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Delito de Opinião

Um momento de clarificação

Paulo Sousa, 01.03.22

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A União Europeia, do alto do seu incrível currículo de mais de sete décadas de paz, é frequentemente acusada de representar uma sociedade pós-bélica, o que, para os seus críticos, é uma fragilidade. As opiniões públicas dos seus diversos países, que já nasceram e cresceram em paz, perante tão óbvias vantagens na colaboração e na partilha, não aceitam sacrificar vidas humanas para acertar contas com a história ou pela vã glória de mandar.

Se o ataque da Rússia de Putin à Ucrânia serviu para alguma coisa, foi para unir a Europa na condenação de tal acto. Ao contrário do que aconteceu na ocupação da Crimeia e de parte do Donbass, desta vez a UE passou a linha das declarações vagas, gelatinosas e inconsequentes. Pela primeira vez na sua história, as instituições europeias decidiram gastar parte dos seus milhões na compra de armas, e até a sempre neutral Suíça irá acatar integralmente as sanções europeias contra a oligarquia russa.

Estes últimos dias serviram também para que esta sociedade pós-bélica, de que felizmente fazemos parte, entenda que a liberdade tem um custo – como os americanos dizem Freedom it’s not for free – , e que a diplomacia sem pelo menos um pau, não tem força. Mesmo os mais lunáticos finalmente entenderam que pertencer à NATO não é um capricho.

Descobrimos (muitos já o sabíamos) que os fofinhos partidos anti-sistema que adoram as luzes da ribalta e de proclamar soundbytes sonantes, que insistem em negar os crimes soviéticos, que privam a apoiam ditadores sanguinários, são uma quinta coluna apostada em enfraquecer as instituições e os valores que partilhamos.

Os recentes crimes de Putin e do seu círculo próximo, mostraram-nos também por que é que temem uma democracia à porta de casa. Se a vizinha Ucrânia se tornar próspera e funcional, e for capaz de proporcionar uma vida digna aos seus habitantes, os russos irão querer algo idêntico.

Essa é também a força de uma democracia razoavelmente decente. Nunca nenhum povo aceitaria ficar isolado do mundo para, à força da bomba e deixando um rasto de sangue, defender algo como o que Putin defende. É por isso que os déspotas não gostam da ordem liberal, e dos contra-pesos da democracia. E é exactamente por isso que esta deve ser defendida.

É também por isso que a geringonça que nos governou não deixou de ser uma aliança com o diabo, personalizado pelos partidos que nestas horas mostram aquilo que realmente são e o que verdadeiramente defendem.

Pena é que também, e mais uma vez, a ONU não consiga estar à altura dos acontecimentos. Se o seu secretário-geral quisesse honrar o propósito da Organização que lidera, deveria deslocar-se à Ucrânia, visitar as vítimas da guerra e participar nas conversões entre as partes beligerantes. Mas no que toca a gestos simbólicos, ele prefere ir lavar os pés a uma praia tropical.

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