Uma causa
A realidade da vida e o desejo de higiene distanciaram-me desta campanha eleitoral. Isso não impediu que eu visse, com alguma surpresa, as sondagens transformarem o PS de arrogante "isto é um passeio talvez até rumo à maioria absoluta" em aflito "aiaiai vamos lá a ver se ganhamos isto nem que seja por poucochinho". As sondagens, sabe-o quem me conhece, merecem-me cada vez mais cautelas: li que algumas das que vieram a público baseiam-se em não mais do que 150 respostas válidas, o que resulta no curioso facto de previsões para a composição do parlamento basearem-se em menos sondados do que os ocupantes do próprio parlamento.
Mas, apesar das minhas cautelas, uma tendência insinua-se: proximidade dos maiores partidos; proximidade dos blocos de pequenos partidos; e proximidade dos grandes blocos direita/esquerda. Quando alguém como Vital Moreira avança explicações para uma hipotética derrota eleitoral de Costa, é sinal de que o PS está a levar a sério a ameaça.
[E nessa - remota, prevejo - eventualidade, até tremo a imaginar capas do Expresso comparando a derrota pós-covid de Costa à derrota pós-guerra-mundial de Churchill].
Quem me conhece também sabe a minha opinião sobre o eleitorado: Portugal é um país cujo centro de massa político está bastante desviado para o lado esquerdo. Nos últimos vinte e sete anos, recordo, o PS perdeu o poder apenas em duas ocasiões: após a fuga de Guterres de um pântano de onde fumegava o cheiro a bancarrota; e após a bancarrota de Sócrates.
O que explica, então, este evoluir das previsões?
Eu avanço com uma teoria:
Finalmente, parece que encontrámos uma causa capaz de federar o eleitorado de centro-direita e até atrair algum de esquerda com bom gosto: a emigração do insuportável Tordo-pai.