Talvez seja o provincianismo e o atraso
Por todo o lado, sobre os assuntos mais corriqueiros, é possível observar a tendência para o pensamento mágico e para a reflexão de sacristia. Repetem-se ideias feitas e recitam-se argumentos moles. Nas redes sociais, ninguém quer destoar das boas intenções, o que não teria mal algum, se não fosse a imposição de uma mentalidade dogmática, quase feroz, que não tolera o mínimo desvio da ortodoxia. Se calhar, Portugal nunca deixou de ter uma sociedade incapaz de suportar a dissidência, o espírito inconformado e a percepção inquieta, tal como é visível nos velhos romances de Camilo, onde as personagens muitas vezes esbarram com hipócritas, pregadores de banalidades ou estreitas visões fradescas. Não tenho boas explicações para a intolerância intelectual portuguesa: talvez seja o nosso provincianismo, o atraso, o pouco hábito que temos de pensar pela nossa cabeça, ou antes, o desincentivo que existe para que cada um pense pela sua cabeça, pois que a independência é sempre olhada com desconfiança, quando não é recebida com hostilidade.