher emancipada, com igual oportunidade de ascender a cargos de chefia e de destaque, que muitas empresas até publicitam como forma de promoverem o seu bom exemplo nesta matéria. As mulheres vão tendo relevo e notoriedade em todas as áreas, mesmo nas que antes eram sobretudo dominadas por homens.

Apesar de todos os avanços sociais não há forma de contrariar a natureza, é a mulher que engravida, que durante cerca de nove meses passa pela evolução gestacional, que está activamente no parto e no pós-parto e de quem mais o recém-nascido necessita pela parte da alimentação e da ligação estabelecida desde a concepção. É a mulher que tem uma limitação etária para procriar, assim como a que está mais sujeita ao escrutínio social quando a idade avança e permanece solteira e sem filhos.

No mundo actual e em países como o nosso é comum as mulheres serem mais liberais, dedicadas à carreira, não saberem cozinhar e optarem por não ter filhos. Estas mulheres são criticadas tanto por homens como por outras mulheres. As mulheres são condicionadas no seu papel desde a criação, em que a mulher se juntou ao homem para que este não estivesse sozinho e foi criada a partir de uma costela dele. Esta versão bíblica é advogada no papel acessório e secundário da mulher e persegue-a como uma herança de vida.