Trecho para um livro que nunca vou escrever
Adormeceste a meio do filme iraniano que tinha uns miúdos que queriam formar uma banda. Hesitei em acordar-te e acabei por te tapar com uma manta aos quadrados. Tinhas os pés frios mas cabias na longitude do sofá.
Perdeste uma boa parte do filme. Não estavas em estado de decifrar uma língua ininteligível. A história fica lá, para a veres noutro dia, para saberes como acaba.
Deixei-te com um beijo na testa a acompanhar um afago no cabelo, que estás a precisar de cortar. Sei que mesmo a dormir pressentes os meus gestos de ternura.
Amanhã, se estiveres assim cansado, faço-te um chá. Para adormeceres antes de o filme começar.