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Delito de Opinião

Temos de parar com isto

Rui Rocha, 19.02.14

Meu Deus, como eram jovens. A vida desafiava-os. Inteirinha à sua frente. O corpo são e saudável a mente. Tinham sonhos e claridade. O azul puríssimo pintado por Andrade. E almejavam. Com aquela alma enorme, transparente, extensa, que parecia jamais  poder ser tão pesada e densa como sabemos que mais cedo do que tarde a todos se nos tornará. E almejavam. A frescura das fontes. O requebro ondulado de campos e montes. Ventanias, chilreios, pássaros em fuga, cores, vertigem e velocidade. Tudo era ainda possível. Promessas, opções, possibilidades. Este, por exemplo, se o tivéssemos deixado seguir o caminho glorioso que o destino lhe preparava, poderia ter sido um transitário com razoável sucesso. Um profissional experiente no manuseamento de papelada e processos de desalfandegamento. Ou um técnico de higiene e segurança de competência mediana na Lisnave. Mas não. Permitimos que se inscrevesse numa Jota e foi o que temos visto. Num dia, diz que quer uma saída limpa do programa de ajustamento. No mês seguinte, clama contra a hipótese de saída limpa do programa de ajustamento. Antes, tinha sonhado com um tribunal para investidores estrangeiros. De uma maneira ou de outra, já sabemos, acabam sempre a ver coisas. Ontem afirmou, perante uma plateia de gente séria e insuspeita que teve de torturar os dedos mindinhos para não rebolar a rir, que quem olha do Canal do Panamá vê Sines. Temos de acabar com isto. Temos de impedi-los de passarem ao largo de todo o futuro que lhes cabe. E quem diz António, diz Pedro. Que poderia ter sido um especialista na problemática do esvaziamento de lagares de azeite. Ou em programas de formação em pára-quedismo para pombos. Não podemos levar o nosso egoísmo ao ponto de permitir que se desviem do seu caminho só para nos divertirem com as suas peripécias rocambolescas, os seus números de pobres palhaços pobres, as frases cheias do ar e do vento que lhes preenche o espaço que medeia entre as orelhas. É imperioso que mais nenhum jovem deste calibre veja o seu destino frondoso perder-se só porque lhe é permitido ingressar numa Jota. É urgente estabelecer proibições. A bem de todos, e dos próprios antes de mais, é preciso protegê-los dos efeitos de uma carreira política. Da mesma forma que se interdita, por nociva, a venda de tabaco a menores de certa idade.

2 comentários

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    Rui Rocha 22.02.2014

    Em total sintonia, AM.
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