Tavares Moreira
Há muito tempo, fiz uma aposta com ele, no Quarta República, a um jantar, que o euro se desfaria no prazo de 10 anos. Ele ganhou, constato hoje melancolicamente, e não paguei. Discutimos um pouco sobre a bebida, que eu queria que fosse champanhe mas ele achava que devia ser espumante. Achei estranho, à época, que tivesse dito expressamente que a obrigação resultante da aposta era natural, isto é, não era exigível legalmente mas quem pagasse o faria mesmo assim em cumprimento dela.
Isto não era conversa de economista, e só hoje percebi que também tinha o curso de Direito, isto é, entendia raciocínios com muitas variáveis.
Numa campanha eleitoral, foi fazer uma visita à fabriqueta que eu então dirigia, em Guimarães, e encarou com bonomia e boa disposição os disparates com os quais lhe torrei a paciência.
Creio que foi vítima da anedota triste que entre nós circula com a lisonjeira designação de Justiça, e lembro-me de lhe ter deixado de ouvir a voz no espaço público por, entre nós, os acusados por crimes de colarinho branco terem direito a ser assados em lume brando, mas não a ser condenados ou absolvidos.
Requiescat in pace.