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“At the end of a school day you leave with a head filled with adolescent noises, their worries, their dreams. They follow you to dinner, to the movies, to the bathroom, to the bed.”
Frank McCourt, Teacher Man.
O malogrado Frank McCourt da minha querida Ilha Esmeralda não poderia ter descrito melhor este mester de se ser professor. No fim do dia são os momentos falhados, as frustrações de se saber que talvez se pudesse ter feito melhor, as expressões do olhar. Ontem trouxe uma dessas para casa, agarrada a mim, os olhos aflitos da rejeição, as lágrimas quase a saltar. E estarão comigo. Seguem-me. Perseguem-me. E depois há os momentos bons, plenos, conseguidos e que dão sentido à profissão, um sorriso, um caminho bem trilhado, uma aula bem-sucedida e o sorriso que fica quando abandono a escola, atravesso a estrada e julgo que assim a deixei lá, os deixei lá, enganando-me a mim própria.
A minha mesa-de-cabeceira é ecléctica. Nunca tem apenas um livro e reflecte sempre o que sou: professora, mulher, leitora curiosa que paira por vários sítios, escolhe um poiso temporário e parte para outras paragens. Tenho entre mãos os manuais de Alemão, um livro de sugestões didácticas e, por fim, um empréstimo de uma colega, A Purga , sobre a história de duas mulheres que se cruzam na Estónia depois da queda do Muro de Berlim, um dos meus momentos preferidos da História. Para a semana mudarão. Manter-se-á A Purga, vou sensivelmente a meio, e outros substituirão os manuais. Sou muitas e nunca sou a mesma.