Talks talk
Nos últimos meses, muito se tem falado de dinheiro. Do nosso dinheiro que é sempre curto para fazer face às despesas, do dinheiro que se gasta e se não tem, dos valores rídiculos pagos em indemnizações burlescas, dos prémios em pecúlio atribuídos aos vencedores e nas fortunas ainda maiores, com que ímpios do Oriente aliciaram derrotados e pelas quais, diz quem sabe (e por cá sabe-se muito), aqueles venderam a alma. Muito dinheiro. Valores pornográficos, falam as gentes sobre o mar de dinheiro que tem estado em alta, mas apenas nos noticiários e nas redes sociais.
Esta semana as notícias escandalosas chegam-nos da Altice Arena e das conversas motivacionais que por lá têm lugar, subordinadas ao tema "Como deixar de ser pobrezinho rapidamente".
Nós, os habitantes desta terra quase insular, somos pequenos e mesquinhos. Invejamos sempre o quintal do vizinho porque é mais verde e florido. Os nossos únicos vizinhos são os espanhóis, pelo que nem jeito temos para invejar com rigor. Somos sim mestres a apontar dedos, mas curiosamente acabamos por ser maus apontadores. Identificamos a fonte de todos os males, passamos anos a apontar-lhes o dedo e acabamos por premiá-los com o duplo zero, 00 como nos filmes de Bond. Damos-lhes toda a licença para liquidar o que ainda resta do acervo do país, se é que realmente algum valor ainda sobeja.
Voltando ao Parque nas Nações, no antigo Pavilhão Atlântico (um nome augusto, muito mais imponente do que a ridicularia que alude a façanhas tauromáquicas), com casa cheia, num belo sábado de Janeiro, pela modesta quantia de 19,00€, o povo foi ouvir a filosofia de uma das maiores oradoras nacionais e aprender "Como deixar de ser pobrezinho rapidamente". Pessoalmente, palestras motivacionais dizem-me rigorosamente zero. Não tentam sequer incutir valores e defendem apenas a força de vontade para vencer na vida com subtil inferência às máximas do caro Niccolo, persuadindo os ouvintes de que de tudo serão capazes, basta querer. E pelo visto muitos há que querem, ou não estariam quase dez mil pessoas naquela espécie de culto em alucinação colectiva. Não me compete julgar, apenas opino, porque em democracia tenho esse direito e porque desta vez a moral da história se resumiu a um par de calcantes de sola vermelha.
Vá la saber-se porquê, tudo isto me transporta aos anos oitenta, àquelas bandas de música ruidosa e de batida imutável, que não dizem grande coisa e que com um único hit tentam explorar ao máximo um filão de pirita. Tolos... são os outros.
(Imagens e Vídeo Google e YouTube)