Tudo pela Nação, nada contra a Nação
Tenho Fernando Leal da Costa por um fascista sanitário e como me lembro bem dessa peça por, desde os tempos em que poluía o governo Passos, ter escrito sobre ele vários artigos, fui ver ao meu arquivo quantos e quais foram. No último, em 27/09/21, já fora daquela época de excepção, explicava porque assim o considero. O artigo é extenso e chato, e toca ademais outros assuntos, pelo que respigo algumas frases:
“… fascista é todo aquele que vê com bons olhos o atropelo de direitos individuais em nome de um bem maior que arbitrariamente define”.
“… há quem entenda que todo o vício (exagero: não é todo, é apenas aquele que possa originar doenças ou achaques que o portador de tais opiniões não tenha) deve ser activamente combatido pelo Estado a golpes de proibições e sanções, em nome da sustentabilidade do SNS, que deve começar ‘a ser encarada como obrigação de cada um de nós”.
“Este conflito é novo: de um lado estão os amantes da liberdade e do outro os fascistas, enquanto dantes de um lado estavam fascistas de esquerda e do outro fascistas de direita”.
Fernando é tão fascista como os comunistas, mas mais perigoso do que estes, que estão acantonados na sua aldeia de cro-magnons, porque parece muito civilizado.
(Clarificando: A palavra “fascismo” é aqui usada não no seu sentido histórico mas nos precisos termos da definição que usei acima).
Pois este ser virtuosamente sádico volta à carga, desta vez a propósito dos abusos dementes que o Governo quer praticar a propósito do tabaco.
Começa por umas pilhérias sobre o tempo em que “andou pela saúde”. Ainda bem que tinha boa disposição, e não duvido nada que os subordinados lhe achassem graça quando iam todos comer a um “restaurante de bairro”, imagino que saladas, granola, tofu e alguma fruta normalizada, tudo empurrado a limonada.
A seguir faz um libelo contra o estado actual do SNS. Diz uma data de coisas pertinentes do ponto de vista da gestão pública, como é normal um socialista mais lúcido do que os que estão no Poder deles dizer. E conclui desta forma extraordinária:
O que se anuncia são medidas no sentido certo. A sustentabilidade do sistema de saúde depende, por demais, da promoção da saúde e prevenção da doença. Portugal tem, o que é bom, uma longevidade populacional com duração assinalável, enquanto carrega o ónus de ter uma duração de vida saudável, acima dos 60 anos, das piores da Europa, o que é péssimo. Esta é uma das maiores ameaças à sustentabilidade do sistema de saúde e não apenas do serviço nacional de saúde.
Devemos assumir, como outros países já fizeram, uma meta de tabagismo zero. As propostas de medidas são boas, mas ainda terão de ir mais longe. Deverão também considerar a proibição de fumar dentro de veículos, de uso público ou particular (há uma associação entre os condutores estarem a fumar e o risco de acidente, além de que não é aceitável que os passageiros, mesmo os futuros, sejam expostos a produtos que ficam alojados nos plásticos de revestimento). Será importante proibir que se fume em esplanadas, mesmo se abertas, parques públicos e praias.
No intervalo de alinhavar pesporrências, Leal tece um elogio frenético ao actual ministro e à ajudante Secretária de Estado para a Promoção da Saúde, aos quais diz:
Parabéns ao meu Colega Pizarro e à Senhora Secretária de Estado para a Promoção da Saúde – bem tirada esta designação – Dra. Margarida Tavares que não andará a dormir.
Segue com o desejável futuro controle de outros hábitos que acha daninhos, como o consumo de álcool, e conclui, triunfante:
Todos temos o direito à proteção da saúde e a obrigação de zelar por ela, tal como a Constituição dita.
Onde é que a Constituição dita que temos “obrigação de zelar pela saúde” realmente não descortino. Nem Leal, que é bem capaz de saber de medicina alguma coisa, e de polícia de costumes muito, mas de Direito entende zero.
Não vou honrar Leal da Costa com o rol de razões pelas quais os seus aplausos acéfalos são um chorrilho de tolices – não faltam por aí artigos enumerando os efeitos perversos destas prepotências que estão na forja e chamando a atenção para a evidência de todo o conjunto ser uma evidente manobra para distrair a opinião pública das escandalosas tropelias governamentais. Mas vou transcrever o que numa rede disse sobre esta governante com insónias que Leal admira, mal tomei conhecimento da respectiva expectoração a um jornal, falsificando para a circunstância o que realmente declarou:
Margarida Tavares, Secretária de Estado da Intrusão e dos Abusos Estaduais Sortidos, acrescentou que a liberdade não pode ser entendida como incluindo o direito das pessoas adoptarem comportamentos que prejudiquem a sua saúde, visto que é necessário, para a saúde do Estado Socialista, que os cidadãos cuidem obrigatoriamente da própria.
Não sei se e quando voltaremos a ter um Governo com um módico de decência e lucidez, mas é provável que seja encabeçado pelo PSD, partido que conta nas suas fileiras com não poucos socialistas. Mas este Leal no Governo por amor de Deus não, que acumula com o fascista que julga que não é.