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Delito de Opinião

Trump e Hitler?

jpt, 09.01.21

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Há um mês, durante a campanha publicitária do seu novo livro, o jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos falou com leviandade sobre a "Solução Final" nazi, o extermínio dos judeus (e ciganos, etc.). Gerou-se um coro indignado - ver por exemplo o artigo de Irene Flunser Pimentel; e as respostas de JRS às críticas recebidas (também eu botei sobre o assunto) - com aquela leveza, a medíocre incapacidade de perceber a especificidade de Hitler e seus milhões de sequazes, a sua "normalização" que JRS assim promovia. 

Leio agora, pois basto partilhado nas redes sociais, um texto do renomado sociólogo Boaventura Sousa Santos, "maître à penser" de vastos feixes da intelectualidade portuguesa: "Trump não tomará cianeto". Que surge imensamente mais leviano, indo muitíssimo mais longe nessa "normalização" do nazismo, na sua "banalização". No artigo vem o habitual (no autor) ditirambo contra os EUA, e para isso ali se compara - em retórica de "analogia" - Hitler e Trump, Himmler e Pence, os passos ocorridos no final do regime nazi com este final da presidência americana.

Nem vale a pena comentar o conteúdo. Mas é interessante, pois relevante, notar o silêncio crítico que uma "coisa" destas colhe. Tantos contestaram José Rodrigues dos Santos e todos se calam diante de algo muitíssimo mais intenso nesta "naturalização" do nazismo. Um silêncio que é muito significativo deste "pensamento crítico" em voga: há quem não possa espirrar que logo é apupado. E há quem diga as atoardas que quer, que logo é louvado (e "partilhado"). Chama-se a este seguidismo apatetado "epistemicídio". Pois trata-se do genocídio da análise crítica.

Adenda: A ligação entre EUA e a Alemanha nazi é um tópico nos escritos de Sousa Santos. Veja-se este texto de 2019: "Os EUA flertam com o direito názi" (sic).

Já agora, e porque este vem a talho de foice, não deixa de ser notável que o consagrado académico escreve sobre este "flertar" (de novo, sic) entre EUA e o nazismo a propósito das invenções de "inimigos internos" e não surja agora no mesmo molde a associar António Costa ao nazismo - pois também este cultor da imagem do "inimigo interno", assim tratando os sociais-democratas que lhe são críticos. É notável mas não surpreendente ...

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