Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Trocar Marx por Astérix

Pedro Correia, 19.09.16

 

g09b[1].gif

 

Nunca a extrema-direita esteve tão próxima de ganhar eleições decisivas em França – incluindo a eleição presidencial. Mas, apesar disso, também nunca a Frente Nacional francesa beneficiou de um silêncio tão complacente de uma parte da esquerda europeia, sem excluir a portuguesa, que prefere virar baterias contra o actual primeiro-ministro Manuel Valls, um reformista moderado. O mesmo silêncio resignado que em Janeiro de 2015 acolheu a formação da coligação governamental em Atenas entre o Syriza e o partido xenófobo Gregos Independentes, da direita musculada.

Marine Le Pen, líder da FN, beneficia desta tolerância de sectores situados à esquerda do PS – e até de algumas franjas socialistas – por confluir com elas no discurso eurofóbico, na retórica anticapitalista, na declarada simpatia pela Rússia de Putin, na hostilidade à NATO, no apego ao Estado como motor da economia. Une-os o combate à democracia liberal, o culto do proteccionismo económico e o ódio aos Estados Unidos.

Esta esquerda, que sempre foi internacionalista, abraça hoje fervorosamente o nacionalismo e marcha sem pudor de braço dado com a direita extremista no combate à globalização. Outrora sonhava edificar o socialismo à escala universal. Agora, pelo contrário, sonha com um Ocidente entrincheirado em fronteiras inexpugnáveis. Com cada nação transformada numa aldeia gaulesa de banda desenhada, nutrida pela poção mágica de Moscovo.

Trocou Marx por Astérix. Marine – loira como o herói de Uderzo e Goscinny – sorri e agradece. O Eliseu já se vislumbra ao virar da esquina.

16 comentários

Comentar post