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Delito de Opinião

Trabalho juvenil

Paulo Sousa, 18.06.21

O aumento da escolaridade obrigatória, que na essência e na intenção é uma medida positiva, acabou por inviabilizar o trabalho juvenil durante as férias escolares.

Este tipo de trabalho foi durante muitos anos, e noutras paragens continua a ser, a forma de fazer um pé-de-meia para uma compra acima dos limites da mesada ou até como recurso de apoio às finanças familiares.

O benefício desta prática legalmente extinta, alargava-se também às empresas, que conseguiam assim colmatar os normais transtornos que as férias de empregados causam às  suas rotinas.

Mas para além deste efeito positivo para as finanças pessoais e para a rotina das empresas existia um outro, que se prendia com a familiarização dos jovens com o mundo do trabalho, com as suas rotinas e horários, aborrecimentos, relações laborais, conquistas e desilusões. De acordo com o sector da actividade podia existir atendimento ao público, a repetição de uma linha de montagem, o enfoque de um processo ou até dor/satisfação pela (in)justiça da decisão de um patrão ou da reacção de um cliente. Além de que um trabalho aborrecido e repetitivo, que não exija qualificações, pode ser um excelente estímulo para motivar quem anda a estudar. Esse será outro benefício intangível de uma experiência desta natureza.

Lembro-me de um primo mais velho, que se formou em gestão e que hoje trabalha numa empresa financeira, pregar paletes à mão nos tempos livres. Os miúdos da mesma idade invejavam-lhe a sorte a que só tinha acesso pelo facto do seu avô ter sido encarregado da fábrica que lhe encomendava esse serviço. Outro destino habitual por aqui eram as cerâmicas de construção (telha e tijolo) assim como as faianças de loiça. Os mais afortunados chegavam a conduzir empilhadores. Algumas famílias vizinhas tinham em casa uma máquina manual de armar as molas da roupa que eram distribuídas dentro do detergente Juá. Eu atendi ao público na loja de onde a minha família tirava o sustento.

Nos dias de hoje, qualquer coisa desta natureza incorreria numa infinidade de multas por violações de regras e de obrigações fiscais.

Os jovens de hoje ficam assim privados de uma perspectiva do que é exigido aos adultos, do esforço que os seus pais fazem para governar a casa e sobra-lhes por isso mais tempo para, em linha, se isolarem dentro de um mundo virtual, desligando-se dos estímulos que afectam diariamente os mais velhos.

Termino sublinhando a ideia transmitida pelo título, pelo que não me estou a referir a trabalho adolescente e muito menos infantil.

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