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Delito de Opinião

Um ano difícil

Luís Naves, 31.12.15

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O próximo ano não será fácil para Portugal. No final de 2015, houve uma acumulação de tensões políticas como não se via desde os anos 80. Temos agora a bizarra situação de um partido de governo que perdeu as eleições, com apenas 32% dos votos, e que em certas votações cruciais para a credibilidade externa do país necessitará do apoio de um partido rival com mais deputados ou, alternando, do apoio de duas formações da esquerda radical. O PS vai governar de forma precária, toureando à vez, à esquerda e à direita, conforme o tema. As trapalhadas serão constantes, as surpresas inevitáveis, e nem o apoio automático de uma comunicação social desligada da realidade poderá esconder as sucessivas crises.

As promessas da esquerda ameaçam inverter o que foi conseguido na redução da despesa pública e nas contas externas. As incertezas políticas podem reflectir-se no crédito da república e esbanjar a rara oportunidade do petróleo barato e do financiamento a juros baixos. E, no entanto, é perfeitamente possível que a transição pantanosa dure mais de um ano, pois será punido nas urnas quem derrubar este governo minoritário antes que sejam visíveis os seus estragos.

As bolhas das elites políticas, empresariais, culturais e jornalísticas estão a rebentar, pondo fim às ilusões em que todos viveram. Os bancos serão comprados por bancos estrangeiros maiores e esse processo talvez já seja visível em 2016. Os jornais perdem leitores e abraçam a cultura da banalização do superficial. A economia é pouco competitiva, o desemprego elevadíssimo, as empresas precisam de capital e a credibilidade externa do país depende de decisões que não controlamos, tomadas por burocratas da Comissão ou do BCE e por tecnocratas anónimos das agências de notação.

Dentro de semanas, nas eleições presidenciais, o país terá de fazer uma escolha entre estabilização e agravamento da instabilidade, sendo mais provável a primeira opção, com a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta. Marcelo é o candidato que está em melhores condições de conseguir introduzir algum bom senso nesta complexa equação política.

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