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Delito de Opinião

Trump

José Meireles Graça, 22.01.21

Anteontem, Belzebu deixou Washington e entrou o Arcanjo Gabriel, com hino de Lady Gaga, sob comedido aplauso local e entusiástico entre nós. Excepto pelo amor do cozido à portuguesa, sinto-me muito pouco irmanado com a maior parte dos meus concidadãos. Por isso, tencionava deixar consignada neste canto a minha opinião, que naturalmente respeito. Mas calhou ler um texto que apreciei e que por isso, a benefício dos leitores que não sabem inglês, traduzi. O autor chama-se John Hinderaker, e são dele portanto os méritos da opinião; e as deficiências da tradução minhas.

TRUMP LUTOU CONTRA O PÂNTANO, E O PÂNTANO GANHOU

 

Donald Trump foi facilmente, na minha opinião, o nosso melhor presidente desde Ronald Reagan. As suas realizações são impressivas: as leis sobre Cortes nos Impostos e do Trabalho, o maior esforço de desregulamentação desde sempre, a melhoria dos acordos de comércio, a baixa recorde do desemprego, o aumento substancial pela primeira vez em décadas dos salários para as famílias operárias e da classe média, o encorajar do desenvolvimento dos recursos de petróleo e gás, o recuo do politicamente correcto e da teoria crítica do racismo das instituições, etc. E, no fim, a Operação Alta Velocidade, baixando as barreiras regulamentares para acelerar o desenvolvimento de vacinas contra a Covid em tempo recorde.

O registo da política externa de Trump é igualmente impressivo: enfrentando tanto a China como a Rússia, revigorando a OTAN, destruindo o ISIS, tratando Israel como um aliado e não como um pária, e dando largos passos a caminho da paz no Médio Oriente. Tudo enquanto evitava com sucesso operações militares no exterior.

As realizações de Trump são ainda mais notáveis tendo em conta a incansável hostilidade e obstrucionismo a que foi sujeito desde o dia em que tomou posse. A peça de resistência foi, claro, a aldrabice do conluio com a Rússia, paga pela campanha de Hillary Clinton, adoptada pelo FBI e outras agências governamentais, e institucionalizada sob a forma de um procurador especial. Nunca nenhum presidente foi sujeito a nada de parecido, muito menos com bases tão ténues.

Mas isto não foi tudo: Além da aldrabice – acolitada, deve-se notar, pela comoção ucraniana e as destituições de ópera-cómica – Trump defrontou-se não apenas com oposição, mas ódio não-stop da imprensa, Grandes Tecnológicas e grandes empresas em geral, a Academia, Hollywood e o resto da indústria do entretenimento, as escolas públicas, a quase totalidade da burocracia federal (incluindo a porta giratória do burocrata/”perito”), o lobby chinês, em suma, o resto do Pântano.

Por que teve sucesso Trump tantas vezes, enfrentando tão incansável, e muitas vezes enlouquecida, oposição? Porque representava o povo americano, e as suas políticas faziam sentido. Quando Trump disse “América primeiro”, o mundo oficial desmaiou de horror. Mas, por outro lado, a maior parte das pessoas pensa que isso é a descrição da função de presidente. É um sinal dos tempos que o compromisso de um candidato presidencial de defender o povo americano, e promover os interesses da América, fosse visto por muitos como radical.

E todavia, no fim o Pântano ganhou. Há para isso, penso, duas razões. A primeira é o vírus de Wuhan. Para os Democratas, era um maná dos céus – más notícias, quando durante anos tinham sido esmagadoramente boas. A doença apresentava oportunidades sem fim para demagogia, e os Democratas aproveitaram-nas todas. No fundamental, a Covid, ou os confinamentos resultantes, privaram Trump da capacidade de concorrer com o programa de maior sucesso para todas as reeleições: paz e prosperidade.

A segunda razão tem a ver com a personalidade de Trump. Como um herói da tragédia clássica, foi derrubado em boa parte pelos seus próprios defeitos de carácter. Está muito bem dizer que Trump era um lutador e que nunca poderia chegar onde chegou se não estivesse disposto a combater a imprensa e, para repetir, os Democratas. Mas cometeu demasiados erros, e a sua combatividade impressionou demasiados eleitores como beligerância e egomania. Foi o que, no fim, o afundou.

O contraste com Reagan é instrutivo, acho. Como Trump, Reagan era detestado pelos Democratas e a maior parte do mundo oficial. Até que Trump chegou, julgava que nunca veria outro presidente sujeito a um ódio tão incessante. Também como Trump, as políticas do primeiro mandato de Reagan foram altamente bem-sucedidas. Para ser justo, os sucessos de Reagan foram argumentavelmente mais espectaculares, uma vez que começou com o país num buraco mais fundo no que toca à economia e política externa. E Reagan não teve de se defrontar com uma epidemia que descarrilou o crescimento económico.

Mesmo assim: quando Reagan se recandidatou em 1984, ganhou com uma das maiores viragens da história, vencendo em 49 estados. Os Democratas chamavam a Reagan “o presidente Teflon”, a maneira deles se queixarem de os seus ataques não pegarem. De facto, falharam espectacularmente. Uma grande parte da razão era o feitio de Reagan. A sua equanimidade nunca falhava. A sua patente razoabilidade envergonhava os ataques histéricos dos Democratas. Era evidente para a maior parte dos eleitores que ele era simplesmente melhor homem, e mais sintonizado com os seus valores, do que os dos que o queriam atirar abaixo. No fim, vulneráveis como estavam os Democratas o ano passado, e por pouco atraentes que fossem os seus candidatos, a maior parte dos eleitores não tiraram a mesma conclusão a respeito de Donald Trump.

Assim, para resumir, dou a Trump um B+. Fez um excelente trabalho para o povo americano, cumpriu as suas promessas num grau notável, tendo em conta uma completa falta de cooperação dos seus rivais políticos. Mas no fim o Pântano ganhou, e Trump carrega alguma da responsabilidade pela sua própria queda.

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