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Delito de Opinião

Ter «Estaline na alma»

Pedro Correia, 08.06.22

 

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Ursula Le Guin, escritora com legião de admiradores entre nós apesar de ter sido quase sempre ignorada ou tratada com desprezo pelos nossos meios intelectuais, cunhou uma expressão de que me tenho lembrado por estes dias: «Estaline na alma».

Magnífica e terrífica expressão, de óbvia inspiração orwelliana, que tão bem define aqueles que neste recanto ocidental da Europa entoam loas a Putin, nascido na Rússia estalinista. Ou que só abrem a boca para culpar os ucranianos de estarem a ser agredidos, vilipendiados, violentados e mortos na sua própria terra. 

A culpa da violação, para esta gente, não é do Estado violador: é da própria nação violada. Gente como Jerónimo de Sousa, que funciona como serventuário de Moscovo exigindo ao Governo o fim das sanções à Rússia. Ou o ex-deputado comunista Miguel Tiago, que nega a existência do genocídio promovido pela URSS na Ucrânia há 90 anos. Ou o major-general Carlos Branco, que insiste em culpar Kiev pela agressão russa. Ou o major-general Raul Cunha, que celebra a «libertação» de Mariúpol reduzida a ruínas. Ou José Goulão, antigo comentador de assuntos internacionais da TSF, que vomita ódio contra Zelenski, símbolo máximo da resistência ucraniana ao invasor.

Transportam Estaline na alma. E parecem orgulhar-se disso.

 

ADENDA. Mais do mesmo: TV estatal russa ameaça NATO com «grande ataque nuclear». A culpa é da Ucrânia, claro.