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Delito de Opinião

Uma obra maior

Paulo Sousa, 06.12.22

Não sei quantas vezes já vi cada um dos filmes da trilogia O Padrinho. Mesmo assim, de cada vez que ali regresso, continuo a conseguir deliciar-me com mais um detalhe. Por vezes encontro um novo, de que nunca tinha notado e vão sendo cada vez mais difíceis de encontrar, outras vezes são apenas um daqueles muitos que preenchem toda a história da família Corleone.

O primeiro filme desta triologia foi lançado em Março de 1972, o que faz deste clássico um belo cinquentão. Há dias revi novamente umas passagens.

Depois de ter assassinado Sollozo e McCluskey num restaurante em Nova Iorque, Michael Corleone (Al Pacino), esconde-se na Sicília profunda. Durante um bucólico passeio a pé até à vila de Corleone, que casualmente lhe deu o nome, Michael conhece a que virá a ser a sua primeira esposa, Apollonia, representada pela lindíssima Simonetta Stefanelli. Tudo isto acontece sob segurança permanente garantida por dois tipos armados de caçadeira.

Toda a sequência é maravilhosa. A música criada por Nino Rota para este trecho é de uma beleza superior.

A cena passa-se no Verão. Numa estrada poeirenta, uns soldados americanos dentro duns Jeep Willys, passam sem parar pelo trio composto de Michael e os seus dois capangas. Estamos no pós-guerra e os americanos são os novos amigos de Itália. Um dos seguranças de Michael acena grita inocentemente para lhes chamar a atenção.

- Take me to América, G.I., hey, hey hey, take me to América, G.I. Clark Gable, Rita Heyworth…

Perante a total indiferença destes, desabafa com um:

- Mannaggia miseria!

Pouco depois, cruzam-se com um grupo de mulheres, onde se destaca Apollonia. Ela e Michael olham-se nos olhos e ele fica como que, nas palavras do seu guarda-costas, “atingido por meteorito”. Mesmo avisado que as mulheres sicilianas são mais perigosas que espingardas, o filho do mafoso novaiorquino não esmoreçe, e o espectador entende que a história não vai ficar por ali.

Para se refrescar, o trio continua a pé até uma tasca ali próxima, o Bar Vitelli. Com tanto calor, um dos seguranças transporta a caçadeira ao ombro enquanto arrasta pelo chão um saco de tiracolo. Ouvem-se uns cães a ladrar à distância e o espectador sente o vento quente que varre a sombra garantida por um toldo ao lado da entrada da tasca. Ao vê-los chegar, o dono do estabelecimento grita para o interior para que tragam vinho para estes clientes. A sonoridade musical da língua italiana dá cor a toda a cena.

O Padrinho 1.jpeg

Cena de O Padrinho 1

Depois de elogiar a beleza das mulheres daquela terra (di questo paese)  o trio fica a saber que a Apollonia é filha do dono da tasca. Ele que começa por reagir ofendido pelos comentários que lhes tinha ouvido antes, mas acaba por aceitar o respeitoso pedido de Michael, de poder conhecer e namorar Apollonia.

Após uma breve passagem por um almoço de domingo, onde o endinheirado americano distribui prendas para todos, tudo fica bem encaminhado e, pouco depois, lá vai o par de namorados, num passeio a pé, por um caminho empoeirado. Uns instantes depois vemos que são vigiados de perto por um grupo de mulheres da aldeia. E poucos metros atrás de todos, seguem os capangas de caçadeira em riste.

Adorei fazer este postal. Obrigou-me a ver este excerto três ou quatro vezes.

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