Tsipras? We don't know him
«La politique c'est, avant tout, l'interprétation des réalités.»
Charles de Gaulle (1958)
«Cometi erros... grande erros.» Numa notável entrevista ao Guardian, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras - outrora «the global pinup of the far-left anti-establishment movement», para usar a saborosa expressão do jornal britânico - faz várias confissões. Estava impreparado ao assumir o poder, em Janeiro de 2015, não soube escolher as pessoas certas, foi confrontado com um panorama ainda mais sombrio do que esperava.
Hoje, com o seu país a registar tímidos progressos na frente económica, o antigo radical de esquerda não hesita em reconhecer que foi correcta a decisão de manter os compromissos assumidos pelo Estado grego perante as instituições políticas de Bruxelas e os pilares financeiros da eurozona - contrariando o que algumas vozes líricas apregoavam então e ainda apregoam por cá. E questiona, acertadamente: «Se abandonássemos a Europa íamos para onde? Para outra galáxia?»
De campeão da retórica anti-austeridade a gestor das mais severas medidas austeritárias de que há memória na Grécia: eis um governante que chegou a contar com uma ruidosa legião de adeptos lusitanos mas nunca mais voltou a ser mencionado nos círculos políticos e mediáticos em Portugal. Há um par de anos, muitos queriam fazer-se fotografar com ele. Hoje apagaram essas fotografias, eventualmente comprometedoras. «As coisas são o que são», costumava dizer o general de Gaulle: nada como a dura realidade para destronar os mitos.