Talvez seja melhor refrear o entusiasmo
Com espanto, vejo à minha volta aqui por Lisboa vários devotos de Donald Trump seguirem com maior fervor a pré-campanha presidencial nos EUA do que alguma vez terão acompanhado uma campanha qualquer em Portugal.
Talvez isto seja sintoma de que somos já irremediavelmente colonizados pelos norte-americanos. Não apenas do ponto de vista cultural, mas do ponto de vista político. E nem falta até quem gostasse de ver transposto para este nosso cantinho ocidental da Europa o sistema eleitoral lá dos States.
Lamento, mas estou no campo oposto. Detestaria ver por cá uma lei eleitoral capaz de permitir a eleição para a Casa Branca de alguém que recolheu menos meio milhão de votos do que o rival (aconteceu com George W. Bush em 2000, contra Al Gore) ou até menos três milhões de votos (aconteceu com Trump em 2016, contra Hillary Clinton).
Entretanto, a esses meus amigos que andam tão entusiasmados com Trump ao ponto de jurarem que será «ainda mais fácil derrotar Kamala Harris do que Joe Biden», gostaria só de lhes lembrar o seguinte: dos 18 presidentes norte-americanos do século XX, sete foram vice-presidentes.
Eis os seus nomes:
Theodore Roosevelt
Calvin Coolidge
Harry Truman
Lyndon Johnson
Richard Nixon
Gerald Ford
George Bush.
Cinco republicanos, dois democratas. Equivalem a 38% do total.
Durante um século. Em número suficiente para desenhar uma tendência.
Quem pensar que é irrelevante, estará muito enganado.
Eis um tema que motivará certamente dezenas de textos no DELITO DE OPINIÃO nos próximos três meses. Ainda a procissão mal chegou ao adro.