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Delito de Opinião

Um dia todos seremos julgados

Pedro Correia, 07.06.22

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Mariúpol, Ucrânia, Abril de 2022

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Butcha, Ucrânia, Abril de 2022

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Irpin, Ucrânia, Abril de 2022

 

Um dia seremos todos avaliados pelas opiniões que emitimos nestes dias terríveis de 2022. Em que a maior potência atómica do planeta, imaginando-se acima de qualquer travão, a coberto de qualquer crítica, à margem do direito internacional, invadiu um país vizinho com a intenção declarada de o riscar do mapa. Imitando, passo a passo e argumento a argumento, o que a Alemanha nazi fez nos anos finais da década de 30, dando origem à II Guerra Mundial. Causando um número ainda incontável de vítimas inocentes - incluindo crianças, deficientes e velhos. Destruindo inúmeros alvos civis - incluindo escolas, creches, hospitais, maternidades, enfermarias, igrejas, teatros, museus, lojas e habitações. Provocando a maior deslocação de refugiados na Europa em oito décadas: cerca de 15 milhões de pessoas até agora. 

Tudo isto não numa região remota, algures no globo, mas no continente onde vivemos e que consideramos nosso também.

 

Nesse dia outros lembrarão onde estivemos.

Onde nos situámos.

Quem disse o quê.

Serão mencionados aqueles que se pronunciaram a favor da Ucrânia invadida ou da Rússia invasora.

Saber-se-á com minúcia quem escreveu em solidariedade ao agredido ou em aplauso ao agressor.

Ficará claro, nesse dia em que a poeira assentar, quem se atreveu a chamar "libertação" ao impiedoso bombardeamento de Mariúpol, transformada num mar de ruínas. Como se Guernica em 1937, Coventry em 1940 ou Dresden em 1945 tivessem sido "libertadas".

 

Nesse dia, todos seremos julgados. Não apenas pelas opiniões que emitimos neste ano com tintas de apocalipse, mas pelo silêncio cúmplice que alguns mantiveram. Muitos. Demasiados.

Os Pilatos contemporâneos, que lavam as mãos e olham para o lado, fingindo nada ver. Os "equidistantes", incapazes de tomar partido entre verdugo e vítima. Os "realistas", mais preocupados em "não humilhar" o violador do que em socorrer a nação violada. Os arautos da rendição a que chamam "pacifismo", incapazes de perceber que não existe paz sem liberdade.

Nesse dia, alguém perguntará: «O que disseste e o que fizeste em 2022?»

A todos. Aos que falaram - uns em louvor do crime, celebrando a razão da força, outros erguendo-se contra ele, convictos da força da razão. E aos que calaram, exibindo uma indiferença neste caso também tingida de sangue. Porque assistir a um crime em silêncio é cometer um crime também.

4 comentários

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    Pedro Correia 07.06.2022

    Então cale-se, Luís Lavoura.
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    Carlos Sousa 07.06.2022

    Desta vez o balio tem razão.
    Se ele fala da guerra é criticado, se ele está calado também é criticado. Um homem assim fica desorientado.
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    Pedro Correia 07.06.2022

    Ninguém o impede, ora essa. Balio pode balir à vontade.
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