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Delito de Opinião

Tudo o que o Lev levou

Patrícia Reis, 15.05.16

Fui ontem, sábado, às dez da manhã, de comboio em direcção ao Porto. Ao meu lado, Rui Tavares lia jornais e depois Claudio Margis, em jeito de preparação para uma mesa com o escritor. Vi a paisagem, li o Expresso de fio a pavio, o Público, a Sábado. Estava frio quando chegámos e a Teolinda Gersão congratulou-se com o casaco quente, eu feita parva limitei-me a imaginar o meu sobretudo, lá longe, no armário de casa. Almoçámos salmão grelhado e conversámos sobre coisas díspares. O Ricardo Araújo Pereira na Flip - incompreensível para alguém como eu -, a capa da visão com a Fernanda Cância e, agora é quase obrigatório, esta coisa de sermos habituais nos festivais literários. Não sou uma festivaleira convicta e nesta última década não estive em muitos festivais, facto que pelos vistos passa despercebido a algumas mentes iluminadas. É-me indiferente o que se diz, o que se publica na imprensa à laia de reportagem entristece-me, porém não é por isto escrevo. Ao fim de dez edições, o Lev, em Matosinhos, dá gosto. Porquê? Casa cheia, homens, mulheres, crianças, de idades diversas, pessoas que tiram um dia para ouvir autores a falar e, para mais, ainda têm perguntas. Regressei no comboio das 18h47 e vi a paisagem, li o resto do novo livro de Pepetela - se o passado não tivesse asas - e cheguei a Lisboa às 21h22. Sozinha, sem filhos ou marido nas imediações, apeteceu-me comer pipocas e fiz algo que não fazia há muito: fui ao cinema. Deram-me um bilhete que dizia fila J, lugar 17. Concluí que tal não existe, mas tudo bem, fiquei numa coxia vazia a ver o Money Monster, a perceber como tudo na televisão pode ser corrompido, virado do avesso, como a banalidade é triste e pouco edificante (Julia Roberts começa logo por dizer que ali não se faz jornalismo, o que seria). Saí antes da meia noite e não tinha ninguém com quem falar. Caminhei até casa e afaguei os cães, tomei banho, meti-me na cama com o computador e eis o ponto alto do meu dia: recebo uma mensagem que reza assim:

Vou ao Lev há já uns anos. Gostei de a ouvir. Gostei de perceber que há escritores sem merdas.

Fiquei a pensar nisso, na parvoíce da pergunta sobre a escrita feminina, na forma repentista como respondo e, por fim, na falta que me faz a grande Agustina, ela que disse tantas vezes que nada disto é para levar a sério.

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