Coisas boas do apagão
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Com tantas Inteligências Artificiais a serem criadas, ainda iremos descobrir que este apagão foi o primeiro ataque do Skynet.
(Fonte).
Ler na cama é um desporto do qual estou reformado: com a velhice, nem o pescoço nem os olhos se prestam já a tais acrobacias. A mesa de cabeceira limita-se agora a ser... mesa de cabeceira, tendo a sua tarefa literária sido herdada por uma (também) velha mesa que reside no meu quarto.
A fotografia supra pode levar algum visitante mais precipitado a deduzir a balbúrdia. Não é verdade: há ali um método e muito fácil de descrever. A pilha da esquerda está reservada a livros e revistas cujo formato facilita o seu transporte na mochila: são estes os que viajarão entre o Seixal e Lisboa. Para o meio, vão as revistas ainda por ler com dimensões que desaconselham o seu consumo fora de casa. Na pilha da direita, enquanto não descobrir forma de as arquivar com dignidade (nesta casa, arrumar as papeladas tornou-se um nível avançado de Tetris), vão-se depositando as revistas lidas.
Não vou ser exaustivo na descrição deste centro-direita. A última revista que li, comprei-a porque, sendo eu um miníaco, padeço também de alfismo. Antes desta, uma velha revista cultural brasileira do início dos anos 80, resgatada ao fundo do inventário de um alfarrabista, que contém uma longa entrevista a Jorge Amado, uma (menos longa) entrevista a Wendy Carlos, um texto de Dick Gregory sobre a sua viagem ao Irão durante a crise dos reféns americanos, duas análises a fenómenos pop brasileiros daquela época, e um par de contos vagamente psicadélicos.
Na coluna dos livros (e revistas alivradas), os primeiros três são releituras planeadas para o Verão - e proteladas para o Outono. Depois, um livro sobre Albufeira publicado pela Arandis, uma editora algarvia. A Máquina Mágica é uma colectânea de textos publicados pelo autor numa coluna de "passatempos computacionais". O livro do Carlos Fiolhais, comprei-o por ser de quem é. Seguir-se-ão um par de edições da Crítica XXI; uma colectânea de entrevistas da Paris Review; e o primeiro número da Granta portuguesa, que comprei há anos em promoção na feira do Livro e nunca cheguei a ler.
Pelo menos, é este o plano. Nada garante que, entretanto, a ordem não seja refeita por um qualquer capricho, ou que um novo livro não tenha entrada directa para o meio da pilha ao invés de ir para o fim.
"Foi um desfecho imprevisível já que, até ao final da tarde de ontem, Ursula von der Leyen, António Costa, Roberta Metsola e Kaja Kallas eram dados como (quase) certos para liderar a Comissão Europeia (CE), o Conselho Europeu (EUCO), o Parlamento Europeu e representar a política externa da UE ao mais alto nível, respetivamente. A surpresa chegou momentos antes do arranque do encontro informal entre os líderes, em Bruxelas, quando os sociais-democratas pediram a rotação da presidência do EUCO entre os socialistas e o PPE, dois anos e meio para cada um. Uma proposta que não terá agradado aos socialistas dentro da sala, que esperavam que o primeiro, e um eventual segundo mandato (que tipicamente é garantido), ficasse para António Costa." - Eco, 18-06-2024.
Tão giro, ver os socialistas europeus abespinhados por lhes estar a ser imposto um "compromisso" semelhante ao que os socialistas portugueses impuseram para a presidência da Assembleia da República.
«O antigo chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, que tinha 75.800 euros em “dinheiro vivo” numa estante, disse ao procurador Rosário Teixeira (que liderou as buscas da Operação Influencer à residência oficial do primeiro-ministro) que não se lembrava de ali ter aquele dinheiro." - Observador, 17/06/2024.
Quem nunca encontrou, ao virar as almofadas do sofá ou quando esvazia a mochila, uns trocos há muito esquecidos?
Hoje em dose dupla:
Ana Catarina Mendes acusou o governo de "fazer uma catadupa de anúncios para criar a ideia que é falsa de que estaria a governar".
Ainda Ana Catarina Mendes: «Governar não é anunciar ou inaugurar. Governar não é fazer oposição ao anterior Governo".
Não sei ainda com quantos deputados o PCP ficará, mas uma das frases da noite já foi dita por João Ferreira: "Podemos dizer que [as projecções] parecem apontar para um cenário de resistência da CDU.". O PCP faz-me lembrar o Cavaleiro Negro dos Monty Python:
«A passagem de Pedro Nuno Santos por Guimarães, no domingo, onde participou numa arruada pelas ruas estreitas do Centro Histórico, ficou marcada pelo furto de várias carteiras a elementos da caravana socialista.»
Cavaco Silva entreteve-se, em artigo de opinião publicado no Público, a desconstruir a narrativa das "contas certas" de Costa. Quando sair daqui a bocado, vou comprar uns quantos baldes de pipocas: a pavloviana raivinha de muitos vai ser um filme divertido de ver - e que, seguramente, se estenderá pelo dia inteiro.
Foi-me impossível ouvir o comício de ontem de António Costa sem recordar o texto que João Gonçalves publicou na terça-feira, um par de horas antes de Costa anunciar a sua demissão:
«Apresentar a ou b como “melhor amigo” de António Costa é uma contradição nos termos. Costa não tem amigos, “melhores” ou “piores”. Tem, e deixa de ter, pessoas que servem objectivos. Uma vez alcançado, ou não, o objectivo é cada um por si e Costa por Costa.»
«Vítor Escária não sabia “muito bem o que fazer” ao dinheiro, afirma o seu advogado.
O advogado de Vítor Escária, Tiago Rodrigues Bastos, falou aos jornalistas no Campus da Justiça em Lisboa, afirmando que “Vítor Escária foi confrontado com uma quantia avultada e que efetivamente não sabia muito bem o que lhe fazer, era uma questão que ele estava a ponderar como fazer”.»
«Fico muito triste com um país que cultiva, que tem esta cultura da suspeição generalizada, sobre tudo e sobre todos.»
António Costa Silva, ministro da Economia, 17/01/2023
"Fomos surpreendidos esta semana por um processo judicial com suspeitas muito graves. Não posso deixar de partilhar que a apreensão de envelopes com dinheiro no gabinete de uma pessoa que escolhi trabalhar, envergonha-me e peço desculpa aos portugueses”. - António Costa, hoje.
Adenda: eu, cínico, reparo que Costa disse estar envergonhado com a apreensão dos envelopes no gabinete, não com a existência dos envelopes no gabinete.
É bom, nestes tempos interessantes que vivemos, recordar António José Seguro. Em 2014, dizia ele numa entrevista: "O PS associado aos negócios e interesses é apoiante de António Costa". A isto, o nada augusto César dos Açores, mandatário de Costa, respondeu com a sua habitual elegância ser "uma entrevista de uma pessoa que acha que adquire milagrosamente autoridade e crédito na proporção apenas da insinuação difamatória e do efeito de ruído que produz". E quem foi que acusou Seguro de fazer declarações que tinham "como único objectivo emporcalhar o espaço público"? Espantemo-nos: Galamba.
- António Luis, vem já aqui!
- Sim, mãe!
- O pacote dos biscoitos está vazio. Quem foi que os comeu?
- Foi o mano.
- Disseste que foi o teu irmão? Então como é que és tu quem está com a camisola cheia de migalhas e com a cara e os dentes todos esborratados de chocolate?
- Ah!... Olha, expressei-me mal.