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Delito de Opinião

Tudo baralhado outra vez

Luís Naves, 29.10.16

Vivemos numa época dominada pela ideia imprecisa de que ninguém controla os acontecimentos. As eleições americanas, onde a oligarquia parece ter perdido o pé, é um bom exemplo deste triunfo da imprevisibilidade. O caminho que parecia fácil para a vitória de Hillary Clinton transformou-se ontem num gigantesco ponto de interrogação. O anúncio de que o FBI investiga novos e-mails do servidor particular que a candidata manteve enquanto secretária de Estado fez cair a bolsa de Nova Iorque e desencadeou um clima de pânico entre as elites políticas. A nove dias das eleições presidenciais, a democracia americana mergulhou de novo na irrealidade. Já não bastavam os sinais de chapelada eleitoral, a retórica delirante, a argumentação absurda, as manipulações mediáticas; na recta final da corrida surge um escândalo que ameaça mudar a opção de muitos americanos que iam votar de forma relutante na candidata e agora talvez não lhe concedam o benefício da dúvida.

Ninguém em seu perfeito juízo pode dizer como é que isto acaba, uma coisa é certa: seja quem for o vencedor das eleições, sabemos que o próximo presidente dos EUA será uma criatura detestada por mais de metade do país, talvez o mais isolado presidente da história americana, com grandes hipóteses de nem sequer concluir o primeiro mandato. A insurreição eleitoral que Trump cavalgou é mais funda do que parece, tem a ver com um poderoso descontentamento em relação às elites, mas não ultrapassa um terço da população. Se vencesse por causa da abstenção, Trump teria a hostilidade dos outros dois terços da América. Em condições normais, os democratas deviam ganhar com facilidade, mas foi escolhida uma candidata com demasiados esqueletos no armário, que defraudou eleitores entusiasmados com a rebelião populista de Bernie Sanders. Se sobreviver aos próximos dias, Clinton terá a presidência, mas sem direito a estado de graça, pois é perseguida por escândalos e já perdeu de vez a benevolência dos compatriotas.

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