Três cartazes à beira da estrada.
É estranho que esteja a passar despercebido um dos melhores filmes que já vi nos últimos tempos: "Três cartazes à beira da estrada" (no original Three billboards ouside Ebbing, Missouri). O filme consta a história de uma mãe desesperada, perante a ausência de resposta da polícia local depois de uma brutal violação e assassínio da sua filha, e que resolve demonstrar o seu desespero, colocando uma simples mensagem publicitária numa estrada onde ninguém passa. A mensagem é simples, mas só o facto de ser colocada constitui um desafio à autoridade, que leva a que quase toda a gente em Ebbing, Missouri, passe a perseguir essa mãe, em lugar de perseguir os criminosos. Mas ela não desiste da sua obstinação, resistindo ao ódio da polícia, dos vizinhos e de todos os que lhe peçam que esqueça o assunto. Frances Mcdormand tem aqui a melhor interpretação da sua carreira, mostrando-nos uma mulher terna, mas ao mesmo com uma força extraordinária, que ninguém consegue submeter.
O filme poderia ser apenas mais um daqueles típicos filmes americanos, a apelar ao vigilantismo perante a ineficiência das autoridades. Mas é muito mais do que isso. É o retrato de uma América profunda onde ninguém é perfeito, nem sequer a heroína do filme, e onde se descobre que os membros de uma polícia violenta, racista e homofóbica são afinal apenas seres humanos, também com os seus dramas pessoais, e que são igualmente capazes de gestos sublimes. Mas também nos mostra como o drama de uma família, após um crime violento, é para o Estado burocrático apenas o dossier de um processo até aparecer um cartaz (neste caso três) que, só por fazer uma simples pergunta, vira toda uma comunidade do avesso. Neste ano em que em Portugal tivemos tantos mortos pelos incêndios, e também continuamos a ter tantos crimes de violência contra as mulheres, é bom que o nosso Estado saiba sempre dar às vítimas a adequada resposta.