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Delito de Opinião

Um herói caído em desgraça

Diogo Noivo, 15.08.17

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Em Espanha, Alberto Casillas foi um herói para os manifestantes anti-tudo. No dia 25 de Setembro de 2012, jovens "indignados", pertencentes a movimentos anti-sistema, anti-globalização e a uma lista infindável de associações ditas cívicas, promoveram a iniciativa Rodea el Congreso ("Cerca o Parlamento", um mote que, como é bom de ver, jorra civismo por todo o lado). Houve excessos por parte dos manifestantes e a polícia espanhola não é famosa por ser meiga. Aqueles que não foram detidos procuraram refúgio. Os que entraram no bar El Prado, em Madrid, tiveram a protecção de Alberto Casillas Asenjo, um empregado de mesa que se meteu entre os manifestantes e o corpo de intervenção. Alberto disse à polícia não querer violar a lei, mas foi irredutível na defesa dos manifestantes que se encontravam dentro do bar, afirmando que não autorizaria um "massacre". As imagens do acto de bravura de Alberto tornaram-se virais. Os colectivos anti-tudo saudaram o herói e desdobraram-se em agradecimentos laudatórios nas redes sociais.

 

Passaram uns anos e Alberto Casillas voltou às notícias: em 2014, interrompeu um acto público, em Madrid, onde Pablo Iglesias, caudillo do Podemos, era o convidado principal. Iglesias, que assessorou o regime chavista e que dele conseguiu financiamento para criar o Podemos, entretinha-se a criticar a "casta", os políticos "de siempre". Alberto levantou a voz e perguntou ao líder do Podemos se não tinha vergonha de ter assessorado o regime venezuelano. "Mi esposa no puede comprar papel ni comida", disse Alberto, que tem a mulher e a filha a viverem na Venezuela. Alberto foi expulso da conferência. Ao regressar ao trabalho no bar El Prado, Alberto encontrou ameaças e insultos e, uns tempos depois, o desemprego.

Este ano, num outro acto público onde representantes do partido Izquierda Unida se deleitavam a branquear a manipulação eleitoral e o autoritarismo do regime de Nicolás Maduro, Alberto volta à carga para dizer que o rei vai nu. "Están matando a jóvenes!", gritou, incomodando a fina flor da extrema-esquerda espanhola. Acabou na rua.

 

A avaliar pelo que fez no passado e pelo que fez agora, Alberto deve ser um tipo decente. Parece ter o coração no sítio certo. No entanto, acabou proscrito por aqueles que o elevaram ao Olimpo. O crime de Alberto foi o de não entender que para a extrema-esquerda a violência policial num Estado de Direito é hedionda, mas quando perpetrada por um regime autoritário afim é uma defesa legítima da soberania nacional. Agora não o aplaudem.

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