Venturoso

Estando eu absorta na visualização da “entrevista” do chegano na CNN, não estava a prestar minimamente atenção às palavras da minha neta, que tanto quanto vim depois a constatar, entabulara conversação havia algum tempo e, em não obtendo qualquer resposta, ipirangueou alto e bom som: "Mas estás a ouvir ou não, avó?” O quê? Disseste o quê? ”Fartei-me de falar várias coisas e tu nem ouviste.” És capaz de ter razão. Diz lá então… “Estava eu a dizer que não percebo a tua azia com Ventura, porque ventura é uma coisa boa, até tivemos um rei que foi chamado Venturoso, por ter alcançado grandes feitos."
É uma espertalhona, a minha neta, mas tem ainda muito caminho para andar para bater em trocadilhos uma “trocadilheira” diplomada. “É verdade que ventura é uma palavra positiva e de bons augúrios, mas neste caso particular em que Ventura é apelido, não se deve aplicar, por falta de fundamento verídico, porque tanto quanto sei, não se refere a uma pessoa venturosa. É uma espécie de paradoxo. Sabes o que é paradoxo?" ”Não, acho que não…" “É uma afirmação que significa algo e também o seu contrário.” Como assim? “Por exemplo dizer que uma piada é séria, é um paradoxo… deu para perceber?” "Como quando dizes que menos é mais?" "Exactamente!”
“Este Ventura, de ventura só tem apelido, neta. Não vale o sal que come. É dono de uma política desventurada, de um discurso viciado e de uma visão obtusa. Não é flor que se cheire. Não tem mesmo nada de D. Manuel I, certo?" "Não sei. Tenho de me informar melhor, mas és capaz de ter razão”.
"Faz isso. Democracia é isso mesmo, cada um deve ser livre de pensar pela sua própria cabeça, opinar e até mesmo contrariar as mais sensatas ideias avoengas." ”Podes explicar-me o que é democracia…" Posso tentar, mas hoje não. Palpita-me que tenho de me preparar bem melhor.





















