Uns quantos álbuns de 2014 (20)
Abandoned City, de Hauschka.
Cheguei a Hauschka (o alemão Volker Bertelmann) através da violinista Hilary Hahn quando, em 2012, os dois lançaram Silfra, uma dúzia de temas improvisados. Hauschka já lançara vários álbuns por essa altura, incluindo Salon des Amateurs, de 2011, onde Hahn também colaborou. A base da música do alemão é o piano, preparado com vários objectos para lhe modificar o som (à la John Cage, embora Hauschka afirme que desconhecia o trabalho de Cage quando teve a ideia). Tanto Salon des Amateurs como Abandoned City funcionam muito à base de ritmos. As melodias são simples mas os temas adquirem complexidade e sofisticação devido aos efeitos (introduzidos pelos objectos mas também por atrasos e reverberações electrónicas) que, mesmo quando ele não tem convidados (como em Abandoned City), geram um leque de sons que parece impossível terem resultado apenas de um piano. Evocando cidades reais abandonadas na sequência de acidentes ou conflitos (Pripyat, perto de Chernobyl; Agdam, no Azerbeijão), Abandoned City é por vezes melancólico, por vezes ameaçador, por vezes quase dançável. Sendo talvez o trabalho mais depurado de Hauschka, deixa ainda assim no ar a questão de saber até onde será ele capaz de levar o conceito. A resposta, porém, também pode estar no álbum: Who Lived There, um tema suave e melódico, indicia que o alemão possui capacidades criativas suficientes para, se for necessário, dispensar a introdução de bolas e de pedaços de papel no piano.
(E pronto. Esta série fica por aqui.)