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Delito de Opinião

"Um mar de ruínas"

Pedro Correia, 12.06.17

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 François Hollande e Benoit Hamon

 

 

«Nada grandioso será alguma vez conseguido sem grandes homens.»

Charles de Gaulle

 

Lembram-se de François Hollande, o indivíduo que segundo alguns arautos lusos proclamavam ruidosamente há cinco anos, iria  revitalizar a débil esquerda europeia?

Hollande, bem avisado, decidiu não se recandidatar ao Eliseu: à beira do fim do mandato inaugurado em 2012, a sua taxa de popularidade entre os franceses era de longe a mais baixa da V República, fundada em 1958 pelo general De Gaulle. O delfinato possível do chefe do Estado cessante foi assegurado pelo medíocre Benoit Hamon, sufragado pelas "primárias" - o último grito da moda Outono-Inverno da saison política parisiense - mas arrasado nas urnas quando deixou de se jogar a feijões e houve eleições a sério: recolheu apenas 6,3% dos votos, ficando na quinta posição entre os candidados à corrida presidencial.

A primeira volta das legislativas francesas acaba de traçar um retrato fidedigno do Partido Socialista Francês, avaliando-se assim o verdadeiro legado político de Hollande: entre 7% e 10%. "Um mar de ruínas", na justa definição do Libération. Com o Presidente Emmanuel Macron a vencer, como se esperava, por intermédio do seu novo partido pós-ideológico, República em Marcha - criado só há 14 meses. Numa prova de que em democracia tudo pode transformar-se.

Há umas semanas, o ex-primeiro-ministro Manuel Valls causou imenso escândalo ao anunciar que o PSF estava morto. Tinha razão, como esta catástrofe eleitoral confirma. Resta aos socialistas franceses encerrar para balanço, imitando o que François Mitterrand fez em 1969, na ressaca do Maio de 68, ao mandar sepultar a defunta SFIO [Secção Francesa da Internacional Operária] num congresso do qual emergiu o Partido Socialista, agora falecido aos 48 anos. Paix à son âme.

3 comentários

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    Pedro Correia 12.06.2017

    Isso é uma treta. Vivemos num mundo cada vez mais pós-ideológico, como aliás o Brexit e as eleições francesas bem demonstraram. Quanto maior "robustez ideológica" tiver um partido, mais afugenta os eleitores e mais penalizado é nas urnas. Veja o que acaba de suceder com Mélanchon e Marine Le Pen, por exemplo.
    Qual é a ideologia de um Putin? E de um Trump? E de um Erdogan?
    Que ideologias se confrontam na vida política brasileira? Alguém consegue descortinar alguma?
    Qual é a ideologia da classe dirigente chinesa, que gere um dos maiores impérios financeiros do planeta? Abraça o plutocraxismo (misto de plutocracia e marxismo)? Ou será antes comunocapitalista?
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    Einsturzende neubauten 12.06.2017

    Meu caro, a ideologia de hoje é igual à de ontem. Servem-se dela para ganhar eleições. E a ideologia existe, hoje. Sendo concorrente, complementar e antagonica da de ontem. Não tendo ainda nome não significa que não se pense, não se tenham projectos políticos e sociais. Putin é diferente de Merkel. Trump, de Trudeau....essa da pós verdade é treta. Apenas é um convite ao alheamento do eleitor de modo a fazê -lo desinteressar-se do que importa. Da politica e dos que em nome do governo, se governam
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