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Delito de Opinião

Pensamento da Semana

José Navarro de Andrade, 04.11.18

"E agora, José?"

 

Dá esta pergunta título a duas obras da Atlântica lingua de todos nós que valeria a pena reler, ou ler, caso ainda não se tenha feito.

A primeira é o magnífico poema de Carlos Drummond de Andrade, 68 versos de curtíssima métrica, tamanho e extensão mais do que suficiente para nos trazer à boca um amargo de fim de festa.

A outra é a colecção de ensaios de José Cardoso Pires, editada em 1977, que reúne textos de antes e durante o 25 Abril, entendendo-se aqui "durante" o tempo que durou uma esperança do autor em qualquer coisa que afinal não foi o que ele esperava.

Muito a-propósito um "e agora, José?" no dia em que o Brasil não mais será o que tem sido. 

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana

Blogue da Semana

José Navarro de Andrade, 07.01.18

Traga-se à barra Ethan Iverson. Comumente referenciado como pianista de jazz de unânime distinção, integrou até ao dia 31 de dezembro de 2017 o trio Bad Plus famigerado por fecundar (alega a defesa) ou inçar (increpa a acusação) o dito jazz com ingredentes do rock e (ó infâmia!) da pop, sem que nenhum destes haja envenenado o corpo original, é verdade, embora lhe tenham pertubado a especificidade e com isso gerado celeuma.

Ambas as partes alegam a favor e contra o arguido o seu blog DO THE M@ATH onde ele deambula opiniões acerca das exuberantes cenas musicais contemporâneas, jazz incluído mas não só. Para quem deseja desprender-se do subjugante paroquialismo a que parece estarmos condenados, e pretenda atentar ao que nas capitais civilizadas se vai apresentando e por cá chegam ecos bem mais audíveis e aprecíáveis do que crêem os distraídos, este blog traça um gosto, uma inclinação, uma escolha que não solicita concordância mas apenas curiosidade. Investigue-se.

2º ep. de: "Moribundo!? Como se em 2017 o jazz se fartou de espernear?"(Relatório à Godard, i.e., com princí­pio, meio e fim, não necessariamente por essa ordem.)

José Navarro de Andrade, 02.01.18

Ó Donald põe tento nisto que os monhés estão a tomar conta do pagode. É uma conspiração: pela calada do Outono saiu"Unfiltered Universe" do guitarrista Rez Abbasi e lá dentro insinuam-se Vijay Iyer e Rudresh Mahantappa. Vê-se logo pelos nomes que é malta de fora.

Abbasi é um paka de Carachi e aos 4 anos foi na trouxa dos pais para Los Angeles onde se calhar abriram mercearia ou loja de tapetes.

O Rudresh tem fino bico. Só foi para a América porque o pai roubou aos nativos um lugar de professor de fí­sica na Universidade do Colorado (põe os olhos em Portugal Donald, onde as academias são impermeáveis à estranja, era o que faltava).

Dos três Vijay Iyer é o mais perigoso. Já nasceu em Nova Jérsia fabricado à  pressa pelos pais que chegaram como estudantes e assim ganharam direito de residência. Pior: trocou um doutoramento em fí­sica (nesse vespeiro que é Yale) pelo jazz e agora anda de crista levantada a dar aulas em Harvard.

A malfeitoria que estes malandrins perpetram é a de mestiçar o jazz com a música carnática, original lá do Sul das Í­ndias donde eles vêm. E como são sub-reptícios fazem-no com primor e denodo. Os manhosos, ao lerem este texto, perceberão de imediato que "Unfiltered Universe" além das qualidades que lhe acham intrí­nsecas tem a perversidade de ser como um portal para a prolí­fica actividade da quadriha.

Este Vijay Iyer há quem discuta se não será o melhor pianista de jazz da actualidade. Em 2017 publicou na ECM "Far From Over" e logo o alçaram aos pí­ncaros. Uma vergonha que se repete todos os anos.

À margem, e só por desfaçatez, Rudresh e Abbasi puseram num site à venda "Agrima" por $2,50... Sim leram bem, $2,50. E logo houve quem incensasse o despautério.

Não sei onde isto irá parar Donald.

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1º ep. de: “Moribundo!? Como se em 2017 o jazz se fartou de espernear?” (Relatório à Godard, i.e., com princípio, meio e fim, não necessariamente por essa ordem.)

José Navarro de Andrade, 01.01.18

Houve festa de estalo no Dizzy's Club Coca-Cola, ali no Columbus Circle em Nova Iorque. Abrilhantavam o cartaz Archie Shepp, Sheila Jordan, os Sexmob com Steven Bernstein, os Trombone Tribe, com Josh Roseman, Ray Anderson, Steve Swell e Bob Stewart, etc.

Tamanho luxo sucedeu no passado dia 15 de Novembro, em celebração do 82º aniversário do trombonista Roswell Rudd e concomitante lançamento do seu último feito, o disco "Embrace" com a cantora Fay Victor, o pianista Lafayette Harris e o contrabaixista Ken Filiano.

Sim, Rudd sempre a experimentar, ele que circum-navegou o planeta do jazz partindo do seu ví­nculo inicial ao estilo dixieland até se tornar num prócere do free, envolvendo-se desta vez num quarteto sem bateria - não é para todos, é para quem pode - para interpretar um repertório de standards: "Something to Live For" de Billy Strayhorn, o compositor de Ellington; "Goodbye Pork Pie Hat", o requiem de Charles Mingus por Lester Young; a balada lírico-agulosa "Pannonica" de Thelonious Monk; "Can't We Be Friends", canção da Broadway.

Rudd rendeu-se? Não - "abraçou, abrangeu, adoptou". Não se espere dele digressões pelas galerias de um museu reverenciando com o remorso dos conversos as peças que antes desdenhara; a prática de Rudd em "Embrace" é a do jazz de sempre: respeitar a integridade das composções, ou seja, desafogar nelas passagens inesperadas e livres, porque o jazz, sabe-o Rudd melhor do que ninguém, é um perpétuo recomeço de conversa. O programa de "Embrace" é simples: provocar a manifestação do sublime com pequenas alegrias.

Posto isto no dia 26 de Dezembro de 2017 Roswell Rudd morreu, finalmente esvaí­do pelo cancro. Dulcí­ssimo passamento de quem em vez de murmurar pelo irrecuperável "rosebud" no leito da morte nos lega a mais bela das mensagens - "Embrace."

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Blog da Semana

José Navarro de Andrade, 07.10.17

Não negue à partida uma música que desconhece ou pior, que tem dela uma noção  auditiva influenciada pelos serôdios mas persistentes clichés do vanguardismo. Por via dos maravilhosos avanços tecnológicos o passado no jazz deixou de existir. Hoje é tão acessível o solo de Louis Armstrong em "Potato Head Blues" de 1925, como a última façanha de Christian McBride, com ou sem orquestra. E ambos, garanto, são deleitosos.

Marc Myers tem um blog onde fala de jazz com entusiasmo, sinceridade, sabedoria, encanto e sedução. Se for lá pode ser que fique convencido.

Manobras de diversão

José Navarro de Andrade, 16.07.17

É um sintoma do espantoso subdesenvolvimento cultural português, exercido pela classes que se dizem letradas e atentas, que todos os problemas se discutam reduzindo-se a questões polí­ticas e, pior, abaixados à  politiquice do jogo partidário. É o velho aforismo: quando se tem um martelo, todos os problemas são pregos.

O caso da compra da TVI-PRISA pela PT-Altice, demonstra tragicamente os equí­vocos de semelhante tacanhez. Num desplante, mas nada despropositado para quem tem interesses corporativos a defender, o Senhor Primeiro Ministro António Costa colocou as interrogações a esta operação nos termos que mais lhe convêm. Dado o tom, foi logo a banda bradar grande charivari à porta da ERC, um organismo de momento letá¡rgico, mas de génese e funções ignóbeis (qualificação que terei todo o prazer em esmiuçar em circunstâncias mais alargadas).

E no entanto os grandes dilemas criados pelas intenções da PT-Altice colocam-se num plano muití­ssimo mais determinante, influente e alarmante, do que de a preocupação e conveniência táctica de saber quem ficará a mandar no alinhamento dos telejornais - "It's economics, stupid."

Era esperado que se a PT-Altice abocanhasse a TVI-PRISA, como numa queda em dominó, a NOS se fizesse à  SIC-IMPRESA. Postas as coisas em movimento a questão fundamental é só uma:

Como será a paisagem audiovisual portuguesa?

Decorrem imediatamente daqui dois assombros:

  1. Em que outro paí­s europeu (ou mesmo mundial) CINCO indústrias (a televisão aberta, a televisão por cabo, a Internet, as comunicações móveis e as comunicações fixas) ficam agregadas numa empresa? E se a NOS executar os seus propósitos acrescentem-se MAIS TRÊS: a exibição cinematográfica e a distribuição cinematográfica. E os direitos de futebol.
  2. Que liberdade de mercado, económica, comercial e de escolha se antevêem quando tantas áreas industriais de tamanha dimensão e incidência se limitam a um duopólio?

Enquanto a discussão não enveredar por este caminho é poeira nos olhos. Boa sorte.

SULTÕES DO SWING redescobertos

José Navarro de Andrade, 30.01.17

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Aquando do atroz incêndio que desfez em cinzas o Hotel Splendid, na Av. da Liberdade, julgou-se perdida para sempre a memória das sofisticadas soirées dançantes das meias-noites de Sexta-feira.
Até que no verão do ano passado num leilão do Sotheby’s foi levado à praça o espólio da Baronesa de Koenigswarter: 3 caixotes em pau-ferro do Maiombe, minuciosamente numerados 1, 2 e 3. Dado que o aval do revestimento creditava os dotes do conteúdo, as arcas mereceram a atenção dos licitadores e foi com algum custo que o Serviço Público as arrematou.
Devassados os cofres a pé-de-cabra revelou-se o tesouro: as fitas magnéticas com o registo de todos os SULTÕES DO SWING, os requintados saraus do Hotel Splendid!
Após uma laboriosa obra de restauro levada a cabo nos apetrechados laboratórios do Serviço Público, em breve Portugal, e por extensão o mundo, poderão voltar a escutar o insuperável glamour das noites de Sexta para Sábado do Hotel Splendid.

Num pronto

José Navarro de Andrade, 06.01.17

A excitação social da semana é uma incrível briga entre púberes almadenses. Sempre alerta, as repugnadas consciências cívicas já debatem com ardor e profundidade se é de exigir justiça drástica e célere ou se há que culpar a sociedade por inteiro ou em parte. Todavia a zaragata deu-se no princípio de Novembro – porquê só agora se engasgam as vozes de comoção? Porque só agora foi posto clip nas “redes sociais”. Pavlovianamente, quando as “redes sociais” espigam as orelhas é quando a “comunicação social” dá ao rabo. Depois é só espiralar por aí acima. Assim se fabrica, fermenta e se fornece a informação e a opinião em pt. Entretanto a polícia não dorme e garantiu que as “diligências necessárias” tramitam resolutamente por todas as instâncias adequadas. Caramba, só passaram 2 meses.

2019

José Navarro de Andrade, 09.11.16

Ainda antes da tomada de posse do 45º Presidente dos Estado Unidos da América começa o êxodo maciço de latinos.
A multidão acumula-se nas fronteiras. Há quem esteja mais de uma semana à espera de passar. Erguem-se os primeiros acampamentos.
O México encerra as fronteiras de Tijuana, Mexicali, Nogales, San Luis Rio Coronado, Sonoyta e Ciudad Juarez por tempo indeterminado para reorganização.
Os tumultos e os incidentes recrudescem no lado americano da fronteira. Já são centenas de milhares que gritam “Volveremos!”. O Presidente Obama decreta o Estado de Emergência e envia a Guarda Nacional. É a sua última medida.
Residentes em El Paso dizem que em Juarez a fuzilaria é incessante dia e noite. Há quem diga ter visto rockets – “It’s a civil war down there.”
Agricultores californianos alarmam o país, não há mão-de-obra para apanhar as colheitas hortícolas. Pela primeira vez na sua história os Estados Unidos têm de importar tomate.
O presidente Trump anuncia que a independência energética será o seu primeiro objectivo e que os EUA apoiarão a produção do fracking custe a quem custar. A Arábia Saudita reduz drasticamente a venda de petróleo e o preço sobe vertiginosamente.


Com o súbito e enorme agravamento das taxas de importação dos EUA, a Mercedes, a BMW e a Audi registam uma queda vertiginosa nas vendas.
Nas eleições federais de 2017 a CDU da Chanceler Merkel tem uma derrota histórica. Larga maioria absoluta para o SPD com o slogan “Deutschland zuerst”.
Declaração do novo Chanceler: “Rejeitamos toda e qualquer forma de expansionismo. A nossa economia tem de assentar no consumo interno.” A Alemanha sai do Euro. Os bancos alemães sofrem um forte investimento do Estado para se restruturarem em função da nova política económica. É lançado um ambicioso plano económico de desenvolvimento para os estados de Mecklenburg-Pomerânia, Brandenburgo, e as duas Saxónias.
A Presidente Marine Le Pen acorda com a Alemanha uma saída simultânea da França e da Alemanha da União Europeia. As diplomacias dos dois países começam a negociar uma miríade de acordos económicos bilaterais entre França, Alemanha, Polónia, República Checa, Hungria, Áustria, Valónia, Flandres, Suíça e países escandinavos.
Os países escandinavos e a Finlândia tomam medidas conjuntas para a revogação no prazo máximo de 60 dias das licenças de residência para todos os cidadãos não-europeus, mesmo os já nascidos em solo nacional. Todas as mesquitas são fechadas, mas o culto em privado é tolerado.
Após o brexit a Escócia torna-se independente por referendo. Em Espanha o governo do Podemos promulga a independência da Catalunha e do País Basco após referendo. Segue-se a Padânia na península Itálica. Primeiras acções armadas independentistas na Córsega.

No já célebre discurso de Tallinn o Presidente Trump declara que os EUA não podem suportar sozinhos a NATO. Os representantes da França e da Turquia interrompem-no dizendo que essa afirmação é falsa.
No dia seguinte há incidentes simultâneos com guardas russos nas fronteiras da Estónia, da Letónia e da Lituânia.
O presidente Putin anuncia a operacionalidade a 100% da capacidade nuclear instalada em Kaliningardo.

Com as exportações para os EUA brutalmente reduzidas, o governo Chinês anuncia que passará a dirigir o seu investimento para a África e os países asiáticos do Índico. Entretanto procede a um ataque em forma às bolsas mundiais. A bolsa de Nova Iorque fecha durante dois dias – é o colapso financeiro nas bancas americana e europeia.
Primeiras trocas de fogo entre a China e o Japão em torno das Ilhas Senkaku / Diaoyu.
A China tenta impedir a passagem de uma esquadra militar dos EUA pelas águas territoriais das nas Ilhas Spratly.
Os vasos de guerra estão frente a frente, o mundo aguarda o discurso de Presidente Trump.

Do princípio ao fim (9)

José Navarro de Andrade, 01.10.16

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Sabem muito bem os compositores que terminar uma peça é mais difícil do que começá-la. Se o início da música pode ocorrer ao cérebro, por via daquilo a que se chama inspiração, com uma inesperada sequência de acordes e uma interessante, mesmo que débil, linha melódica, já a conclusão tem que fazer sentido. Ora o sentido é transpiração, não é inspiração.
Há tantos romances que se perdem no fim, ou porque foram para lá do que deviam, ou porque deram uma guinada insensata, ou porque se acobardaram a fechar a narrativa, deixando-a falaciosamente em aberto. Outros há, porém, que colocam o apogeu no final, que é uma forma eficaz, e por vezes brilhante, de fugir ao som sepulcral da porta que fecha e a esse acto de suprema confiança no leitor que é o de entregar ao seu critério os dilemas que o romance foi construindo e resolvendo.
E porque ao leitor cabe prosseguir o que ficou escrito da maneira que entender, os melhores finais são aqueles que não deixam o livro por terminar e libertam o leitor dele.


Talvez haja poucos remates tão melancólicos como o de “The Long Goodbye” (1953) de Raymond Chandler (1888-1959):
“He turned and walked across the floor and out. I watched the door close. I listened to his steps going away down the imitation marble corridor. After a while they got faint, then they got silent. I kept on listening anyway. What for? Did I want him to stop suddenly and turn and come back and talk me out of the way I felt? Well, he didn't. That was the last I saw of him.
I never saw any of them again – except the cops. No way has yet been invented to say goodbye to them.”


Quem fica assim, fica só na companhia de quem o lê. E quando logo a seguir se fechar o livro resta-lhe a esperança, vaga e contingente, de que a sua memória deixe algum rasto durante algum tempo.

Do princípio ao fim (8)

José Navarro de Andrade, 30.09.16

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“«La caballería ya no tiene sentido», comentó el capitán Arderíus al término de la reunión del 8 de febrero, martes.”
Assim começa assim “Herrumbrosas Lanzas” de Juan Benet (1927-1993). A melhor maneira de alegar a favor dos méritos desta escolha como admirável abertura de um livro é recorrer à frase que inicia outro livro de forma exemplar: “A beginning is the time for taking the most delicate care that the balances are correct.” (“Dune” de Frank Herbert).
Mesmo em Espanha, embora tenha atingido aquele ambíguo estatuto em que fica mal a um literato confessar que nunca o leu, a verdade é que Juan Benet continua a ser um autor secreto e intimidante, havendo poucos leitores com paciência e necessidade para se afoitarem aos parágrafos caudalosos e às oceânicas 720 páginas de “Herrumbrosas Lanzas” – livro tão lateral aos apetites literários prevalecentes que está omisso da Wikipédia.
Por conveniência editorial, que o autor artisticamente converteu em figurino folhetinesco, o livro foi publicado em 3 volumes autónomos (partes I-VI em 1983; parte VII em 1985 e partes VIII-XII em 1996) e só em 1998 saiu do prelo a póstuma edição integral, contemplando ainda as supostamente incompletas partes XV e XVI, não havendo traços das XIII e XIV em falta. A corrente edição de bolso da editora Debolsillo (ISBN: 9788499080079) traz de brinde uma carta topográfica de Region, desenhada pelo próprio Benet (de profissão engenheiro de estradas) que é uma preciosa companhia à leitura da obra.
Por uma daquelas coincidências que por vezes encadeiam a literatura, mais barrocas do que invulgares (o que confunde os idealistas, perpetuamente esperançosos de verem o dedo do transcendente a furar a casca do tangível), a história editorial de “Herumbrosas Lanzas”, no que teve de intrincada, acidentada, mas sobretudo de resoluções pragmáticas, ilustra e reflecte
a mecânica do enredo do livro.
“Herrumbrosas Lanzas” é o relato de uma ínfima e quase frívola campanha da Guerra de Espanha, desenrolada na periférica região de Region (inevitável redundância) quando as tropas e os militantes fiéis à República sediados em Region (a cidade homónima da região), lançam um assalto à franquista cidade de Macerta, através da montanha que separa os dois vales. A matéria romanesca de “Herrumbrosas Lanzas” são os planos, os preparativos, as intendências, as discussões processuais, as controvérsias bélicas e as conspirações e traições dessa campanha, havendo um bom par de batalhas expostas com a inquestionável ferocidade que nelas costuma manifestar-se. Ou seja, “Herrumbrosas Lanzas” captura o lado mais exposto da condição humana, normalmente evitado pela literatura coetânea, que prefere apascentar as personagens e as ficções pelas acostumadas vertentes da psicologia e do sentimentalismo.
Segundo Javier Marías “Herrumbrosas Lanzas” é o livro definitivo sobre a Guerra de Espanha. Desta vez é possível concordar com ele.

Publicidade descarada

José Navarro de Andrade, 15.09.16

APOLOGIA DO JAZZ

É já no Sábado, das 10h às 13H
na Livraria Férin, à Rua Nova do Almada.

É para convencer quem acha que o jazz é para velhos e sempre a mesma coisa - arrisca?

É para quem gostava de gostar, mas ainda tem dúvidas em relação ao jazz. 

É para quem já gosta e quer saber um bocadinho mais. 

É para quem já gosta e sabe e quer passar uma manhã de jazz.

Ouvir a música e as histórias mirabolantes de Louis Armstrong, Duke Ellington, Charlie Parker, Miles Davis, John Coltrane e Wynton Marsalis.

Blogue da Semana

José Navarro de Andrade, 04.09.16

Imagine-se com tempo e vontade, ou necessidade, ou curiosidade. Se quisesse demorava um dia a dar a volta ao mundo da informação sem gastar um cêntimo. Começava, por exemplo, pela New Yorker, passava ao Libé, ia pelo El País, espreitava a Folha de S. Paulo, descontraía no NPR, sabia sobre filmes na FilmComent, e com facildiade descobriria mais 18 publicações onde perder uma hora em cada até voltar ao princípio do dia.

Para desanuviar recomenda-se o Bored Panda, a única revista do mundo que edita criteriosamente assuntos de interessa para pandas. Como todos temos de panda um pouco, isto se calhar é connosco. Vendo bem, mais vale ficar por aqui.