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Delito de Opinião

Um buraco na ideologia

Paulo Sousa, 02.05.22

Um dia no futuro, estas duas primeiras décadas do sec. XXI serão olhadas, não rigorosamente pelos mesmos motivos, mas com a mesma incredulidade com que hoje olhamos para o que se passou no início do século sec. XX.

Como é que foi possível deixar que o caos se instalasse e progredisse ao ponto de uma ditadura ser vista com simpatia?

Como é que foi possível anestesiar o país ao ponto de chegarmos aos dias de hoje com uma maioria absoluta do partido responsável por duas décadas de estagnação, por uma falência, com uma mais que duplicação do peso da dívida em relação à riqueza do país e com um primeiro-ministro que mercadejou em funções?

Por mais que se tente explicar, os nossos descendentes não irão entender nem aceitar.

Haverá vários motivos que explicam esse mistério, que se prendem com algo sobre o qual já aqui escrevi e que resulta da crise de ambição dos portugueses. Todos já ouvimos, até usamos, expressões, como Antes assim que pior, Cá vamos andando devagarinho, Uma perna partida? Tiveste sorte que a outra ainda mexe, e em todas elas encontramos o conformismo e o encolher de ombros que explica o voto naqueles que garantidamente não querem fazer reformas, sendo exactamente esse o seu factor crítico de sucesso.

O estado absorve mais de metade da riqueza criada e, como se fosse dona dela, distribui-a pela rede clientelar que se foi acomodando à procura de uma beirinha que pingue. Enquanto pingar, não há que levantar ondas e toca a torcer para que isto continue.

Para que o estado reduzisse o seu peso na sociedade e na economia seria necessário que abrisse mão desse poder discricionário que alimenta os seus mais convictos clientes e dependentes.

Baixar impostos? Nunca! Só se for a estrangeiros que queiram cá fixar residência. Esses já estavam isentos antes de vir para cá e se comprarem uma casa então irão pagar IMI, IMT, imposto de selo, e depois irão pagar IVA, ISP, IA, IVA sobre o IA e a restante lista que nunca conseguiria aqui transpor.

Se os impostos baixos são bons para estrangeiros, porque é que não são bons para os portugueses?

Este ponto constitui uma negação quase consentida no alinhamento ideológico do socialismo. É consentida desde que não faça a abertura dos telejornais. É como um arredondar de esquinas nos pilares da fé socialista. É uma forma criativa de alcançar um objectivo fingindo que não se está a cometer uma heresia. Eles não se atrevem a negar a fé na cartilha dos impostos altos, mas é como se tivessem descoberto um pequeno orifício nos compromissos assumidos, um orifício escondido, ou quase, por onde conseguem aumentar a receita fiscal sem ter de cometer a blasfémia que seria assumir que impostos baixos atraem riqueza.

É exactamente nesta altura da análise que faz sentido introduzir um tema musical, que mais não é do que uma metáfora da redução socialista de IRS destinada exclusivamente a estrangeiros que se mudem para cá.

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