Uma coutada do "macho ibérico"
Curioso: em todos os órgãos de informação deparamos diariamente com copiosas e exaustivas prelecções sobre a necessidade de estabelecer mecanismos de paridade que assegurem o aumento da participação feminina na sociedade portuguesa, mas são raríssimos os media que asseguram essa participação dentro de portas.
Eis um caso evidente daquele velho princípio do São Tomás: faz o que ele diz, não faças o que ele faz.
Comecemos pelas televisões. Todas dirigidas por homens.
Ricardo Costa, na SIC. Sérgio Figueiredo, na TVI. Paulo Dentinho, na RTP. Octávio Ribeiro, na CMTV.
Nos jornais diários, vemos o mesmo Octávio Ribeiro à frente do Correio da Manhã, Ferreira Fernandes recém-nomeado director do Diário de Notícias, David Dinis encabeçando o Público, Afonso Camões na liderança do Jornal de Notícias, Mário Ramires dirigindo o i, André Veríssimo conduzindo o Jornal de Negócios.
Nos desportivos, Vítor Serpa dirige A Bola; António Magalhães, o Record; José Manuel Ribeiro, O Jogo.
Homens, apenas homens.
Tal como na agência Lusa, dirigida por Pedro Camacho.
Domínio absoluto masculino igualmente ao nível dos jornais digitais.
José Manuel Fernandes dirige o Observador, António Costa lidera o Eco, Mário Rodrigues está à frente do Notícias ao Minuto.
E nos semanários?
Pedro Santos Guerreiro dirige o Expresso, Mário Ramires dirige o Sol, Eduardo Dâmaso dirige a Sábado, Filipe Alves dirige o Jornal Económico, João Peixoto de Sousa dirige a Vida Económica.
Mas aqui encontramos a primeira excepção feminina num reduto quase apenas reservado a homens: Mafalda Anjos, directora da revista Visão.
Finalmente, as rádios de expansão nacional.
Quem lidera a informação radiofónica? João Paulo Baltazar na Antena 1, Arsénio Reis na TSF, Graça Franco na Rádio Renascença.
A emissora católica é assim a segunda - e última - excepção ao domínio quase absoluto do "macho ibérico" no jornalismo português.
Em 26 títulos, 24 são dirigidos por homens. Noventa e dois por cento.
Mas tenho a certeza de que continuaremos a ler, ver e ouvir excelentes peças em todos estes órgãos de informação denunciando inadmissíveis "discriminações de género" na sociedade portuguesa.